1 de junho de 2019

Tempo de Leitura: 3 minutos

Conheci os materiais estruturados quando fiz uma especialização em educação na perspectiva de materiais estruturados para o autismo, com a prof. Maria Elisa Granchi Fonseca. Na verdade, durante todo o curso fiquei pensando na sua aplicabilidade clínica em odontologia, como um facilitador no entendimento e na comunicação de nossas rotinas. A partir dessa reflexão, elaborei meu Trabalho de Conclusão de Curso adaptando esses materiais à simples prática diária da higiene bucal, que, por vezes, é um martírio para algumas pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo.

Utilizamos as figuras sequenciais para a higiene bucal e o resultado foi muito favorável, com aceitação significativa. A pessoa é orientada a seguir a sequência de imagens, realizando a higiene bucal até chegar à figura que mostra o término da atividade. Normalmente um único terapeuta ou os próprios pais direcionam as ações   da criança até que ela não precise mais dessa ajuda e siga as orientações sozinha, sendo independente na realização da higiene bucal. O tempo de evolução é individual. Os materiais auxiliam na aquisição de independência.

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Depois disso, em 2018, publicamos uma cartilha sob a coordenação  do professor Eder Cassola Molina, pai de um menino com autismo, orientando a higiene bucal  a partir dos materiais estruturados. Obtivemos grande retorno dos pais, que se empenharam, tanto em confeccionar o material, quanto em insistir na rotina dessa higiene. As cartilhas foram encaminhadas para diversos estados e o link para download gratuito também teve milhares de acessos, o que mostra a dificuldade das famílias relacionada à essa prática diária.

A sequência para a realização da higiene bucal dá previsibilidade, organização e a certeza de que essa ação tem um fim — por isso a importância da figura final: “ACABOU”. 

A pessoa com TEA poderá prever a duração da ação se, junto à atividade, for  feita a contagem do tempo. Com isso, ela ficará tranquila, porque um tempo pré-determinado deverá ser cumprido.

A insegurança dos pais não deve colocar obstáculos  ao aprendizado da pessoa com TEA, uma vez que muitos pais têm medo de dentista e transferem isso aos filhos. Devemos orientar pais e cuidadores na prática diária da higiene bucal, pois só dessa forma teremos crianças livres de cárie e, associado à visita regular ao dentista, não haverá problemas de adaptação. Muitas crianças aparecem no consultório para primeira visita quando estão com dor e, com certeza, essa não será a melhor experiência. A dor desorganiza a pessoa com TEA!

É necessário trabalhar a saúde bucal a partir da higiene realizada em casa, e os materiais estruturados dão as condições de trabalho para a realização dessa atividade, seja por terapeutas, ou pelos pais.

O tempo que a criança mantém a boca aberta também pode ser trabalhado em casa. Isso facilitará a rotina na visita ao dentista, pois a criança já saberá como  e por quanto tempo manter a abertura da boca sem se desorganizar. 

As crianças que entendem a linguagem das figuras podem trabalhar com diversas imagens de boca aberta e fechada para fazer o treino. As crianças que não entendem as figuras, precisam do objeto concreto, então podemos usar fantoches para mostrar “boca aberta” e “boca fechada” (fotos).

Parece assustador, para uma pessoa com TEA, ficar com a boca aberta na cadeira do dentista e não saber até quando essa ação vai continuar. Quando ele/ela tem uma noção do término, a situação fica mais previsível e isso traz tranquilidade. Não é medo de dentista, é um descontrole por não haver previsibilidade. 

Para a higiene bucal, é preciso boca aberta e devemos usar esse treino como uma etapa prévia à consulta odontológica. Quanto mais cedo for essa visita, melhor. Claro que a criança não vai achar confortável, mas é preciso torná-la parte de sua rotina. 

Os materiais estruturados podem ser confeccionados para todas as rotinas do consultório e essa previsibilidade facilitará a comunicação dentista-paciente. 

Não desanime, sua criatividade ajudará nessa missão!

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Cirurgiã-dentista, doutora em odontologia, mestre em ciências da saúde, especialista em odontologia para pacientes com necessidades especiais e em educação na perspectiva de materiais estruturados para o autismo e presidente da Câmara Técnica de Odontologia para Pacientes Especiais do Crosp.

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