16 de julho de 2025

Tempo de Leitura: 4 minutos

Quando uma equipe ou família decide ensinar o PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras) a um filho ou aluno, é comum que todos estejam cheios de expectativas e esperanças. Parece que tudo está pronto: os reforçadores já foram avaliados, as figuras estão plastificadas e organizadas, e a pasta de comunicação está preparada para o uso.

Se eles estiverem trabalhando com uma criança muito pequena ou um indivíduo com problemas motores finos, uma preocupação que pode surgir é como esses usuários serão capazes de pegar e trocar as figuras. Mais tarde, você também pode se perguntar como eles conseguirão usar a Tira de Sentença nas fases mais avançadas do PECS.

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Essa preocupação é totalmente válida, especialmente quando o filho ou aluno apresenta dificuldades motoras que interferem no manuseio de objetos pequenos. É justamente nesse ponto que o Terapeuta Ocupacional (TO) se torna um membro fundamental da equipe, colaborando para garantir o acesso à comunicação de forma funcional e personalizada.

Este artigo não traz uma receita de bolo. O objetivo é ajudar você e sua equipe a refletir sobre como tornar o PECS mais acessível ao seu filho ou aluno. Afinal, comunicação é um direito de todos — e ela começa com acesso.

Por que adaptar as figuras do PECS?

Trocar uma figura com outra pessoa (parceiro de comunicação) exige habilidades motoras finas, como pegar, segurar e soltar objetos. Essas habilidades nem sempre são adequadamente desenvolvidas, isso não significa que o PECS deva ser descartado como modalidade, apenas que as figuras podem precisar de adaptações físicas para que o indivíduo utilize o sistema de forma eficaz.

Se seu filho ou aluno com quem você está trabalhando é consistentemente observado lutando para manipular pequenos objetos, especialmente itens que ficam planos, como uma peça de dominó ou lego, eles provavelmente exigirão uma avaliação com um TO (terapeuta ocupacional). Durante a avaliação, o TO observa como seu filho ou aluno manipula objetos favoritos. Eles usam as pontas dos dedos? Eles usam toda a palma da mão? Eles podem liberar objetos facilmente? Essas respostas ajudam a planejar, desde o início, adaptações que tornem o material acessível — ou que possam ser introduzidas conforme a necessidade.

Ideias práticas para adaptar as figuras

Aqui estão algumas sugestões simples e eficazes para tornar as figuras do PECS mais fáceis de manusear, especialmente durante a Fase I, quando seu filho ou aluno está aprendendo a trocar uma figura por um item desejado:

  • Use papel mais firme, como cartolina, antes de plastificar as figuras;
  • Adicione Velcro na parte de trás das figuras, mesmo que você ainda não vá anexá-las à pasta de comunicação. O relevo do velcro pode facilitar o manuseio.
  • Monte as figuras plastificadas sobre superfícies mais robustas, como:
  • Quadrados de papelão, plástico ou madeira leve;
  • Tampas metálicas ou plásticas de potes;
  • Pedaços de esponja;
  • Bases feitas de EVA, um material leve, barato e versátil;
  • Ímãs de geladeira;
  • Bottons de roupas;
  • Peças de quebra-cabeça com pinos;
  • Carimbos
  • Arame chenille (fio revestido).

Esses suportes oferecem espessura, rigidez e, em alguns casos, uma “alça” que facilita a pega. Não há receita pronta. Cada usuário é único, e as adaptações devem considerar suas necessidades individuais.

Lembre-se de que, quando você estiver testando diferentes tipos de adaptação, vale colar temporariamente as figuras em bases variadas usando velcro. Assim, a equipe pode observar qual formato funciona melhor antes de confeccionar todos os símbolos adaptados.

Como evoluir nas fases do PECS com figuras adaptadas?

Se o seu filho ou aluno está tendo sucesso com os símbolos adaptados, não é necessário retirá-los imediatamente. Muitos usuários continuam a usar versões adaptadas ao longo das seis fases do PECS com ótimo desempenho. No entanto, se o objetivo for utilizar figuras mais finas — por exemplo, para caber mais símbolos na pasta —, é possível realizar uma transição gradual:

  1. Teste com figuras padrão: Experimente usar figuras convencionais em situações altamente motivadoras e observe como o seu filho ou aluno responde.
  2. Reduza progressivamente a adaptação: Um exemplo prático foi o de um aluno que usava figuras coladas sobre uma pilha de nove quadrados de espuma EVA. A equipe reduziu um quadrado por vez em sessões subsequentes, mantendo o sucesso da troca até alcançar uma espessura próxima à das figuras padrão.

O que os criadores do PECS recomendam

A adaptação das figuras do PECS para alunos com dificuldades motoras não é apenas uma sugestão prática — é uma recomendação expressa dos próprios criadores do sistema. No Manual de Treinamento PECS, Dr Andy Bondy e Lori Frost (2002) orientam:

“Às vezes, durante a Fase I, o aluno tem dificuldade física de pegar a imagem ou segurá-la. Se parecer ser este o caso, consulte um terapeuta ocupacional ou fisioterapeuta para determinar quais, se for o caso, as modificações que podem ser feitas no símbolo. Por exemplo, se o aluno tem dificuldade de pegar a figura, faça-a mais espessa.”

Eles também destacam estratégias simples e eficazes para tornar as figuras mais acessíveis:

“Você pode imprimi-la em papel mais grosso, montá-la em um bloco de madeira, etc. Nós guardamos as tampas de embalagens de leite em pó ou potes de alimentos para bebês e montamos figuras sobre elas, porque esse material é rígido e praticamente indestrutível! Outra estratégia é colocar uma espécie de ‘pino’ no símbolo. Novamente, monte-a em um pedaço espesso de madeira e parafuse um pino na madeira para servir como uma alça (semelhante a quebra-cabeças de peças que têm pinos).”

Essas orientações são reforçadas aqui no Brasil por especialistas que recomendam ajustes personalizados nas figuras, de acordo com as necessidades motoras do usuário, respeitando as particularidades de cada um.

Comunicação acessível desde o início

As adaptações podem ser planejadas antes mesmo de começar o PECS, com base na observação da equipe e na avaliação do Terapeuta Ocupacional e/ou Fisioterapeuta. Em outros casos, surgem naturalmente ao longo do processo de ensino. O mais importante é lembrar: a comunicação deve ser acessível desde o início.

Se você já adaptou figuras do PECS para seu filho ou aluno, compartilhe sua experiência com a escola, a clínica ou outros profissionais. O intercâmbio de ideias fortalece a prática e amplia as possibilidades de sucesso para todos os usuários.

Agradecimentos

Agradecemos à Anne Overcash, MEd, Consultora da Pyramid Educational Consultants (EUA), pelas valiosas recomendações e pela autorização para compartilhar suas experiências com a Ashley Battista, MOT, OTR/L. Isso foi essencial na elaboração deste artigo.

Referências

  • BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.
  • BONDY, A.; FROST, L. Manual de Treinamento PECS: Sistema de Comunicação por Troca de Figuras. Newark, DE: Pyramid Educational Consultants, 2002.
  • OVERCASH, Anne; BATTISTA, Ashley. How to modify PECS pictures for access and success: Tips from an occupational therapist. PECS USA Blog, 2022. Disponível em: https://pecsusa.com/blog/how-to-modify-pecs-pictures-for-access-and-success-tips-from-an-occupational-therapist/
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Fonoaudióloga, mestre em estudos linguísticos pela Universidade de Londres, tem curso avançado de autismo credenciado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Diretora geral da Pyramid Consultoria Educacional do Brasil, tem uma sólida experiência de trabalho com crianças e adultos com ampla gama de dificuldades de comunicação por razões variadas: físicas, mentais, sociais e emocionais. O primeiro curso PECS que frequentou foi em 2002 e desde então PECS tornou-se parte de sua prática diária.

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