1 de setembro de 2020

Tempo de Leitura: 2 minutos

Essa pandemia nos mostrou o quanto somos vulneráveis, desencadeando um saudável receio em todos. Normal, sabe-se muito pouco sobre o vírus e a doença que ele causa. Mas, para além desse medo comum a todos, nós que privamos com pessoas dentro do espectro temos outros medos, profundos, que só nós mesmos sabemos quão difíceis são.A saber: ficamos apavorados, meu marido e eu, só em pensar numa eventual internação do Pedro. Meu filho tem 29 anos, é autista clássico, não verbal. Imaginem o que poderia acontecer, ele sozinho, passando mal, em local estranho, com pessoas estranhas. Vim a saber que existe uma legislação que assegura a presença de acompanhante para nossos filhos. Acredito “até por ali”, afinal estamos no Brasil. Por via das dúvidas, meu marido imprimiu um esquema, com todos os dados e informações sobre como proceder com o Pedro, de forma que ele coopere o máximo possível. 

Outro medo “daqueles” foi encarar a quebra completa da rotina. Nossa! Da noite para o dia tudo o que era certeza deixou de existir. Se, para nós, os pais, essa interrupção causa grande estranheza, imagine para nossos filhos! Nesse quesito, reconheço, tenho uma certa sorte, pois meu filho é adulto e já trabalhou muito sua tolerância e resiliência ao longo destes vários anos em que o inesperado sempre dava o ar da graça. Solidarizo-me com todos os pais e cuidadores de crianças. É dificílimo administrar esse tipo de situação com crianças. Além das dificuldades inerentes, existe o fato de ninguém saber até quando esse estado de coisas vai durar… E vamos inventando estratégias, inventando moda, e tentando driblar as crises. Estresse e cansaço são companheiros fiéis. Dias tumultuados e noites mal dormidas. Exaustivo.

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Confesso que fiquei muito apreensiva, sem saber bem o que fazer. Como já era de se esperar, meu rapaz acabou me surpreendendo! Não estamos num mar de rosas, Pedro está um pouco instável, emocionalmente carente, é compreensível. Fizemos pequenas alterações na dinâmica da casa, e vamos sobrevivendo. No entanto, o que mais me encantou foi que, com essas horas todas tão próximos, com os trabalhos de casa e com a necessidade de ocupar meu filho, percebi que ele vem se tornando um ajudante de primeira mão! E o que é mais importante, tem se mostrado bem determinado, tomando a iniciativa de várias pequenas tarefas. Não vou dizer que essa pandemia é boa, mas, como em tudo, encontramos um lado positivo!

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É casada e mãe de dois filhos, sendo o mais moço autista severo. Formou-se em odontologia, exerceu a profissão até 2006, quando decidiu dedicar-se integralmente ao filho.

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