7 de novembro de 2021

Tempo de Leitura: 2 minutos

Essa semana, durante o simpósio que eu participei como palestrante, um assunto veio à tona no relato de um colega, o Dr. André, que também é uma pessoa autista. Ele chamou atenção mais de uma vez para o fato de que autismo não tem cara.

Para alguém que não está familiarizado com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), talvez essa expressão nem faça muito sentido, talvez a pessoa que ouve nem entenda o que isso quer dizer e por isso o próprio Dr. André explicou muito bem qual o significado de tal frase.

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Quando se diz que o “autismo não tem cara”, estamos nos referindo que não existe uma característica física que demarque se alguém é uma pessoa autista ou não. Não tem como apenas olhar para alguém e, pela sua aparência, dizer se aquela pessoa está no espectro.

Claro que existem algumas características, principalmente, comportamentais, que podem trazer sinais mais claros de que se trata de alguém de desenvolvimento atípico, neurologicamente falando. Porém, ainda assim se incorre o risco de fazer um julgamento apenas baseado em estereótipos. Ou seja, naquilo que o observador pensa que é o autismo, e, diga-se de passagem, na maioria das vezes, é bem diferente do que o TEA é de fato.

Aqui, é preciso ressaltar que, como o próprio nome já diz, as pessoas autistas estão inseridas dentro de um grande espectro, e as características que as definem como tal apresentam-se de maneiras variadas conforme suas experimentações enquanto pessoas neurodivergentes diante de suas vivências num contexto de interação com o meio que as cerca.

Simplificando, cada pessoa autista que, antes de ser um autista propriamente dito, é um ser humano, com características humanas. E, antes de estar dentro de um espectro que as coloca nessa condição de existência de um ser autista, está contida dentro de uma diversidade que define exatamente o que é a humanidade.

Novamente, pelas palavras do Dr. André, relatando uma conversa que ele teve com Temple Grandin, “primeiro vem a pessoa, que tem um nome, que faz algo na sociedade, que ocupa seu papel como cidadão, depois vem o autismo”. Não é o autismo que vai definir alguém, mas sim o todo que forma o conjunto do que é aquele ser humano enquanto alguém que pertence a toda diversidade neurológica que constitui nossa existência enquanto raça humana.

Então a pessoa pode ser muitas coisas e também ser autista. Eu, Fábio Cordeiro, sou filho, sou pai, sou irmão, sou empregado, sou poeta e sou autista. O autismo não pode passar à frente de nossa individualidade e não é a “minha cara” que vai dizer se sou autista ou não. Aliás, num mundo onde todos vivessem com equidade, talvez nem precisássemos nos rotular a todo momento. Poderíamos apenas sermos quem somos, com nossos nomes e sem as barreiras que por vezes impedem a existência em igualdade de condições.

Lembretes finais: primeiro, se não sabe como chamar uma pessoa autista ou uma pessoa com deficiência, se tem dúvidas quanto ao jeito de falar para não ofender, chama pelo nome que não tem erro. Segundo, Autismo não é adjetivo, então não use uma condição de existência para adjetivar algo em você mesmo ou em outra pessoa, pois, além de estar cometendo uma gafe tremenda, ainda, está cometendo um ato de preconceito e passando vergonha mesmo sem saber.

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Presidente da ONDA-Autismo e membro do Conselho de Autistas; ativista; administrador da página @autiesincero no Instagram, servidor público federal, palestrante e escritor.

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