31 de outubro de 2021

Tempo de Leitura: 2 minutos

Uma das maiores dificuldades no autismo é a socialização. Qualquer pessoa que entenda minimamente sobre TEA sabe disso. Porém, ainda existe alguma confusão sobre o assunto, pois muitas vezes ele é abordado apenas por uma perspectiva do que temos como padrão em nossa sociedade.

Acontece que esse padrão não serve, e cada vez mais isso fica claro. Ao entendermos que a humanidade é diversa, priorizar uma forma de existir em detrimento de tantas outras enquanto ser biopsicossocial não contempla as diferenças que constituem nossa existência enquanto povo.

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Ainda nesse sentido, pelo próprio significado da palavra, fica fácil de entender que ninguém socializa sozinho. Portanto, se o autista tem dificuldade de socializar num meio típico, logo as demais pessoas têm dificuldade de socializar com a pessoa autista.

E aqui fica mais aparente a confusão que citei. Por que, então, já que a socialização é uma via de mão dupla, existe essa impressão de que é a pessoa autista que tem que se adequar apenas?

Uma resposta possível que podemos cogitar, pelo entendimento do senso comum, é que a pessoa com TEA não gosta de socializar, que ela prefere ficar isolada e que vive no seu próprio mundo. Entretanto, nenhuma dessas afirmações são condizentes com a realidade.

Novamente, não passam de um entendimento equivocado de uma visão neurotípica sobre uma realidade que é diversa e vivenciada através dessa diversidade, cada um com seu ponto de interação diante de sua condição de existência.

E com isso precisamos separar o que é fato do que é mito. Fatos: existem autistas que não gostam de socializar, assim como existem pessoas típicas que não gostam de socializar. Assim, também existem pessoas que estão no espectro do autismo e outras neurotípicas que gostam de socializar. O grande mito aqui é que os autistas não gostam, que essa é uma característica do TEA. Entendam que gostar ou não é uma característica pessoal, o que de fato é inerente ao TEA é a dificuldade, e não o gostar.

Tendo isso esclarecido e também compreendendo a troca que implica o socializar, fica mais fácil entender o porquê da socialização, por vezes, machucar o autista. Não é fácil viver num meio onde parece que nós autistas estamos errados a todo momento. Dói tentar nos adequarmos a um padrão que não é o nosso para que sejamos aceitos como normais.

Por isso, é necessário que todos repensem como a inclusão vem com a vontade de adequação do todo. As dificuldades não precisam ser intransponíveis, e todos podemos ir ao encontro de uma comunicação mais efetiva.

Numa analogia simples, podemos pensar em um bebê que não se comunica como um adulto e não esperamos que o faça, ou ainda, não vamos esperar que ele fique adulto para nos comunicarmos com ele. Simplesmente nos adequamos para entender como ele se comunica, para que possamos interagir com ele com qualidade, afinal, ele é um bebê, e não um adulto. O bebê, em troca, não entende nossas palavras, mas capta nossos sinais e sente-se acolhido e aceito.

Assim deve ser na interação entre os diferentes. Cada um busca alcançar o mais próximo que o outro possa compreender, para que todos se sintam acolhidos e aceitos como normais, pois é o que de fato somos.

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Presidente da ONDA-Autismo e membro do Conselho de Autistas; ativista; administrador da página @autiesincero no Instagram, servidor público federal, palestrante e escritor.

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