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A comunicação é uma parte fundamental do desenvolvimento humano. É por meio dela que expressamos pensamentos, sentimentos, desejos e necessidades. Para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou outras deficiências que comprometem a fala, a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) oferece meios eficazes de interação.
Vou apresentar para vocês estratégias simples e práticas para professores implementarem a CAA na sala de aula, com foco no Sistema de Comunicação por Troca de Figuras (PECS). Também destacamos a importância da comunicação como um direito humano básico e um recurso pedagógico poderoso para promover inclusão.
O que é Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA)?
A Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) inclui métodos, estratégias e dispositivos que ajudam ou substituem a fala. Ela facilita a comunicação de pessoas com dificuldades na expressão verbal, como crianças com TEA.
A CAA pode ser feita com pranchas de comunicação, aplicativos, gestos, sinais ou troca de figuras. O importante é garantir que a pessoa tenha um meio eficaz de se comunicar.
É essencial destacar que a CAA é reconhecida como um direito de toda pessoa, conforme a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015). A lei assegura o acesso à comunicação como parte da cidadania plena.
PECS: Uma CAA Reconhecida como Intervenção Padrão Ouro
O Sistema de Comunicação por Troca de Figuras (PECS) é uma das formas mais conhecidas e eficazes de CAA. Desenvolvido por Andy Bondy e Lori Frost, o PECS ensina crianças a se comunicarem de forma funcional por meio da troca de figuras com imagens/fotos/figuras que representam objetos, ações, pessoas ou sentimentos.
A Sociedade Brasileira de Pediatria reconhece o PECS como uma intervenção padrão ouro para crianças com TEA, devido à sua eficácia comprovada em estudos científicos e à melhora observada no comportamento e na comunicação dos alunos.
Com o PECS, as crianças aprendem a fazer solicitações, responder perguntas e até comentar sobre o ambiente e expressar seus sentimentos.
Estratégias Práticas para Implementar o PECS na Sala de Aula
- Avaliação de Interesses do Aluno
Antes de elaborar as figuras que serão usadas, é fundamental que o professor avalie cuidadosamente os interesses e preferências do aluno.
- Figuras baseadas em itens motivadores aumentam as chances do aluno se engajar na troca de figuras.
• No início, o foco principal deve ser o ensino de pedidos, pois são naturalmente mais reforçadores para a criança.
• Com o tempo, outras funções comunicativas — como comentar, responder e fazer perguntas — serão introduzidas de forma gradual. - O ensino da discriminação entre figuras deve ser realizado de maneira clara e progressiva. Um erro comum na aplicação da CAA é apresentar várias figuras de uma só vez, sem qualquer preparação prévia. O aluno precisa aprender a identificar e escolher corretamente a figura que representa o item ou a atividade desejada. Seguindo a abordagem sistemática e estruturada oferecida pelo protocolo PECS para o ensino da discriminação, o aluno aprende a fazer escolhas intencionais, consistentes e apropriadas.
- Uso de Pastas de Comunicação
Cada aluno deve ter uma pasta de comunicação personalizada, com figuras que representem itens, ações e atividades do seu dia a dia escolar.
- As pastas devem estar sempre acessíveis.
- As figuras devem ser organizadas de forma simples e clara.
- Podem ser adaptadas para necessidades físicas ou visuais dos alunos.
- Parceiros de comunicação
Os colegas podem ser os parceiros de comunicação. O único pré-requisito para exercer esta função é saber compartilhar. No começo pode ser que o professor tenha que auxiliar neste processo orientado o colega o que ele deve fazer ex. receba a figura e entregue o item que ele está solicitando.
É essencial que o parceiro também aprenda a seguir a liderança do colega que utiliza a CAA, valorizando suas iniciativas e escolhas. Isso inclui, por exemplo, esperar que ele indique o que deseja antes de agir, como quando tenta pegar um item em uma prateleira ou tinta durante uma atividade artística. Essa postura fortalece e promove interações mais significativas
4 . Reforço Positivo e Oportunidades Reais de Comunicação
No início do uso do PECS, é essencial reforçar cada tentativa de comunicação. Isso motiva a criança e fortalece o aprendizado da troca de figuras.
À medida que o aluno avança:
- Ensine que nem tudo estará disponível sempre. Use cartão visual como “Espere” ou símbolo do “Não” para ajudar na frustração e desenvolver a tolerância.
- Crie programas visuais com a rotina, mostrando quando certos itens/atividades estarão disponíveis (ex.: “a bola estará disponível à tarde”).
- 5. Integração com o Currículo Escolar
Incorporar o PECS nas atividades do dia a dia da escola é essencial. Algumas ideias práticas:
- Solicitar:
- Pedir alimentos na hora do lanche.
- Solicitar um equipamento na aula de educação física.
- Pedir ajuda para completar uma atividade.
- Comentar:
- Dizer o que viu no livro.
- Falar sobre o clima do dia.
- Expressar qual o ingrediente favorito na aula de culinária.
O mais importante é oferecer situações naturais e significativas para o uso do PECS, para que a comunicação se torne funcional e espontânea.
- 6. Colaboração e Treinamento
A consistência no uso do PECS é essencial para o sucesso. Para isso:
- A parceria com as famílias deve ser contínua, com trocas de informações e orientações para aplicar o PECS também em casa.
- A formação em PECS é fundamental para usar estratégias de ensino eficazes e garantir o progresso da criança.
- Professores e cuidadores devem participar de formações.
Benefícios do PECS na Sala de Aula
- Melhora da comunicação funcional: As crianças conseguem expressar seus desejos e sentimentos, o que diminui frustrações e comportamentos desafiadores.
- Desenvolvimento da linguagem: Muitas crianças expandem o vocabulário e estrutura de frases, e alguns começam a desenvolver fala com o uso do PECS. As crianças também apresentam impacto positivo na compreensão de instruções tanto visuais quanto orais.
- Inclusão social e acadêmica: Ao se comunicar, a criança participa mais das atividades escolares, se integra com os colegas e aprende com mais autonomia.
A implementação do PECS na sala de aula é uma ação poderosa para a inclusão de alunos com autismo ou outras deficiências que afetam a comunicação.
Com planejamento, apoio profissional e colaboração entre escola e família, é possível criar um ambiente acolhedor onde toda criança tenha voz, vez e oportunidades de aprendizado.
A CAA, e em especial o PECS, são mais do que estratégias pedagógicas – são instrumentos de cidadania, dignidade e inclusão.
Referências Bibliográficas:
Bondy, A.; Frost, L. Manual de treinamento PECS: Sistema de Comunicação por Troca de Figuras, Newark, DE: Pyramid Educational Consultants, 2002.
Levy, E. T. S.; Elias, N. C.; Benitez, P. Comunicação por troca de figuras e relações condicionais com estudantes com autismo. Psicologia da Educação, n. 47, 2018.
Santos, P. A.; et al. O impacto da implementação do Picture Exchange Communication System – PECS na compreensão de instruções em crianças com Transtorno do Espectro do Autismo. CoDAS, v. 33, n. 2, 2021.
Porlan de Oliveira, T.; Campos de Jesus, J. Análise de sistema de comunicação alternativa no ensino de requisitar por autistas. Psicologia da Educação, n. 42, 2016.
Brasil. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015). Brasília, 2015.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Transtorno do Espectro do Autismo. Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento. São Paulo: SBP Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/21775c-MO_-_Transtorno_do_Espectro_do_Autismo.pdf.