1 de junho de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Toda decisão tem consequências, na verdade tudo o que envolve a interação com o mundo de alguma forma gera reações, doar seu tempo para lutar por uma causa social é uma dessas muitas decisões carregadas de repercussões.

Uma das principais regras subjetivas na formação da sociedade é a imposição de atender a um determinado padrão de características para pertencer ao círculo social e ser aceito. Esse princípio existe há tanto tempo que foi internalizado e é reproduzido com uma naturalidade assustadora. A aversão ao diferente resulta em atos de violência de todo tipo, as inúmeras formas de violência ameaçam a existência atípica ao negar seu “direito a pertencer”. Apesar de existir há décadas, o ativismo ganhou força com o passar dos anos, e o avanço da tecnologia proporcionou o alcance de públicos maiores, principalmente pela facilidade de acesso a informações., Para reivindicar o direito de pertencer, cada vez mais pessoas estão manifestando suas insatisfações com o sistema e educando a sociedade quanto às mudanças necessárias para que a pessoa atípica seja inserida no convívio social. 

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Os primeiros meses e anos de ativismo são os de maior motivação, mas com o passar do tempo algo acontece, nós cansamos. Eu estou emocionalmente exausta do ativismo neste exato momento. Tomei para mim uma responsabilidade: dar minha voz para, de alguma forma, contribuir com a melhoria devida das pessoas que não se encaixam nos padrões, e sinto que estou falhando. 

No momento, consigo observar o contexto total do preconceito e do capacitismo, e minhas percepções são pessimistas em um nível extremo, não vejo melhora e não acho que vá ver em vida. Tenho a sensação de que para cada pessoa conscientizada ‒ que tenta desconstruir as noções preconceituosas ‒ existe um número infindável de pessoas reproduzindo algum tipo de violência contra a nossa comunidade. Na verdade, não sei se algum dia a convivência respeitosa será alcançada, estou em um momento de desesperança completa.

Parte de ser ativo em mídias sociais é se deparar com manifestações agressivas de intolerância. É justamente isso que justifica o momento que estou vivendo, todo ativista tenta ser emocionalmente resistente para reagir a esses comportamentos tóxicos, mas isso tem um limite porque, em algum momento, eles nos afetam. E esse acúmulo das tentativas de resistir emocionalmente a tais manifestações gerou uma crise que se estende há alguns meses.

Eu falava muito de saúde mental em uma rede social específica que hoje não consigo acessar. Das três redes que eu utilizava, passei a conseguir participar de uma e mesmo assim não considero que ainda tenha condições de educar socialmente, não vejo sentido em explicar algo que parece não ser ouvido.

Sei que crises vêm e vão, algumas duram mais tempo que outras, todos temos altos e baixos emocionais, mas temo sinceramente não conseguir voltar à ação como ativista. O ativismo está na minha identidade, é uma grande parte de quem eu sou, responsável pela forma que me percebo como pessoa atípica e como entendo que sou digna do meu lugar no mundo. Mas, estou cansada, sinceramente, estou exausta de uma luta que parece não ter um fim. 

Priscila Jaeger Lucas tem 27 anos, mora no RS e atualmente dedica-se em tempo integral à pesquisa acadêmica. Cursa mestrado em ciências sociais com uma bolsa de apoio a pesquisa. Diagnosticada aos 21 anos, enfrenta as consequências da convivência com a condição só percebida por profissionais na vida adulta. 

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