27 de novembro de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

O pesquisador Guilherme de Almeida, presidente da Autistas Brasil, foi um dos destaques do programa Sem Censura desta semana. Em uma conversa franca, Almeida trouxe à tona a invisibilidade do autista adulto. Dessa forma, trouxe dados e reflexões sobre a educação e tratamento de autistas. Além disso, compartilhou a própria jornada de descoberta pessoal. Dessa forma, Guilherme de Almeida debateu o diagnóstico tardio, a mercantilização das terapias e o preconceito contra autistas que não se encaixam em estereótipos.

Não é de hoje que admiro profundamente o trabalho de Guilherme de Almeida. Afinal, a coragem de Guilherme em ser vanguardista e em abordar temas complexos e essenciais com um contraponto cientificamente embasado tem sido fundamental para a conscientização e para a luta por direitos de pessoas autistas. Além disso, o seu olhar humanizado e sua disposição em expor as feridas necessárias para a evolução da causa são uma inspiração para todos nós.

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Uma descoberta ao acaso: O diagnóstico do presidente da Autistas Brasil

Para Guilherme, o diagnóstico veio na vida adulta, por volta dos 36 anos. O pesquisador relatou que a descoberta aconteceu “completamente ao acaso” durante um evento acadêmico na Unicamp. Na ocasião, após uma conversa informal, uma professora de educação especial sugeriu a possibilidade de ele ser autista.

Até aquele momento, Almeida contou que tratava um quadro de depressão desde a infância e carregava uma visão estigmatizada sobre o que era o autismo. Isso porque ele acreditava que a condição se limitava aos casos de maior necessidade de suporte, única representação comum antigamente. “Depois do diagnóstico eu entendi: não, eu não era uma criança tonta, eu era uma criança autista, com os desafios próprios de uma criança autista. Imagina uma criança que não sabe brincar, imagina uma criança que não sabe se relacionar, que não sabe ter uma troca com outra… eu era essa criança.”, contou Guilherme.

A barreira do ensino superior para autistas

Um dos pontos mais críticos levantados pelo pesquisador foi a exclusão educacional. Afinal, Almeida denunciou que estima-se que menos de 1% dos autistas adultos consigam chegar ao ensino superior no país.

Segundo ele, as universidades brasileiras não estão preparadas para a diversidade cognitiva e sensorial. Além da falta de estrutura, há o preconceito institucional. Além disso, Guilherme criticou a postura de muitas universidades que duvidam do diagnóstico de alunos funcionais: “Você fala, namora, então não é autista suficiente“. Esta é uma frase que resume o julgamento enfrentado por quem consegue romper a barreira do ingresso. Mas, ainda assim, luta para permanecer.

Presidente da Autistas Brasil alerta sobre a indústria do autismo

O ativista também fez um alerta severo sobre o que chamou de “mercantilização do diagnóstico”. Ele criticou a tendência atual de prescrições excessivas de terapias para crianças — citando cargas horárias de até 40 horas semanais — que muitas vezes visam mais o lucro das clínicas do que o bem-estar real do paciente.

Hipersensibilidade e preconceito contra autistas

O debate ganhou o reforço do jornalista Ernesto Xavier, colaborador da bancada, que também compartilhou a própria experiência como autista de diagnóstico tardio. Ernesto relatou sofrer agressões verbais e até físicas em espaços públicos, como filas e transportes, devido a comportamentos atípicos que são mal interpretados pela sociedade.

Complementando o relato, Guilherme explicou a questão da hiperestimulação. Ele detalhou que ambientes caóticos e barulhentos podem causar dor física real devido à hipersensibilidade sensorial. O que para muitos é visto como “chilique” ou “frescura”, para o autista é uma reação fisiológica de defesa contra um ambiente agressivo.

Dessa forma, a participação de Guilherme de Almeida no Sem Censura reforça a urgência de políticas públicas que olhem para o autista em todas as fases da vida. Afinal, elas além da infância e garantir cidadania plena na vida adulta. Além dele, o programa apresentado por Cissa Guimarães trouxe Luis Salém e Rafa Kalliman como integrantes do debate.

(Originalmente publicado em O Mundo Autista, no portal UAI)

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Jornalista, escritora, apresentadora, pesquisadora, 24 anos, diagnosticada autista aos 11, autora de oito livros, mantém o site O Mundo Autista no portal UAI e o canal do YouTube Mundo Autista.

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