1 de dezembro de 2023

Tempo de Leitura: 3 minutos

Quem nunca adiou alguma tarefa que não queria fazer, ou uma situação que queria evitar? Quase todo mundo, certo? Mas, para algumas pessoas, esse adiamento (procrastinação) acontece com maior frequência e, entre elas, pessoas com TEA, TDA ou TDAH.

As causas desse comportamento podem variar, sendo, geralmente, decorrentes de:

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– Medo de falhar: 

Receio de cometer erros, por isso, evitar a tarefa, evita (possíveis) erros.

– Perfeccionismo:

Não começar significa que não se corre risco de não estar bom o suficiente. Os perfeccionistas sofrem com a pressão interna de não poderem cometer falhas. Ao começar um projeto pode significar insegurança.

– Prejuízo nas funções executivas: 

Dificuldade no planejamento, na organização, na priorização, na tomada de iniciativa, na visualização do contexto geral (imaginar o resultado da tarefa).

– Falta de disciplina ou falta de motivação:

Quando falta (auto)disciplina, ou motivação intrínseca, fica difícil movimentar-se em direção ao que deve ser feito.

No TEA e TDAH, existem causas como a falta de energia muitas coisas que devem ser feitas em um só dia , ou dificuldade nas funções executivas, na organização e planejamento para começar e terminar uma tarefa.

Fato é que procrastinar custa mais energia ainda. É como se tivesse uma “aba de computador” aberta na cabeça, lembrando a gente que tem de fechar. Aquela sensação chata de “Ai, meu Deus, eu tenho que terminar minha monografia…” que fica martelando o cérebro, causando estresse, ansiedade e diminuindo a energia. E muitas vezes a pessoa acaba tendo que fazer no último minuto, o que traz mais nervosismo ainda, e mais chance de a tarefa não ter ficado como ela queria. O inverso também pode ser verdadeiro, ou seja, a pessoa procrastinar porque sente estresse, ou está em período de burnout.

Por isso é tão necessário intervir nesse processo de ficar adiando o que é importante. A procrastinação é um comportamento aprendido, ou melhor, praticado, que virou hábito, então, a boa notícia é desaprender. No autismo, não é fácil livrar-se desse comportamento. É fundamental o terapeuta descobrir de onde vem esse comportamento, que pode ter causas diferentes daquelas de pessoas sem autismo.

Terapia

A gente explica para a pessoa autista, em primeiro lugar, os benefícios de ver suas tarefas cumpridas, o que pode não estar claro para ela. Comentários como: “poxa vida, você é tão inteligente! Como pode não ver que esse adiamento vai te prejudicar?” além de não ajudar, podem atrapalhar, e trazer irritação ou estresse adicional de não se sentir compreendido naquilo que a pessoa autista sabe que é um problema, mas não sabe resolver sozinha. Lembre que essa percepção é sua, mas pode não ser ainda a do autista.. 

Opções 

Se uma tarefa é complexa, é sempre bom dividi-la em etapas. Por exemplo, um trabalho de pesquisa da faculdade que não acaba. Fazer tudo de uma vez vai ser bem difícil. Então, faça em etapas:

– Defina os temas;

– selecione sites onde vai explorar a temática;

– comece o dia já escrevendo algumas informações, ou uma página sobre o assunto;

– deixe um lembrete no seu celular de que é hora de trabalhar no projeto;

– peça auxílio de seus pais ou amigo para lembrá-lo de fazer alguma coisa pelo projeto naquele dia;

– deixe seu celular no modo avião para evitar distrações. Melhor ainda é manter o celular em outro aposento enquanto você termina a etapa do dia.

Uma técnica que tem dado certo é a de começar o dia por aquilo que você tem que fazer para que o resto do dia seja mais leve. Outro método que funciona muito bem é o da psicóloga russa, Bluma Zeigarnik. O método Zeigarnik consiste na premissa de que o ser humano se recorda mais facilmente daquilo que não está terminado ainda. Com isso, enquanto não se termina uma tarefa, mais se lembra dela, há estresse. A solução seria começar de qualquer jeito, com pequenos passos, colocando palavras-chave em um mapa digital, por exemplo. A sensação de estar começando (naquilo que o cérebro vem martelando) é um estimulante natural para seguir com os passos. 

Terminar uma tarefa que fica remoendo na cabeça enquanto não é cumprida aumenta o nível de dopamina. A dopamina é um neurotransmissor, também chamado de hormônio da felicidade, que aumenta a sensação de prazer, satisfação e aumenta a motivação. É nessa espiral positiva que a gente quer entrar, não é? Então, não vamos aceitar a procrastinação como fazendo parte, como “eu sou assim e pronto”, e tentar trabalhar nesse comportamento que virou hábito, para que você, pessoa autista, TDAH, ou não, tenha melhor qualidade de vida e sucesso nas suas tarefas!

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Jornalista, mãe de um autista adulto, radicada na Holanda desde 1985, escritora — autora do livro Caminhos do Espectro (lançado no Brasil em dezembro de 2021) —, especialista em autismo & desenvolvimento e autismo & comunicação, além de ativista internacional pela causa do autismo.

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