5 de novembro de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

Você já parou para pensar se tudo o que está sendo ensinado ao seu filho – ou ao seu aluno – realmente fará a diferença na vida dele?

Com tantas terapias, atividades e tarefas escolares, é comum focar no “o que” ensinar e esquecer de refletir sobre o “por que”, para quê” e o “como”. Afinal, o objetivo do ensino não deve ser apenas cumprir currículos ou atingir marcos de desenvolvimento, mas preparar a criança para viver de forma mais autônoma e participativa.

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Em 1987, o TASH Newsletter publicou a história de Daryl, um jovem de 18 anos que passou anos aprendendo tarefas que pouco contribuíram para sua independência. Daryl sabia como agrupar objetos por cor, contar até 100 e identificar preposições como “acima”, “abaixo”, “dentro” e “fora”. No entanto, ele não sabia como contar o dinheiro para pagar uma compra, jogar seu lixo fora, pedir comida em um restaurante e várias outras habilidades importantes.

Esta história nos convida a refletir: tudo o que está sendo ensinado ao seu filho/aluno realmente fará uma diferença prática em sua vida?

O ensino vai muito além de transmitir habilidades acadêmicas. Ensinar é preparar para o futuro – e isso significa priorizar o ensino de habilidades funcionais, relevantes e significativas que ajudem a criança, o jovem ou o adulto a se tornarem mais independentes em casa, na escola e na comunidade.

Esse é um dos elementos da Abordagem Educacional da Pirâmide (R), descrita pelo Dr. Andy Bondy. Também conhecida como ABA Funcional, essa metodologia propõe que o ensino se inicia com habilidades úteis e socialmente relevantes, sempre voltadas para a participação ativa e a qualidade de vida.

Precisamos focar no ensino funcional

É comum que os conteúdos propostos para alunos com deficiências moderadas a graves sejam baseados em testes padronizados ou marcos típicos de desenvolvimento. No entanto, esses instrumentos não foram feitos para orientar o ensino funcional.

Transformar itens de teste em metas de ensino pode levar à prática de habilidades de ensino que, apesar de parecerem importantes no papel, não fazem sentido no dia a dia da criança. O caso de Daryl é um aviso claro: ele aprendeu muitas coisas, mas não as que realmente precisaria para viver de forma autônoma.

Cada momento que uma criança passa aprendendo é precioso, e é por isso que é tão importante focar nas habilidades que realmente importam – habilidades que se adaptam à sua idade, à sua vida diária e ao seu futuro.

A casa e a comunidade como ambientes de ensino

A escola é um espaço essencial, mas muitas habilidades importantes são aprendidas de forma mais eficaz no contexto através da prática, em casa ou na comunidade: usar o micro-ondas com segurança, atravessar a rua, organizar sua mochila para ir à escola, entre outras.

Os pais não precisam transformar sua casa em uma “sala de aula”. Em vez disso, eles devem aprender a reconhecer momentos naturais nas atividades cotidianas – preparar uma refeição, tomar banho, ir ao supermercado ou pôr a mesa. Essas são oportunidades significativas e perfeitas para ensinar habilidades úteis para a vida.

Ensinar habilidades funcionais no contexto natural é altamente benéfico porque promove imediatamente a generalização e a independência. A criança aprende porque a atividade faz parte da vida dela, e não porque foi treinada em uma tarefa isolada.

Ensinar a responder e agir espontaneamente

Ensinar não é apenas treinar a criança para responder a comandos, como “Pegue o copo” ou “Diga oi”. É também promover ações espontâneas, tais como:

  • Dizer que você está com fome;
  • Pedir ajuda;
  • Escolher um canal na TV;

Esses comportamentos espontâneos precisam ser ensinados, incentivados e valorizados. Quando a criança aprende a agir por conta própria, ela se torna menos dependente dos adultos e mais participativa do ambiente em que vive.

Este é outro elemento-chave da Abordagem Educacional da Pirâmide: ensinar habilidades que apoiem a criança a se comunicar, se expressar e se tornar mais autônoma e funcional nas atividades diárias.

Conclusão

Ensinar é mais do que transmitir conteúdo escolar. Ensinar é preparar para a vida. Ensinar é investir na vida presente e futura da criança, oferecendo-lhe ferramentas para participar com mais segurança, independência e dignidade no seu dia a dia.

Por isso, é fundamental garantir que o tempo e o esforço dedicados ao ensino estejam focados no que realmente importa: autonomia, bem-estar e participação ativa na vida familiar, escolar e social.

Escolha metas de ensino que sejam significativas, úteis e valorizadas por aqueles que moram, convivem com a criança — agora e no futuro.

Ao integrar o ensino nas rotinas do lar e da comunidade, transformamos pequenas tarefas em grandes conquistas. Cada habilidade adquirida – não importa quão pequena possa parecer – representa um passo importante em direção à independência.

Referências:

  • Bondy, A., & Frost, L. (2001). A abordagem educacional em pirâmide- ABA Funcional. Consultores Educacionais da Pyramid.

Boletim TASH (1987). Volume 13, Número 3. A história de Daryl.

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Fonoaudióloga, mestre em estudos linguísticos pela Universidade de Londres, tem curso avançado de autismo credenciado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Diretora geral da Pyramid Consultoria Educacional do Brasil, tem uma sólida experiência de trabalho com crianças e adultos com ampla gama de dificuldades de comunicação por razões variadas: físicas, mentais, sociais e emocionais. O primeiro curso PECS que frequentou foi em 2002 e desde então PECS tornou-se parte de sua prática diária.

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