1 de dezembro de 2021

Tempo de Leitura: 3 minutos

Cada vez mais a sociedade científica, os familiares e as pessoas com Transtorno do Espectro Autista se aprofundam para tentar responder como podemos oferecer serviços que promovam autonomia e bem-estar, de forma efetiva e ética, para os indivíduos com  TEA. O que já é consenso é que a intervenção para pessoas com TEA deve ser individualizada ⎼ levando em conta, sobretudo, a singularidade do aprendiz – e multiprofissional.

Em 2020, o National Professional Developmental Center (NPDC) publicou uma revisão sistemática com o propósito de descrever uma série de práticas focais que têm evidências claras dos seus efeitos positivos em crianças e jovens com Transtorno do Espectro Autista. O relatório é a terceira versão de uma revisão sistemática que examinou a literatura de intervenção em artigos publicados entre 1990 e 2017.  Após anos de coletas de dados de análises de artigos, sendo que um total de 972 artigos foram considerados aceitáveis para o estudo, resultou uma lista de 28 práticas baseadas em evidência para o TEA. 

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Para se considerar uma prática baseada em evidência é necessário, entre outros critérios, que ela tenha sido estabelecida por meio de pesquisa empírica publicada em periódicos científicos revisados por pares em estudos randomizados. 

O documento não é o primeiro grande estudo na área das intervenções baseadas em evidências para o TEA. Em 2015, O National Autism Center (NAC) tornou público o resultado do National Standards Project, um grandioso estudo que teve como objetivo principal fornecer informações críticas sobre quais intervenções se mostraram eficazes para indivíduos com autismo.

Os estudos acima, somados com uma maior disseminação de conhecimento sobre TEA no país, motivam cada vez mais a comunidade a elevar a qualidade dos serviços oferecidos por aqui. Mais recentemente, em manifestação pioneira no país, a Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) divulgou uma proposta de padronização para o tratamento de pessoas com TEA no Brasil, esclarecendo pontos importantes sobre avaliação diagnóstica, exames que devem ser solicitados, e tratamentos com evidências.

Segundo a publicação, a avaliação de crianças com TEA deve incluir, entre outros fatores, a história do desenvolvimento neuropsicomotor, antecedentes gestacionais e neonatais, comportamentos do sono e alimentar, a história médica da criança, a procura de sinais de convulsões, problemas gastrointestinais, deficiência intelectual, síndrome do X-frágil, além da investigação de outras possíveis comorbidades.

Já no tocante às intervenções, segundo a SBNI, o tratamento do TEA caracteriza-se por intervenção precoce através de terapias que visam potencializar o desenvolvimento da criança. O documento prossegue afirmando que atualmente as terapias com maior evidência de benefício são baseadas na ciência da Análise do Comportamento Aplicada (ABA – Applied Behavior Analysis), associada a terapias auxiliares, como fonoterapia, terapia ocupacional e que outras abordagens devem ser orientadas de acordo com cada caso individual.  

O documento ainda traz questões importantes sobre o uso de medicamentos, que eventualmente pode ser necessário em casos de presença de agressividade e hiperatividade, e faz um alerta sobre dietas, suplementações de vitaminas e vários tipos de abordagens terapêuticas/educacionais que têm sido propostas para o tratamento do TEA, e que, entretanto, não apresentam evidências científicas de que funcionem.

Ainda há um longo caminho a percorrer. Infelizmente, a intervenção analítico-comportamental é inacessível à maioria dos indivíduos diagnosticados com TEA em países em desenvolvimento como o Brasil, uma vez que uma intervenção intensiva, de longa duração e implementada de forma individualizada, requer grande disponibilidade de profissionais devidamente capacitados, o que ainda é um desafio que precisa ser rompido. A fragilidade das redes públicas de educação e de saúde torna o acesso à intervenção analítico-comportamental ao TEA (ABA) difícil de alcançar toda a população que dela necessita. No entanto, é visível que cada vez mais caminha-se nessa direção: o das práticas com evidências.

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Fabio Coelho é psicólogo clínico e idealizador da Academia do Autismo.

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