30 de agosto de 2021

Tempo de Leitura: 3 minutos

Por Luciana Xavier

Psicóloga, neuropsicóloga, especialista em autismo e ABA, integrante do conselho de profissionais da Onda-Autismo, Instagram @neuropsicolux 

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Sabemos que entre as pessoas autistas, principalmente os jovens e os adultos, em palavra ou pensamento, o assunto suicídio já fez parte em dado momento. Outro dado importante e assustador é que o suicídio é geralmente o fator que mais causa mortes entre os autistas.

Mas por que isso acontece?

Todos nós sofremos pela ânsia de pertencimento, pela ânsia de sermos felizes, ou ainda plenos, bem-sucedidos e bem-resolvidos. Essa ânsia de pertencer, de fazer parte, de ser aceito e validado, pode e geralmente é muito sofrida entre os autistas leves, pois de leve nos referimos apenas a forma de apresentação, e pouca necessidade de suporte, mas não nos referimos aos enfrentamentos, às dificuldades e aos desafios que passam ao longo da vida, pois a sociedade, a escola, o mercado de trabalho emitem exigências típicas, e, na verdade, mesmo sendo de grau leve, seu funcionamento é atípico, sua óbvia, suas dificuldades, angústias e suas maneiras de se relacionar e de atuar no meio são atípicas. Essa então é a chave, é o começo do novelo, não atender às exigências, ser diferente, se esforçar para atender, lidar com frustrações e até mesmo rejeições e exclusão.

Essas dores, seja de esforço muito grande ou mesmo do sofrimento causado pela não aceitação, são dores profundas, deixam muitas marcas, o sofrimento funciona como um líquido que é depositado num grande copo, todos os dias, gota a gota, até o momento em que o copo não dá mais conta, ele está cheio, então abre espaço assim para o desespero, a desesperança, a exaustão e a falta de saída, ou seja viver tornou-se um fardo, um peso, que não tem fim.

Espera aí, como assim não tem fim? A morte é um fim! Pois bem, porém não controlo seu momento, não escolho, ou escolho?

Estão assim abertos os pensamentos ou como chamamos a ideação suicida. Como já é sabido, entre a maioria dos autistas, existe também o fator hiperfoco, então juntamos uma ideia que aliviará, com seu hiperfoco. Essa ideia se torna então o centro de suas atenções e começa a ser vista como a única solução.

Quando falamos em suicídio dentro do espectro autista, devemos nos atentar também para um número que vem crescendo assustadoramente. O suicídio entre os cuidadores, sim os cuidadores, potencialmente as mães de autistas de graus entre moderados e severos, vem sendo frequentemente noticiado. Mas ao que esse fato se deve? Praticamente o mesmo: descrença, exaustão, solidão, dores emocionais, que podemos chamar de sofrimento intenso, sem uma visão positiva do futuro, muitas vezes ao contrário: “Vou envelhecer, morrer e não poderei cuidar do meu filho… melhor resolvermos isso já.”

O suicídio sempre está relacionado ao sofrimento e à exaustão extrema, à visão negativista e desacreditada de um futuro melhor.

O suicídio entre os autistas relaciona-se à sua forma de agir, pensar, sua forma de ver o mundo, seus interesses e as dificuldades nas habilidades sociais, muitas vezes ou melhor frequentemente motivos de angústia, tristeza excessiva, autoimagem claramente desvalorizada, que leva a total desesperança.

Assim, fica claro que o assunto é atual, importante e impactante, já que estamos falando de uma atitude irreversível; portanto, a saída é sempre: prevenção, prevenir, informar e acolher, preparar o autista para esse enfrentamento e, por outro lado, informar e preparar a sociedade para esse acolhimento, respeitando, valorizando e fazendo uso produtivo das diferenças que existem na humanidade. Somos todos neurodiversos, somos cérebros únicos, frutos de histórias únicas, de culturas e tempos diferentes. O caminho é pensar sobre essa neurodiversidade e sobre a inclusão verdadeira.

Referências

Bosa, C; Teixeira, M.C. Autismo: avaliação psicológica e neuropsicológica: 2. Ed. São Paulo: Hogrefe, 2017.

Rogers,S; Dawson G. Intervenção precoce em crianças com autismo. 1. Ed. Lisboa: Lidel, 2014.

Rogers, S; Dawson G.; Vismara L. Autismo Compreender e agir em família. 1. Ed. Lisboa Lidel, 2015.

Kwant, Fatima de. Autismo leve e suicídio. Autimates.com, 2018. Acesso em 18.dez.2019.

Casimiro, Alice. Autismo e suicídio: quando o leve não é tão leve. A Menina Neurodiversa, 2019. Acesso em 6.jan.2020.

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