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Você já parou para pensar se tudo o que está sendo ensinado ao seu filho – ou ao seu aluno – realmente fará a diferença na vida dele?
Com tantas terapias, atividades e tarefas escolares, é comum focar no “o que” ensinar e esquecer de refletir sobre o “por que”, “para quê” e o “como”. Afinal, o objetivo do ensino não deve ser apenas cumprir currículos ou atingir marcos de desenvolvimento, mas preparar a criança para viver de forma mais autônoma e participativa.
Em 1987, o TASH Newsletter publicou a história de Daryl, um jovem de 18 anos que passou anos aprendendo tarefas que pouco contribuíram para sua independência. Daryl sabia como agrupar objetos por cor, contar até 100 e identificar preposições como “acima”, “abaixo”, “dentro” e “fora”. No entanto, ele não sabia como contar o dinheiro para pagar uma compra, jogar seu lixo fora, pedir comida em um restaurante e várias outras habilidades importantes.
Esta história nos convida a refletir: tudo o que está sendo ensinado ao seu filho/aluno realmente fará uma diferença prática em sua vida?
O ensino vai muito além de transmitir habilidades acadêmicas. Ensinar é preparar para o futuro – e isso significa priorizar o ensino de habilidades funcionais, relevantes e significativas que ajudem a criança, o jovem ou o adulto a se tornarem mais independentes em casa, na escola e na comunidade.
Esse é um dos elementos da Abordagem Educacional da Pirâmide (R), descrita pelo Dr. Andy Bondy. Também conhecida como ABA Funcional, essa metodologia propõe que o ensino se inicia com habilidades úteis e socialmente relevantes, sempre voltadas para a participação ativa e a qualidade de vida.
Precisamos focar no ensino funcional
É comum que os conteúdos propostos para alunos com deficiências moderadas a graves sejam baseados em testes padronizados ou marcos típicos de desenvolvimento. No entanto, esses instrumentos não foram feitos para orientar o ensino funcional.
Transformar itens de teste em metas de ensino pode levar à prática de habilidades de ensino que, apesar de parecerem importantes no papel, não fazem sentido no dia a dia da criança. O caso de Daryl é um aviso claro: ele aprendeu muitas coisas, mas não as que realmente precisaria para viver de forma autônoma.
Cada momento que uma criança passa aprendendo é precioso, e é por isso que é tão importante focar nas habilidades que realmente importam – habilidades que se adaptam à sua idade, à sua vida diária e ao seu futuro.
A casa e a comunidade como ambientes de ensino
A escola é um espaço essencial, mas muitas habilidades importantes são aprendidas de forma mais eficaz no contexto através da prática, em casa ou na comunidade: usar o micro-ondas com segurança, atravessar a rua, organizar sua mochila para ir à escola, entre outras.
Os pais não precisam transformar sua casa em uma “sala de aula”. Em vez disso, eles devem aprender a reconhecer momentos naturais nas atividades cotidianas – preparar uma refeição, tomar banho, ir ao supermercado ou pôr a mesa. Essas são oportunidades significativas e perfeitas para ensinar habilidades úteis para a vida.
Ensinar habilidades funcionais no contexto natural é altamente benéfico porque promove imediatamente a generalização e a independência. A criança aprende porque a atividade faz parte da vida dela, e não porque foi treinada em uma tarefa isolada.
Ensinar a responder e agir espontaneamente
Ensinar não é apenas treinar a criança para responder a comandos, como “Pegue o copo” ou “Diga oi”. É também promover ações espontâneas, tais como:
- Dizer que você está com fome;
- Pedir ajuda;
- Escolher um canal na TV;
Esses comportamentos espontâneos precisam ser ensinados, incentivados e valorizados. Quando a criança aprende a agir por conta própria, ela se torna menos dependente dos adultos e mais participativa do ambiente em que vive.
Este é outro elemento-chave da Abordagem Educacional da Pirâmide: ensinar habilidades que apoiem a criança a se comunicar, se expressar e se tornar mais autônoma e funcional nas atividades diárias.
Conclusão
Ensinar é mais do que transmitir conteúdo escolar. Ensinar é preparar para a vida. Ensinar é investir na vida presente e futura da criança, oferecendo-lhe ferramentas para participar com mais segurança, independência e dignidade no seu dia a dia.
Por isso, é fundamental garantir que o tempo e o esforço dedicados ao ensino estejam focados no que realmente importa: autonomia, bem-estar e participação ativa na vida familiar, escolar e social.
Escolha metas de ensino que sejam significativas, úteis e valorizadas por aqueles que moram, convivem com a criança — agora e no futuro.
Ao integrar o ensino nas rotinas do lar e da comunidade, transformamos pequenas tarefas em grandes conquistas. Cada habilidade adquirida – não importa quão pequena possa parecer – representa um passo importante em direção à independência.
Referências:
- Bondy, A., & Frost, L. (2001). A abordagem educacional em pirâmide- ABA Funcional. Consultores Educacionais da Pyramid.
Boletim TASH (1987). Volume 13, Número 3. A história de Daryl.
Soraia Vieira





