1 de dezembro de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Eu já pertenci a essa parcela de médicos e a minha história pode te ajudar a compreender o motivo pelo qual isso acontece. Um médico, e principalmente o pediatra, deveria estar pronto para atender o autismo.

Nos anos 2010, lembro-me da grade curricular rica em disciplinas empolgantes para um acadêmico de medicina: farmacologia, imunologia, fisiologia, entre outras. Em meio a tantas matérias havia uma perdida, de não mais de 40 minutos, pouco “interessante”, sobre o transtorno do espectro autista.

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ExpoTEA

Durante a especialização em pediatria, aprendemos muitas coisas, mas sobre o autismo o ensino é falho, a base em neurologia foi toda hospitalar: doenças como neurotoxoplasmose, sequelas de meningite, paralisia cerebral e crises epilépticas — conhecimento importantíssimo —, mas lembro de ser muito pouco sobre o TEA.

Recordo-me dos meus primeiros plantões médicos. Houve uma noite em que uma mãe me perguntou sobre seu filho de 2 anos que não falava. A minha resposta foi: “É normal ter atraso, ele ainda tem 2 anos”. Hoje, é exatamente essa atitude médica que mais reprovo. Não tive oportunidade de pedir perdão àquela mãe e carrego um peso em minha memória, ao lembrar do menino.

Eu me formei e, como a maioria dos pediatras, meu conhecimento era pífio. Aprendi sobre autismo porque Deus viu em mim um propósito e me permitiu viver o diagnóstico do meu filho e, através dele, fazer diferença na vida de outras famílias.

Não desejo que o médico precise viver o diagnóstico em sua própria casa para que possa aprender mais sobre ele. Desejo que a cada dia aumente a conscientização sobre a relevância do pediatra e médico da Unidade Básica de Saúde (UBS) diante do transtorno do espectro autista.

Nossa formação é falha, por isso falhamos. A cada atendimento médico em que normalizamos os sinais de atrasos, ceifamos o desenvolvimento e a independência na vida daquela criança.

As faculdades, universidades, conselhos e residências médicas estão sensíveis a essa informação e estão se adaptando, mas há uma lacuna a ser corrigida, e precisamos preencher essa “falha” na formação dos pediatras para ontem. Isso é uma necessidade e responsabilidade do médico. O Autismo é uma queixa latente no consultório.

A atenção médica primária deve ser capacitada para o atendimento e diagnóstico de pacientes autistas: saber tratar, conhecer os diretos, o papel da escola, entender a relevância da ciência ABA e o que é PECS, PROMPT, AYRES.

Quando há dúvidas, as famílias sempre buscam informações através do médico da atenção básica e do pediatra. E, ao contrário do que as crenças limitantes dizem, esses profissionais podem fazer o diagnóstico precoce de Autismo — na verdade, eles precisam fazer!

É necessário estudar e se capacitar além da formação acadêmica. A prevalência de autismo, entre crianças, é de 1 caso a cada 44, logo a capacitação não é algo opcional, mas obrigatória. A responsabilidade médica não é encaminhar o paciente para uma fila quilométrica de outros especialistas (via SUS ou planos de saúde), agir dessa maneira é ser conivente com o sistema ineficaz que condena o desenvolvimento dessas crianças.

Ser um médico capacitado em autismo é estar pronto para levar esperança a diversas famílias.

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Pai do Noah (TEA), médico pediatra, pós-graduando em tratamento do autismo e pós-graduado em emergências e urgências pediátricas.

Exposição solo

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