4 de julho de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

Segundo dados divulgados recentemente pelo Censo 2022 do IBGE, o Brasil possui mais de 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O mesmo estudo indica que a maior incidência de diagnósticos está na faixa etária entre 5 e 9 anos (2,6%), contra apenas 0,9% na faixa etária a partir dos 25 anos.

No último dia 18 de junho, a comunidade atípica no Brasil e no mundo celebrou o Dia do Orgulho Autista. A data foi criada há 20 anos pelo movimento Aspies For Freedom, formado por pessoas autistas do Reino Unido. Seu objetivo é conscientizar a sociedade sobre a importância da identidade autista e reforçar que o autismo não é uma doença.

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Diferente do 2 de abril, Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, o Dia do Orgulho Autista foca não apenas na inclusão, mas também em mostrar que pessoas autistas, por meio de suas habilidades e talentos, podem sim levar uma vida plena e produtiva nos mais diversos campos do saber.

A luta pela representatividade após o diagnóstico

No final deste ano, completo 15 anos desde que recebi oficialmente meu diagnóstico de autismo. Receber um diagnóstico tardio, como no meu caso, traz uma mistura de sensações. A primeira delas é o alívio por finalmente entender quem você é — especialmente após anos se sentindo deslocado, como eu me senti, vítima de um diagnóstico equivocado feito por uma médica do SUS, o que afetou profundamente minha qualidade de vida.

Após o processo de autoaceitação e superação dos traumas causados, precisei ainda enfrentar o capacitismo e a falta de acolhimento dentro da própria comunidade atípica, o que impacta diretamente minhas relações sociais no dia a dia.

Como já disse em outros textos, o autismo não desaparece quando se chega à vida adulta, principalmente no caso de pessoas com nível de suporte 1. Ter um menor nível de suporte não significa ausência de dificuldades — pelo contrário. É enfrentar obstáculos para concluir uma graduação, acessar o mercado de trabalho e receber atendimento médico adequado no SUS, já que atualmente não tenho condições de pagar um plano de saúde.

O perigo da invalidação dos autistas adultos

Outro ponto problemático é a postura de parte da comunidade atípica, liderada por pais e mães de autistas, que frequentemente praticam capacitismo ao invalidar o diagnóstico de adultos autistas. Um exemplo é o uso da expressão “anjo azul”, extremamente negativa, pois reforça uma visão distorcida do autismo, tratando o autista como uma criança eterna, pura, ingênua e assexuada.

Essa narrativa é falsa e contribui para a exclusão de adultos autistas, especialmente aqueles com suporte 1, dos seus direitos básicos. Dizer que se defende a inclusão, enquanto na prática se transforma o autismo em uma estratégia de marketing para fins lucrativos, é incoerente e prejudica a luta real por dignidade e qualidade de vida da população autista.

Como aprendi nas aulas de História e Sociologia no curso de Jornalismo, não basta exigir direitos; é preciso também cumprir deveres como cidadão. Não desmereço as conquistas legais da última década, mas é importante lembrar que leis, por si só, não transformam a realidade se não forem aplicadas de forma concreta.

Congresso aprova lei que institui o Dia Nacional do Orgulho Autista

Na última quinta-feira (26), a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 3.391/20, de autoria do senador Romário (Podemos-RJ), que institui o Dia Nacional do Orgulho Autista no calendário oficial do Brasil. O objetivo da proposta é promover a conscientização sobre o autismo e valorizar as diferenças dentro da neurodiversidade.

Como o texto sofreu alterações na Câmara, ele ainda precisa passar por nova votação no Senado antes de seguir para sanção ou veto presidencial. Por isso, mais do que criar legislações com apelo midiático, é essencial que o Estado brasileiro desenvolva ações concretas para acolher os autistas adultos. Afinal, com nosso jeito único de ver o mundo, podemos contribuir de forma significativa para o crescimento e o bem-estar do país.

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