1 de setembro de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Há muitos anos, quando eu era criança, costumava julgar as pessoas de forma bastante rígida e dar mais valor às que eu achava que possuíam as qualidades que eu admirava, como capacidade lógica. Eu tinha bastante orgulho da minha própria inteligência, me sentindo superior à maioria das pessoas que conhecia. Até que essa situação se inverteu, pois no ensino superior eu me vi em meio a muitas dificuldades que me fizeram acreditar na minha completa incompetência.

Considerando a mim mesma como uma falha no único atributo que eu realmente valorizava, a inteligência, passei a me ver como “um lixo”, e tudo o que eu fazia me parecia “um lixo” também. Quando finalmente consegui um emprego, tive receio de que tivessem cometido um engano e que fossem me demitir a qualquer momento. Cada vez que eu fazia algo, e recebia um agradecimento ou elogio, pensava que era apenas por gentileza, porque o que eu tinha feito parecia simples demais, insignificante demais para merecer um elogio. Quando recebi a minha primeira promoção depois de apenas seis meses de trabalho, achei que faziam isso com todo mundo, ou que talvez não tivessem percebido quantos defeitos havia em tudo o que eu tinha feito até ali. Com frequência eu trabalhava até de madrugada sem ninguém me pedir porque achava que não tinha feito o suficiente durante o dia. Pensando friamente, eu sabia que algumas dessas coisas não faziam sentido, mas a sensação de ser uma fraude no trabalho e na vida como um todo permanecia. Até um dia em que eu respondi a um elogio apontando minhas próprias falhas e essa pessoa me explicou o que era a “síndrome do impostor”.

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Em resumo, a síndrome do impostor consiste em criar uma ideia de si mesmo como alguém incapaz, que nunca é bom o suficiente no que faz, levando a pessoa a não conseguir apreciar quando outros a reconhecem porque não se acha merecedora. Na minha percepção, algumas das nossas características como autistas podem nos levar a esse problema e assim estimular ou potencializar quadros de depressão. E por isso acho importante que estejamos conscientes sobre a síndrome do impostor.

Não é difícil imaginar que encontraremos defeitos no que fazemos quando passamos algum tempo analisando os detalhes de algo e buscando a perfeição. Quando sabemos o que estamos fazendo, é natural perceber as falhas do nosso próprio trabalho. E é importante a consciência de que nem sempre temos os recursos necessários para corrigir essas falhas e aperfeiçoar nossa criação. Pela palavra “recursos” entenda-se não apenas dinheiro e itens que podem ser adquiridos por meio de uma compra, mas também o próprio tempo. Por sua vez, às vezes é difícil perceber como algo simples e imperfeito que fizemos pode ter melhorado muito a situação de outras pessoas, simplificado seu trabalho ou lhes dado mais segurança.

Por isso é necessário separarmos os conceitos de autocrítica e de autodepreciação. A autocrítica se refere a nos avaliarmos, percebendo nossos pontos fortes e fracos, para que possamos nos aprimorar. A autodepreciação é puramente autossabotagem que induz à depressão. Então, se você, leitor, em algum momento começar a se depreciar, recomendo que faça uma pausa para pensar friamente se você não está apenas se autoflagelando pela síndrome do impostor.

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Engenheira civil pela Universidade de São Paulo (USP), administradora de sistemas, autista e apresentadora do podcast Introvertendo.

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