18 de setembro de 2025

Tempo de Leitura: 2 minutos

Diferenças e Deficiência não são coisas opostas. Então, o autismo não é bom nem ruim por si só. Portanto, ele é uma deficiência e, também,  uma maneira diferente de perceber e interagir com o mundo. O que traz consequências, até porque nossa sociedade se adapta majoritariamente aos padrões neurotípicos. Ser autista pode, portanto, causar muito sofrimento. No entanto, as consequências variam muito e nem sempre são negativas. Por exemplo, a minha rigidez de pensamento ao adotar valores mais conservadores sobre álcool e sexo me protegeu, sem que eu soubesse, de muitas situações prejudiciais durante minha juventude como mulher autista.

Nick Walker critica a visão do modelo médico da deficiência em relação ao autismo. Isso porque essa visão de autismo como doença frequentemente responsabiliza a pessoa autista por falhas de comunicação devido a supostas dificuldades de empatia. Essa abordagem ignora a complexidade das interações e favorece a pessoa neurotípica nos embates de comunicação. O que ocorre independentemente de seu próprio nível de compreensão.

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Livro: Autismo — Não espere, aja logo!

Aqui, não se trata de negar o papel da medicina, tão importante para a qualidade de vida e a sobrevivência do ser humano. Porém, devemos entender que por trás daquele ‘paciente’, existe uma humanidade e uma história que devem ser respeitados.

Acessibilidade: Diferença e deficiência não são coisas opostas

A falta de acessibilidade é outro fator crucial. Aliás, ela aparece tanto na linguagem cotidiana quanto em ambientes sobrecarregados de estímulos. Então, muitas das dificuldades de interação e crises de autistas têm sua origem na relação entre o autismo e o ambiente. Assim, é importante notar que a falta de consideração pelo outro não se restinge aos autistas. Na verdade, muitos neurotípicos se sentem inseguros ao lidar com autistas e preferem não se esforçar para entendê-los.

Contudo, a pessoa autista muitas vezes se força a desenvolver habilidades para se adaptar aos neurotípicos. O que ocorre simplesmente para que ela possa sobreviver às demandas do dia a dia. Isso faz com que não haja tempo para questionar a necessidade de ter empatia ou compreender o outro. Afinal, essa adaptação é obrigatória.

A Teoria da dupla empatia no autismo: Diferença e deficiência não são coisas opostas

É nesse contexto que a Teoria da Dupla Empatia (MILTON, 2012) surge como uma ferramenta poderosa para analisar as relações entre autistas e neurotípicos. Poderosa porque a teoria propõe que a falta de entendimento é mútua. Assim como autistas têm dificuldade em interpretar os comportamentos neurotípicos, os neurotípicos também demonstram uma falta de repertório cultural para entender os autistas.

Milton argumenta que, embora muitas pessoas autistas desenvolvam uma capacidade maior de compreensão social sobre o mundo neurotípico, o oposto raramente acontece. Geralmente, os neurotípicos não sentem nem vivenciam a obrigação de fazer o mesmo esforço, pois o mundo já está adaptado a eles.

(Originalmente publicado em O Mundo Autista, no portal UAI)

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Jornalista, escritora, apresentadora, pesquisadora, 24 anos, diagnosticada autista aos 11, autora de oito livros, mantém o site O Mundo Autista no portal UAI e o canal do YouTube Mundo Autista.

Autismo é tema de oficina da Wikimedia Brasil na UFG

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