1 de setembro de 2020

Tempo de Leitura: 3 minutos

Sem dúvida, um dos maiores desafios para quem convive com uma pessoa autista – e para a própria pessoa autista é o comportamento agressivo que muitas apresentam, temporária ou continuamente. A análise de um tema tão amplo, requer uma rápida busca no seu significado.

Um pouco de história

Freud desenvolveu sua Teoria da Agressão  como um impulso constitucional nato, inerente ao homem, que pode ser controlado pelo ambiente e pela socialização. Já Geuk Schuur  disse que agressão é uma interação entre o homem e o ambiente no qual vive, resultado da insatisfação do homem com as circunstâncias. Estas tanto podem ser uma resistência a regras e normas estipuladas como o resultado de uma ausência de competências sociais. 

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Por último, Hansen  disse que não é a insatisfação, mas o medo, a base da agressão, a que prefere chamar de “problema de comportamento”.

Seja como for, a agressão é um grande desafio que acompanha os autistas que deve ter sua causa identificada e definida como comportamento preocupante, além de prejudicial para a pessoa autista e seu meio ambiente. No caso, é preciso saber com que frequência, tempo de duração e intensidade o comportamento agressivo do autista ocorre.

Os quatro tipos de agressão

Van der Ploeg define a agressão, que pode ser ou não intencional, como comportamento que viola regras formais ou informais. Ele a classificou em quatro tipos:

1) Agressão física

Uma expressão óbvia de agressão, com uso de força física para atingir outra pessoa. Chutar, bater, arranhar, cuspir, agarrar são alguns exemplos.

2) Agressão relacional

Também descrita como agressão social. Significa dano proposital através de manipulação, e dano de relações pessoais. Fofocas, boatos mentirosos sobre pessoas, subjugação, pressurização, e ignorar o outro (não reconhecimento de) são modos como essa forma de agressão é usada.

3) Agressão reativa

Essa forma de agressão é externada quando existe uma situação ameaçadora ou frustrante. Essa expressão agressiva tanto pode ser verbal quanto física. Comportamentos de agressão reativa podem ser a não aceitação de contradição, uma reação ao bullying, a algo que foi retirado (tomado) da pessoa, ou um toque inesperado.

4) Agressão proativa

Quando a agressão é usada para conseguir algum resultado calculado. Também conhecida como agressão instrumental. Tanto pode ser física quanto verbal. A intenção é a de dominar o outro. Para conseguir os fins desejados, este tipo de agressor pode fazer uso de provocação, bullying ou ameaça.

Agressão no autismo

A agressão não é inerente ao autismo, e sim a todo ser humano. Um dos nossos instintos básicos, com a reação de “fugir, lutar ou congelar”. No caso, o de evitar a agressão, saindo de perto do que/quem lhe agride; encarar a agressão, reagindo igualmente de modo agressivo; não reagir, tampouco fugir (passivo).

A complexidade do autismo torna tudo à sua volta igualmente complexo, assim como a expressão da sua agressão – quando ela existe, pois nem toda pessoa autista demonstra agressão. Seria lógico afirmar que o tipo de agressão mais comum no autismo é o descrito no item 2 acima: a agressão reativa. Isso porque os autistas reagem ao meio ambiente de acordo com sua percepção sensorial e pela percepção individual que têm do mundo. Sendo assim, qualquer situação e/ou pessoa que desafiasse suas percepções seria “punida” com um comportamento agressivo não intencional (defensivo). 

No entanto, não podemos esquecer os fatores que também contribuem para a agressão da pessoa autista, que nem sempre são não-intencionais:

  • Comorbidades como bipolaridade, narcisismo, Trastorno Opositor Desafiador, Transtorno Múltiplo e Complexo do Desenvolvimento, Borderline, etc.
  • Ausência de empatia (não necessariamente sintoma do autismo).
  • Teoria da Mente prejudicada (dificuldade de entender ações, intenções ou necessidades de outras pessoas, o que diminui a compreensão da situação em seu todo. 
  • Déficit das Funções Executivas (perda do autocontrole das emoções)
  • Meio ambiente – histórico familiar/ambiental de comportamento agressivo.

 

A agressão no autismo, em geral, tem ainda mais causas:

  • Dores (dente, cabeça, barriga, menstruação, etc.)
  • Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) (toques, odores, ruídos inesperados, etc.)
  • Problemas graves de comunicação (ausência da fala, e de expressão alternativa)
  • Medo (o mais frequente)
  • Problemas do sono (agitação noturna, estresse emocional resultando em falta de descanso físico.
  • Imprevisibilidade da rotina (mudanças de rotina, viagens, falecimento, nascimento de um irmão, separação dos pais, etc.)
  • Falta de segurança
  • Falta de compreensão
  • Libido, mudanças hormonais.
  • Impotência emocional (sentir muita coisa ao mesmo tempo e não conseguir se expressar ou fazer compreender).
  • Mudança de medicação ou tolerância à medicação regular. 

O autista não é naturalmente agressivo. Cuidadores primários (família) e secundários (professores e terapeutas) devem dar muita atenção ao problema para que a agressão não se instale como hábito do autista evitar situações, pessoas ou momentos indesejados por ele.

Tratamento

O foco deve ser na identificação da agressão, tipo, causa e planejamento de atividades/terapias que eliminem esse comportamento. Dependendo do grau de autismo, sua funcionalidade, e nível de intelectualidade, pode-se fazer uso de diversas terapias direcionadas para o indivíduo, considerando seu tipo de autismo, seus gostos e preferências. Sendo assim, faz-se uso (ou não) de tabelas estruturadas, histórias sociais, Terapia Cognitiva e Comportamental, atividades esportivas, medicação, e demais orientações que irão depender do que for definido pelo especialista em autismo.

Lembre-se, a agressão é um comportamento; um comportamento que não pode ser tolerado, que deve ser encarado com muita seriedade por todos que zelam pelo bem-estar da criança, adolescente, ou adulto com TEA. 

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Jornalista, mãe de um autista adulto, radicada na Holanda desde 1985, escritora — autora do livro Caminhos do Espectro (lançado no Brasil em dezembro de 2021) —, especialista em autismo & desenvolvimento e autismo & comunicação, além de ativista internacional pela causa do autismo.

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