3 de setembro de 2021

Tempo de Leitura: 2 minutos

Há mais de um ano estamos vivenciando uma pandemia, e o pior é que ainda não sabemos quando isso irá terminar. Durante esse período tive de me adaptar por diversas vezes e confesso que ainda tenho receio de mudanças, mas tenho ciência de que todas elas foram necessárias.

A pandemia veio em um momento inesperado, e tive que parar tudo por causa do distanciamento social imposto. No entanto, sei que essa é uma medida de suma importância para diminuir a propagação do vírus. Diante disso, deixei de ir à faculdade, à igreja e, consequentemente, não via mais meus amigos. Pensei que essas medidas durariam alguns meses, mas os meses foram se passando, e cada vez mais a pandemia foi se agravando sem a previsão de quando tudo iria terminar. Toda essa incerteza me deixava mais angustiada.

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Durante a pandemia surgiram estratégias sobre o que fazer, e os coaches falavam em aproveitar o tempo, já que todos estavam em casa, indicando que seria uma época de estudar para concursos, aprender um novo idioma, conhecer novas receitas ou praticar exercícios em casa, entre outras atividades. Contudo, eu estava mais cansada do que nunca e me sentia pressionada já que todos estavam fazendo  coisas novas, e eu não conseguia fazer o básico. 

Em muitas manhãs nem arrumei minha cama. Deixei matérias da faculdade acumularem-se, não tive ânimo algum para fazer coisas novas e, muitas vezes, faltou vontade de fazer até mesmo as coisas que eu gosto.

Na faculdade, tive que me adaptar ao ensino online. No começo, as aulas foram terríveis para mim, achei bem cansativo e não conseguia me concentrar. Eu me sentia incomodada sempre que minha mãe entrava no meu quarto durante a aula e me perguntava o que eu estava fazendo. Era aula de que? Eu estava entendendo? Eu gostava da matéria? A aula já estava acabando? Parecia que minha mãe ficava sempre me observando, e que eu não tinha mais tempo só para mim. 

Julgo essencial ter esse tempo para estar de bom humor. Muitas vezes quero ficar quieta no meu canto, ouvindo minha música, mexendo em meu celular, sem interagir com ninguém, e isso não significa que aconteceu alguma coisa, ou que eu esteja de mau humor, significa apenas que gosto de ter momentos só para mim.

Assim, durante a pandemia, esses momentos “só meus” diminuíram bastante, pois meus pais e meus irmãos estavam o tempo todo em casa. Eu estava a todo momento sob algum estímulo, ou sob vários, o que me deixava extremamente cansada. As discussões se tornaram mais frequentes, a TV estava sempre ligada e eu recebia, em um dia, notícias equivalentes às de um mês. 

Tantas notícias ruins me deixavam ansiosa e chorei diversas vezes por medo de perder alguém que eu amo. Outras vezes chorei por me comover com a perda do outro, o que me fez perceber o quanto somos vulneráveis diante da morte. E apesar de muitos questionarem a empatia dos autistas, quando as pessoas começam a conviver conosco percebem que autistas são pessoas como as demais, que somos seres humanos com sentimentos presentes. Embora tenhamos dificuldades em retratar o que sentimos, principalmente durante esta pandemia em que, inúmeras vezes, não consegui colocar o que eu sentia em palavras.

Natalia Batista Quirino de Morais é estudante de nutrição, nascida em Brasília (DF), tem 25 anos e recebeu o diagnóstico de autismo aos 13 anos.

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