8 de setembro de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Sim, o filho de S., de 6 anos, é autista nível 3 de suporte, não falante e começou a falar inglês.

Como isso é possível? Afinal os autistas são de fato gênios?

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Há muito se tem comentado sobre os benefícios do bilinguismo para autistas. Recentemente, Fátima de Kwant nos trouxe um belo artigo sobre o tema (veja aqui) . Segundo a autora, pesquisas revelam que o bilinguismo é uma “ginástica para o cérebro”, além de auxiliar na teoria da mente e função executiva.

Mas o que acontece quando uma criança aprende uma segunda língua sem falar a língua materna e, sendo exposto à essa língua, apenas pelos aplicativos, nos eletrônicos?

Já conheci algumas crianças assim, inclusive com um desenvolvimento do raciocínio matemático inacreditáveis. Todos com laudo de autismo com nível 3 de suporte.

Não pude encontrar estudos especificamente sobre o tema que aqui abordo, porém, o artigo: “Ser ou não ser bilíngue? Os benefícios de aulas bilíngues aos alunos autistas ( NEMITYRA: Revista Multilingüe de Lengua, Sociedad y Educación – Vol3-N2, Dezembro de 2021) discute a questão do bilinguismo não apenas para famílias de imigrantes, mas como uma ferramenta de acessibilidade e inclusão na educação.

O que isso quer dizer? Que se a criança traz uma segunda ou até terceira língua para a relação, é ali que se deve investir. Sempre a área de interesse do autista será nossa bússola.

Podemos até pensar em autistas como multilíngues; aprendendo inglês ou outra língua por meio de jogos e aplicativos e desenvolvendo a fala. 

A verdade é que muito pouco sabemos sobre o cérebro do autista e, de fato, podemos aprender coisas ainda não pensadas ou que fazem cair por terra nossas crenças sobre algo. Sim, até a década de 1980, o bilinguismo era considerado um erro para autistas. 

Todo e qualquer interesse do autista deve ser levado em consideração e utilizado como ferramenta para aproximação e compreensão. 

No caso do bilinguismo pela tecnologia ainda devemos considerar todas as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria para o uso de telas (veja aqui). Sem uso abusivo, mas construindo ferramentas de acessibilidade com tecnologia assistiva.

O interesse da criança precisa ser levado ao conhecimento do educador e, a partir daí, formular estratégias e ferramentas para o aprendizado, como cartelas de objetos escritos na língua materna e língua de escolha da criança. A língua de escolha deve ser introduzida à rotina da criança, demonstrando que sua voz é importante e que as pessoas à volta estão ouvindo o que ele (a) tem a dizer. 

Outro ponto importante é que, segundo outro pesquisador do artigo acima, o aprendizado do inglês (mesmo para aprendizes “de vídeo games e internet”) o inglês aumenta significativamente o aprendizado nas habilidades socioemocionais. 

Pessoal, por favor, não vamos fazer uma corrida aos cursos de inglês, até porque mais educação formal pode não levar a lugar nenhum mesmo para aqueles que se interessam pela língua. Outro ponto é não deixar os filhos expostos às telas durante horas.  

Não há regra e nem manual, cada autista é único, e apenas ouvindo seus interesses poderemos caminhar lado a lado e oferecer ferramentas de acessibilidade.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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