9 de novembro de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Sim, segunda década do segundo milênio e ainda estamos atrás de culpados para o ‘tratamento que não deu certo’.

Falamos de ‘dar voz’ – digo e repito, ninguém dá voz a ninguém, podemos ouvir ou não; de empatia, neurodiversidade e bum: “qual é a causa número 1 de um tratamento não dar certo?”

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Quem mistura a palavra neurodiversidade com tratamento e com não deu certo?

Pois é. Aplausos. “Boa tarde”, como diria um tiktoker irônico.

Inúmeros profissionais aplaudindo a resposta que o próprio autor da pergunta deu: a família.

Num flash revi todos os depoimentos de familiares de autistas adultos da roda do TEAMM e meu ímpeto foi me retirar. Mas, levantei a mão, queria perguntar, ter certeza de que ouvi corretamente e de que interpretei o contexto da fala corretamente. Não consegui, logo o frenesi do veredicto de que há culpados – e de que não sou eu que sigo o protocolo; tomou conta das pessoas e tudo virou euforia.

Essa fala e os aplausos ainda assombram meu silêncio depois de semanas.

Como queremos combater o capacitismo, o preconceito a falta de acessibilidade se profissionais ainda pensam assim?

Kanner se retratou, Bettelheim se retratou, Dolto se retratou e ninguém ouviu? Décadas tentando apagar o estigma de ‘mães geladeira’ e isso em pleno 2023?

Vamos lá: se uma pessoa não aprende a fechar a torneira, por exemplo, sou eu quem deve tentar as centenas de maneiras de ensinar a fechar a torneira. Se a pessoa não aprende, não é culpa da mãe que precisa fechar a torneira porque o banheiro vai alagar e ela tem outros filhos para cuidar, o almoço para fazer e a planilha para entregar para o chefe que está no pé dela.

Sabem de quem é a culpa?

Do profissional não empático, do profissional que dá ordens para os familiares, do profissional que segue protocolo sem ouvir, do profissional que faz tratamento e que quer ‘melhora’. A culpa é do profissional hierárquico, sabichão e que sabe do seu filho(a) melhor que você.

Se alguns profissionais não mudam, mudem vocês de profissionais: busquem quem os ouça, acolha, quem busca caminhos alternativos e criativos para o dia a dia.

Aos que não mudam, ainda dá tempo: Mais empatia, por favor.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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