27 de maio de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Eu me sentia muito sozinha quando era criança. Minha primeira lembrança de desejar muito ter amigas para brincar, é de quando estava com 10 anos. Hoje sei que autista gosta de ter amigo, mas não sabe como. Eu acabara de completar 10 anos. Estava na quarta série. Percebi que já não poderia ter ‘amiga de infância’. Sofri muito. Chorei. Minha mãe quis saber por que, mas eu não soube explicar.

Amigos, como não os ter?

Entrei para o fundamental II. Já não trazia comigo a ilusão de amizades. Sentia-me menor que minhas outras colegas. Quando me aproximava não conseguia entendê-las. Era um desconforto que me acompanhava no dia a dia. Assumi que escola era para estudar, somente. Em casa, eu tinha minhas tarefas. Que fazer se a vida era assim? Passei a escrever meu diário. Aliás, até hoje, ele é meu grande companheiro.

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Na sexta série, aos 12 anos, conheci uma garota de 18 anos. Ela se aproximou de mim. Pela primeira vez, senti que tinha uma amiga. A gente não se encontrava, não tinha atividades fora da escola, não passava o recreio juntas. Mas pelo menos ela parecia me entender melhor que todas as outras meninas de minha idade.

E se não os temos, como sabê-lo?

No ensino médio, tive meu primeiro namorado. Tentei diminuir a sensação de solidão, de inadequação com ele. Mas, cá entre nós, namorar parecia bem mais complicado que ter amigos. Mas pelo menos, eu consegui namorar. Foi quando meu sofrimento mudou de jeito. Agora, fico constrangida ao relembrar de tanta relação abusiva em minha vida.

Entretanto, consegui ter uma amiga. Era meu suporte para conseguir vencer aqueles dias difíceis de Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – Cefet-MG.

Aos 21 anos, me sentia velha. Muito velha. Era uma sensação de que perdi tempo com meus namorados. Autista gosta de ter amigo, mas não sabe como. Assim, pensei que com o namoro seria diferente. Arranjei um namorado e me empenhei na relação para que pudesse me casar e deixar de ser sozinha. Em outras palavras, comecei a gravitar ao redor do meu futuro marido. Nos casamos 5 anos mais tarde. Os poucos amigos eram os amigos dele. Ainda assim, eu tinha de respeitar esse espaço deles.

Autista gosta de ter amigos?

O lugar que tive bons (e poucos) amigos foi no serviço. É certo que não frequentava a casa deles e nem eles a minha. Ainda assim, pensei que os teria para sempre, em qualquer situação. Mas não era e não foi assim. Por mais incrível que pareça, a única amiga que mantenho até hoje, de forma mais constante, mora, há muitos anos, no exterior.

Atualmente, embora me sinta muito amada, ainda não consigo manter meus amigos comigo. Conclusão: não aprendi, nesses anos todos, como fazer e manter amigos. Hoje, em especial, estou me sentindo esvaziada de amigos. Como dói!

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Jornalista e relações públicas, diagnosticada com autismo, autora dos livros "Minha Vida de Trás pra Frente", "Dez Anos Depois", "Camaleônicos" e "Autismo no Feminino", mantém o site "O Mundo Autista" no Portal UAI e o canal do YouTube "Mundo Autista".

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