26 de maio de 2023

Tempo de Leitura: 5 minutos

A decisão de começar um tratamento de saúde é uma das mais importantes que alguém pode tomar. Com o mercado do canabidiol (CBD) crescendo exponencialmente, muitas dúvidas surgem sobre as características desse tratamento e a qualidade dos medicamentos. De acordo com um levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Canabinóides (BRCann), que tem como base dados divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os pedidos de autorização para importação de medicamentos a base de canabidiol cresceram mais de 350% em 2022 em relação ao ano de 2021. Ao mesmo tempo, cresce também o número de profissionais da saúde que estudam e ganham confiança para indicar o tratamento com a terapia canabinóide.

Em seis anos, o número de profissionais prescritores de fármacos à base de canabidiol no Brasil aumentou mais de 15 vezes, passando de 321 profissionais em 2016, para 5 mil em 2022. A médica Lara Reskalla, psiquiatra especialista em tratamento com canabinóides, faz parte desse grupo de profissionais. Prescrevendo esse tipo de terapêutica desde 2018, ela aponta inúmeros benefícios no tratamento de seus pacientes. “Comecei a me interessar pelos canabinóides e ser uma prescritora porque a psiquiatria convencional às vezes não é suficiente para tratar, de fato, o paciente como um todo. Alguns antidepressivos melhoram uma coisa, mas os efeitos colaterais acabam prejudicando outra. Então, tapa um buraco e destapa outro. Isso foi uma coisa que sempre me incomodou. Estudando sobre o sistema endocanabinóide, eu vi que, por já termos esse sistema no corpo, os canabinóides entram regulando todo o nosso organismo. Todos os órgãos e sistemas entram em equilíbrio com o uso da medicação. Isso é muito legal.”

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Os números impressionam e apontam um cenário promissor para esse tipo de tratamento. A estimativa é de que cerca de 187.500 pessoas façam uso de medicamentos à base de canabidiol no país atualmente. Mas o assunto ainda é novidade para a maioria da população e, na hora de escolher o tratamento e quais medicamentos usar, surgem muitas dúvidas. Valcênia Lima Borges, mãe do menino Heitor, de 9 anos, conta que teve muitas dúvidas sobre como começar o tratamento de autismo do filho. “O pai dele sempre quis dar canabidiol, mas sem verificar a procedência do remédio. Ele chegou a comprar e fazer em casa com azeite, tudo porque na internet tem explicando como faz. Mas em momento algum eu quis dessa forma.”. Ela conta que foi preciso ir atrás de informação para garantir um bom tratamento para o filho e que sempre fez questão de ter certeza da qualidade do medicamento. “Sinto mais segurança em usar um medicamento liberado pela Anvisa, porque eu sei o que vai no produto, que está sendo bem manipulado, que tem boa procedência. Eu me senti mais segura assim”, revelou ela.

Tipo de óleo

A médica também ressalta a importância da qualidade e da procedência dos medicamentos. “Quando eu conheci o canabidiol, fiquei um pouco desconfiada. Por que tem tantos, tantas diferenças de preço? E comecei a buscar, fazer cursos. Aí a gente chegou à conclusão de que é muito importante que seja de procedência muito garantida, que a gente tenha muita confiança na procedência da planta. Temos que saber exatamente de onde ela vem, a linhagem, a forma de cultivo, porque isso tudo influencia muito na qualidade das substâncias que a gente extrai dela”, explicou Lara Reskalla.

Em casos como o do menino Heitor, o uso de canabidiol promove a redução da agitação, da irritabilidade e da agressividade. Lara ainda frisa a importância de saber o veículo nos quais são colocados os ativos. “O veículo é o óleo, que geralmente é colocado no medicamento. Onde é colocado depois que extrai da planta? O CBD, o THC, os flavonóides, os terpenos, onde vou colocar isso pra pessoa ingerir? A grande maioria coloca em qualquer óleo, até em azeite! Algumas indústrias farmacêuticas colocam em óleo de milho, que é o mais comum de se ver. Mas não são veículos adequados, não são óleos que promovem uma biodisponibilidade boa depois que é ingerido. A medicação, os ativos que estão presentes nos óleos, não ficam disponíveis para o nosso corpo utilizar. Pior, o óleo de milho costuma ser muito alergênico, principalmente para pacientes que são autistas ou que tem alguma doença neurológica. Isso não é interessante. O veículo mais seguro e indicado é o TCM (triglicerídeo de cadeia média)”, afirma a psiquiatra. Estar atento a essas questões é fundamental para conseguir o efeito desejado durante o tratamento. “Temos que ser criteriosos e exigentes, definir quais marcas seguem essa lista de pré-requisitos para que sejam produtos de qualidade e de confiança. Eu falo que é uma segurança tanto pra mim, quanto médica, quanto para o paciente que toma. Os dois lados ficam muito seguros quando o produto que está sendo usado é de qualidade”, argumentou Lara Reskalla.

‘Nem de graça!’

Sara Marques, mãe da Maria Eduarda, 7 anos, que trata epilepsia de difícil controle, conta que o uso do canabidiol fez a filha ter mais contato visual, melhorou seu andar e também ajudou na qualidade do sono. “Já tem um ano que ela faz uso do canabidiol, e tem sido uma bênção nas nossas vidas. O canabidiol foi uma grande ajuda. A Maria Eduarda usa o [excluímos o nome do produto] que eu acho diferenciado. Parece que a concentração dele é melhor, o efeito dele foi mais rápido para a minha criança”, contou a mãe.

“Outra coisa: com o canabidiol, nós conseguimos tirar uma medicação e diminuir uma outra. Isso pra mim foi uma coisa muito boa, poder tirar um remédio controlado! Ela usava três controlados, já chegou a usar quatro. E hoje ela usa dois controlados, mas com doses menores do que antes”, comemora. Sara ainda ressalta que se preocupa com as certificações do medicamento que escolheu. “É isso que me traz tranquilidade. Eu me preocupo muito com a questão da coloração do frasco, quando a coloração não vem da mesma forma eu questiono, eu indago, olho o lote, vejo se tem diferença… Não tenho coragem de comprar um produto sem certificação, nem pra dar, nem de graça!”, exclamou Sara.

Qualidade

Mas como se certificar da qualidade dos medicamentos? A advogada Nichelle Alves, especialista em direito à saúde, explica que é importante que as empresas respeitem as normas da Anvisa, porque é justamente este órgão que controla a qualidade do produto que está sendo entregue ao consumidor. “A finalidade da Anvisa é proteger a saúde da população, fazendo o controle sanitário da produção, do consumo de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária. Eles controlam os ambientes nos quais esses produtos são preparados, os processos, como é feita a preparação dos insumos, das tecnologias e outras questões relacionadas. Isso garante a qualidade, a segurança e a eficácia dos produtos”, declarou a advogada. Todo esse processo ajuda a garantir que os pacientes possam confiar no produto que estão comprando.

A regulamentação também é um dos critérios quando a Lara vai prescrever o medicamento aos seus pacientes. “A Anvisa é muito criteriosa em relação à padronização. E padronização é referente à concentração dos canabinoides que contém dentro do frasco. Por exemplo, eu compro um frasco hoje que está escrito que ele tem 100 mg de CBD por ml e 0,3% de THC. O que a Anvisa exige — e que pra nós é muito bom e para o paciente também — é que no próximo frasco que ela vá comprar tenha exatamente a mesma concentração”. Segundo a médica, a padronização é fator decisivo para não alterar o tratamento, para que não haja efeito colateral e para que os benefícios continuem sendo vistos pelo paciente. “Eu indico sempre os chamados ‘canabidiol premium’, porque eles já tem todos os selos de autorização, de regulamentação e o CoA (certificados de análise)”, finalizou ela.

Anvisa

A orientação é que o consumidor consulte o site da Anvisa para verificar quais produtos estão dentro das normas estipuladas. “Eles sempre atualizam uma lista de produtos que estão autorizados a serem importados e comercializados no Brasil. A lista foi atualizada em março de 2023, lá aparecem todas as medicações que são autorizadas para importação simplificada. A Anvisa é obrigada a trazer tudo de maneira bem simplificada em seu site, para ser de fácil acesso a toda população. Quando a medicação não está nessa lista, aí é um pouco mais complicado… Porque a empresa tem que fornecer dados para a Anvisa exercer algum tipo de controle, ver se esse fármaco é realmente seguro para a utilização da nossa população”, indicou Nichelle Alves.


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