1 de setembro de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Se temos filhos, forçosamente temos preocupações. São diferentes, no entanto, de acordo com os filhos. 

Meu caçula, de trinta e um anos, está no espectro autista. Caso clássico, não verbal, com muitas dificuldades específicas. Certamente não terá como ser autossuficiente na vida. Mas quanto menos dependente, melhor. Precisamos ser realistas, até para preparar, minimamente, o futuro. 

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Se nosso filho tiver certa independência econômica, ele se tornará uma carga menos pesada a quem quer que venha a se responsabilizar por ele. Estamos trabalhando nisso, principalmente em termos legais. Existem mecanismos que possibilitam que filhos sejam dependentes do pai (ou da mãe) vindo a herdar sua aposentadoria. Tudo perfeitamente legal, mas não automático. Há necessidade de alguns procedimentos jurídicos que, apesar de demorados e burocráticos, são eficientes.

Outro objetivo é a autonomia nas atividades diárias. Essas são habilidades fundamentais, mas, em alguns casos, precisam ser muito bem treinadas. Como aqui em casa, por exemplo.  No entanto, para além da capacidade individual de tomar um banho ou escovar os dentes, há aquela mais complicada, de se auto determinar. Quando tomar banho? Que roupa vestir? Isso é mais complicado. Enquanto estamos com nosso filho, tudo bem, nós damos o comando. Mas, nem sempre estaremos, então é preciso aprender. Por outro lado, não dá para ser algo dogmático, afinal, se um dia qualquer você não consegue tomar seu banho na hora habitual é necessário ter uma certa tolerância para encarar mudanças de rotina. Sem falar na insistência diária. Meu filho, se puder, “esquece” o que já aprendeu, se eu bobear. Outro detalhe é saber dosar a recompensa, no caso em pauta, o elogio. É preciso que ele aprenda a fazer suas tarefas, bem feitas, na hora correta, sem precisar de alguém para lhe assegurar que ele fez tudo certinho! Trabalho em tempo integral. Não impossível, mas cansativo e, por isso mesmo, não deve ser feito com pressa ou prazos. No meu caso, o que não deu para fazer hoje, faz-se amanhã. Aos trinta e um anos, todo aprendizado é lucro. E eles ocorrem, lentamente, mas sempre como acontecimentos agradáveis.

Pois então,há muita coisa a fazer no prazo de uma vida. E tudo isso só porque eu quero que um certo ditado, que eu ouvia muito de minha madrinha, se mostre verdadeiro: “de imprescindíveis o inferno está cheio!” É isso, posso até ir para o inferno, mas não quero ser imprescindível para meu filho quando eu me for. 

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É casada e mãe de dois filhos, sendo o mais moço autista severo. Formou-se em odontologia, exerceu a profissão até 2006, quando decidiu dedicar-se integralmente ao filho.

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