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Quem disse que orientanda também não morre de orgulho do orientador? Hoje, quero compartilhar uma notícia que me encheu de alegria e esperança. É que meu orientador no doutorado, Gustavo Henrique Rückert, um pesquisador autista, é um dos autores do recém-lançado “The Oxford Handbook of Language”. Este livro foi publicado pela prestigiosa Universidade de Oxford e traz um capítulo sobre Autismo, Linguagem e Poder.
E o melhor de tudo isso é que isso não se trata apenas de uma publicação importante. Afinal, este é um trabalho que ajuda a redefinir como entendemos a relação entre linguagem e preconceito.
Por que este manual é tão importante?
Muitas vezes, pensamos no preconceito linguístico apenas como o ato de discriminar alguém pelo seu sotaque ou forma de falar. Contudo, o que este Manual faz é ir muito mais fundo.
A obra explora como a própria linguagem atua como uma tecnologia do preconceito, ou seja, como ela não é apenas um alvo, mas uma ferramenta ativa que molda e perpetua o preconceito na sociedade.
E o mais fundamental: o livro se contrapõe à dominância da produção de conhecimento vinda do “Norte Global” (Europa e Estados Unidos). Assim, este volume faz questão de incluir múltiplas contribuições de pesquisadores emergentes e proeminentes baseados no Sul Global. Com isso, traz novas perspectivas sobre temas cruciais como:
- Gênero e sexualidade
- Capacitismo
- Raça e etnia
- Política e religião
- Educação e métodos de combate ao preconceito
Um mergulho no capítulo: Autismo, linguagem e poder
O capítulo que o Gustavo assina, e que me toca diretamente, é focado no preconceito linguístico e na discriminação contra pessoas autistas.
Aliás, ele não está sozinho nessa empreitada. Isso porque o texto é co-escrito com outros dois pesquisadores admiráveis: o linguista Luiz Henrique Magnani (UFVJM) e a antropóloga Valéria Aydos (UniPampa).
O capítulo, por sinal, é denso e divide a discussão em três partes essenciais:
- Linguagem, autismo e poder: Os autores examinam as disputas em torno de termos centrais como ‘deficiência’, ‘autismo’ e ‘neurodiversidade’. Isso inclui, é claro, o debate fundamental sobre usar a linguagem de “identidade primeiro” (pessoa autista) vs. “pessoa primeiro” (pessoa com autismo).
- História e ciência: Eles mergulham nas tensões históricas e científicas sobre a própria definição e compreensão (a epistemologia e a ontologia) do autismo e da deficiência intelectual. Dessa forma, destacam momentos cruciais dessa genealogia.
- Perspectivas contemporâneas: Por fim, o capítulo explora como a neurodiversidade se conecta com outras categorias vitais hoje, como interseccionalidade, direitos humanos, pós-estruturalismo, pós-colonialismo e decolonialismo.
Por que isso renova minhas esperanças?
Sou uma admiradora entusiasmada dos três autores deste capítulo. Afinal, eles são pesquisadores sérios, humanos e éticos. Além disso, exibem um conhecimento incrível sobre as ciências sociais, o autismo e a linguagem.
Portanto, fico imensamente grata por poder conviver com eles em minha trajetória acadêmica.
Enfim, esta publicação em um veículo de tanto prestígio é uma oportunidade maravilhosa para que seus conhecimentos — que eles generosamente transformam em sabedoria — se expandam pelo mundo. Com isso, minhas esperanças para uma sociedade inclusiva, justa, humanizada e pacífica estão renovadas. E, em meio à conquista deles, aqui cabe o velho clichê: ganhamos todos nós.
Sophia Mendonça





