2 de março de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Essa foto é muito intrigante para mim, bem como o modelo que ela representa. Mesmo já tendo escrito sobre o tema aqui, resolvi entrevistar a bióloga Ariane Miranda de Freitas da equipe TEAMM – UNIFESP para conversar um pouco mais sobre o “modelo do copo” relacionado à genética do autismo.

Assunto complexo e que necessita de muito estudo (ainda no processo de ouvir, ler e perguntar) porém, a questão do ‘copo’ feminino e ainda, a real prevalência de meninos autistas ser maior são tópicos que merecem um início da conversa aqui.

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Seja lá pelo motivo que for, o ‘copo’ que constrói a mulher na biologia, é maior que o ‘copo’ masculino. O conteúdo dentro do ‘copo’ ajuda a definir quem somos ou seremos. Existem coisas herdadas e não herdadas, coisas que são colocadas nesse copo como mutações, fatores ambientais (não relacionados às relações afetivas parentais, mas a fatores peri e pós natal, uso de drogas lícitas e ilícitas, infecções virais como Influenza, rubéola, sarampo e que vão preenchendo o ‘copo’ até sua borda. Essas infecções causadas por esses vírus juntamente com fatores ambientais e fatores genéticos podem oferecer material para o ‘copo’; as vacinas são 100% seguras e NÃO causam autismo).

O que o tamanho do copo significa? Que mesmo com a força da herdabilidade (81% de ‘risco’ genético) nos copos de ambos os gêneros, só apresentará autismo o copo que estiver cheio até a borda. O que me fascinou nesse modelo é exatamente isso. Há mulheres autistas geneticamente falando, sem nunca terem apresentado qualquer sinal fenotípico (se é que entendi toda a história de maneira correta). Ainda, copos menores enchem com mais facilidade, implicando na relação de prevalência masculina x feminina do autismo.

Além disso, segundo conversa com Ariane, o duplo X que cabe ao gênero feminino, exerce uma função compensatória. O que ‘falta’ em um X, o outro empresta. Tal fato não ocorre no masculino por terem XY.

O terceiro fator de curiosidade é a maior capacidade de camuflagem do gênero feminino em relação ao masculino. Por um lado, há a conhecida camuflagem ou masking, uma espécie de disfarce usado pelas meninas e aprendido dentro de  um contexto histórico-cultural: meninas são mais quietinhas, são mais educadas, são mais obedientes e, acabam por aprender a se adaptar olhando nos olhos, sorrindo, entre outros comportamentos. Para além do aprendizado de tais comportamentos, a camuflagem é uma herança genética de vários seres da natureza que, para se defendem de predadores se assemelham fenotipicamente ao ambiente onde estão inseridos. Até onde vai meu conhecimento, não há nada que ligue geneticamente a camuflagem e o autismo em mulheres.

Atrelados ao nosso impulso de vida que urge em nos guiar para diversas formas de sobrevivência, as meninas autistas, dentro de contextos específicos, defendem-se camuflando emoções, sobrecargas, stims.

Qual o custo de tudo isso?

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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