23 de outubro de 2022

Tempo de Leitura: 3 minutos

Um tour no Muotri Lab

É um privilégio poder visitar um dos laboratórios mais avançados em genética do autismo e de condições de saúde relacionadas, o Muotri Lab, nos Estados Unidos. Liderado pelo neurocientista brasileiro Alysson R. Muotri, o laboratório, que fica dentro da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), realiza pesquisas com repercussão mundial e em parcerias que vão da Nasa (a agência espacial dos EUA) à ONG local Autism Tree. Publiquei tudo num vídeo que está imperdível para quem se interessa por ciência e autismo.

Num misto de entrevista e exploração do laboratório, pude falar por 38 minutos com o Doutor Muotri, que é cofundador da startup Tismoo Biotech (no Brasil) e professor da faculdade de medicina da UCSD, diretor dos laboratórios de genética da universidade e agora será diretor do programa de células-tronco no espaço, com “uma bancada” permanente para fazer experimentos na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) — o que é inédito no mundo!

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Falamos sobre diversos assuntos. Sempre muito gentil, Alysson Renato (quase ninguém sabe desse “Renato” no nome dele!) contou sobre as perspectivas do Muotri Lab para os próximos anos com um grande investimento que receberam recentemente e sobre o que podemos esperar para o futuro das pesquisas em autismo e síndromes relacionadas. O congresso anual de neurociência, que ele apoia junto à fundação Autism Tree Project (ATPF na sigla em inglês), que atende autistas e familiares em San Diego, também foi tema do papo. E será nesse evento que serão divulgados, pela Dra. Dóris Trauner, os dados preliminares de uma importante pesquisa do Muotri Lab relativa a autismo e canabidiol (CBD), envolvendo testes clínicos e experimentos em “minicérebros”, os revolucionários organoides cerebrais que o Muotri Lab aperfeiçoa cada dia mais.

Essa pesquisa com CBD envolve autistas com nível de suporte 3 e sem epilepsia, para verificar exatamente o efeito dessa substância apenas no autismo, o chamado “autismo essencial”, com os testes nos pacientes e nos organoides derivados desses mesmos pacientes — outro ineditismo científico no planeta.

Aliás, os “minicérebros” (entre aspas, pois o termo tecnicamente correto seria “organoides cerebrais”) são produzidos aos milhares no laboratório, cada vez de forma mais eficiente e automatizada, graças aos esforços para enviar os organoides para a ISS. Além dos experimentos em microgravidade, levar remessas de “minicérebros” para a estação espacial também fomenta o desenvolvimento de automações e miniaturizações envolvendo a produção desses organoides — o que traz redução de preço (que significa fazer mais, com menos investimento) e aumento da capacidade de produção (mais experimentos, mais produção científica).

O vídeo, num passeio sem cortes pelo laboratório — que fica no prédio do Sanford Consortium, dentro da UCSD, e tem uma vista para o oceano pacífico e um local de voos de paragliders —, mostra os equipamentos sofisticados e várias etapas da produção de “minicérebros”, assim como o escritório de Muotri, cheio de livros (achei até um livro do personagem Horácio, do Mauricio de Sousa, lá na estante!), a caixa automatizada da Space Tango (que foi ao espaço carregando os organoides), réplicas de crânios, fotos do filho e da esposa, um robô feito para ser comandado por “minicérebros” e uma prancha de surf (sim, estamos falando de um neurocientista que surfa de verdade!), a vista da janela que no fim do ano tem o privilégio de testemunhar a migração de baleias para o México. Enfim, em meio a todo esse cenário, falamos também de temas polêmicos, como o uso do termo “cura” — motivo de diversas manifestações de desaprovação por parte de alguns autistas — que Muotri contextualiza em sua explicação. E temas agradáveis, como a história da sua conexão com a fundação Autism Tree, uma ONG local que atende autistas e familiares (para a qual fiz trabalhos voluntários quando morei em San Diego, há 6 anos), os dez anos da Lei Berenice Piana no Brasil e a importância de se fazer exames genéticos para o autismo e síndromes ligadas ao espectro.

Se eu fosse detalhar todo o papo aqui, talvez gastássemos as 52 páginas de uma edição inteira da Revista Autismo. Portanto, deixo aqui um link para que você possa assistir ao vídeo e me acompanhar nessa visita que traz tanta informação sobre ciência, futuro e autismo.

Por fim, vale destacar: gravei mais vídeos no laboratório, que devo publicar em breve no canal do Youtube da Revista Autismo.

 

CONTEÚDO EXTRA

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Editor-chefe da Revista Autismo, jornalista, empreendedor.

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