3 de junho de 2021

Tempo de Leitura: 2 minutos

Em meu livro de estreia, “Outro Olhar”, lançado em 2015, registrei, no que se refere ao Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), que “a ansiedade, comum na síndrome, deve ser canalizada para algo prazeroso e produtivo” (Mendonça, 2015, p. 22). Eu estava com 18 anos à época e procurava meios de me manter ativa, pois o tédio sempre foi gatilho para minhas crises. Era algo que chegava de mansinho, fomentado por eu não conseguir gerenciar bem as tarefas do meu dia, muitas vezes por dificuldade em tomar decisões sobre o que fazer ou como organizar minha rotina, o que, aos olhos de pessoas neurotípicas, podem parecer tarefas corriqueiras e mesmo intuitivas.

O hiperfoco em artes e comunicação me preparou para entender outras pessoas e a galgar espaços profissionais e sociais com maior plenitude. Esse interesse intenso, destinado a assuntos específicos por um cérebro hiperexcitado, sempre foi meu aliado para lidar com sintomas de depressão e ansiedade que enfrentei por toda a vida. Minha paixão por determinados produtos midiáticos, como os livros de Sophie Kinsella e o cinema de Sofia Coppola, além do estudo do budismo e de outros temas, me trazem paz e equilíbrio em momentos difíceis. 

Publicidade
ExpoTEA

À medida que comecei a produzir meus próprios conteúdos, desenvolvi uma espécie de compulsão por essa atividade. Minha mãe brinca que, em alguns momentos, eu preciso de um grande evento para me sentir bem. Em breve, nós duas comunicaremos algumas notícias maravilhosas com relação aos novos rumos do nosso projeto “O Mundo Autista”. 

Essas novidades me deixam muito feliz, mas também me causam maior ansiedade. Não por qualquer receio de que algo venha a dar errado, mas porque de repente eu me vejo não conseguindo não pensar em outra coisa por algumas horas do meu dia. O hiperfoco constitui uma parte importante do meu estar no mundo, mas, ao mesmo tempo em que ele pode ser utilizado para aliviar a ansiedade, também pode potencializar essa característica que, em excesso, é desagradável. É como quando somos crianças e descobrimos que vamos fazer um passeio legal, mas o que é a priori algo alegre por vezes nos faz perder o sono até o dia do evento chegar. 

COMPARTILHAR:

Jornalista, escritora, apresentadora, pesquisadora, 24 anos, diagnosticada autista aos 11, autora de oito livros, mantém o site O Mundo Autista no portal UAI e o canal do YouTube Mundo Autista.

Validade de laudo de autismo tem prazo estendido em Goiás

Adolescentes autistas que sofrem bullying tem 2 vezes mais chances de pensar em suicídio, diz estudo

Publicidade
Assine a Revista Autismo
Assine a nossa Newsletter grátis
Clique aqui se você tem DISLEXIA (saiba mais aqui)