1 de setembro de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Ao buscar na internet por “paternidade e autismo”, encontra-se tudo sobre pais de autistas, mas não sobre pais autistas. Por isso, vou compartilhar um pouco da minha vivência como autista e pai.

Como todo mundo que já foi pai/mãe um dia sabe, o nascimento de um(a) filho(a) decreta uma série de mudanças de rotina e padrões de vida, e neste exato ponto que já configura um desafio para muitas pessoas, para mim iniciou-se uma odisseia. As costumeiras noites sem dormir, a alteração drástica nos horários da agenda diária, a destituição de algumas rotinas e criação novas se mostraram como desafios complicados e de difícil adaptação.

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Sempre brinco em rodas de conversa e palestras que, como todo mundo sabe, crianças são criaturinhas caóticas que não seguem padrões, e quando seguem o fazem de forma diferente do esperado, algo que incomoda muito com o passar dos meses. 

Toda essa situação, somada ao que já acontecia no trabalho há alguns anos, me fizeram procurar por auxílio psiquiátrico, de onde, depois de muitas sessões, foi fechado meu diagnóstico. Em sequência, iniciei tratamento com um psicólogo para tentar lidar melhor com o trabalho e ajudar a melhorar meu convívio com meu filho.

Praticamente todo mundo diria que teve/tem dificuldade em lidar com desobediência, birra, exigência de parar tudo que está fazendo e dar atenção imediata por qualquer motivo, trocar a agenda do dia em prol de uma necessidade inesperada da rotina da criança etc.

As pessoas não entendem que ao dizer “eu tenho dificuldade em não seguir regras, trocar meus horários”e não se trata de um capricho, mas que meu cérebro funciona de forma diferente. Posso tentar me adaptar? Sim (algo que faço muito), mas todo esforço em exagero que um autista faz, indo contra o seu funcionamento padrão gera um preço a ser pago (seja na hora ou depois de um tempo), com crises como meltdown ou shutdown.

É difícil relatar tais coisas, pois o julgamento da sociedade cai como um raio me apontando como inapto para ser pai. Eu amo meu filho, me esforço muito para ser o pai que ele precisa e choro nas muitas vezes que acho que estou aquém do que ele merece, assim como qualquer pai.

Na idade certa vou explicar o que é autismo a ele, para que entenda as minhas dificuldades, e que mesmo não sendo como outros pais, ainda o amo e faço tudo que posso, só que de um jeito diferente. 

A você, peço que reflita, entenda e propague o fato de que ser um pai autista não é ser menos pai. É simplesmente ser um pai diferente, mas no bom sentido.

Jonatas Silva Ribeiro é analista de infraestrutura, especialista em administração de sistemas de informação e novas tecnologias educacionais, investidor, marido da Palloma, pai do Bryan e autista com suspeita de altas habilidades.

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