23 de março de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Particularmente, considero-me uma ativista. Um ativista, segundo pesquisa, renega ideias fechadas e verdades absolutas. O conceito do ativismo é a reflexão de um grupo sobre propostas de mudança que atendam as necessidades singulares imediatas. É um conceito horizontalizado, ou seja, múltiplas mentes trabalham e divulgam as ideias e necessidades a serem atendidas. Ela é mais associada aos movimentos políticos de esquerda por pensarem em necessidades contextualizadas e não em verdades absolutas para todos.

O conceito de ativismo vem sendo amplamente divulgado e discutido e é muito presente entre os autistas, defendendo a unicidade de necessidades dentro do espectro, até mesmo diante de métodos de acompanhamento.

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E a militância? O que é? Militar é defender ideias únicas e absolutas, “produzindo comportamentos enrijecidos e até intolerantes”, segundo a pesquisa citada. É um movimento mais associado à direita.

Vamos pensar sobre o autismo e as diferenças entre ativismo e militância. O ativista pensa na necessidade, no contexto e na reflexão, enquanto o militante pensa no absoluto.

O capacitismo é o melhor exemplo para entendermos a diferença entre ambos. O ativista vai lutar contra todas as formas de descriminalização e falta de acessibilidade; peguemos uma piada, por exemplo, sobre autistas. Um humorista faz uma piada sobre o pensar neurodivergente. O ativista vai ‘gritar’ e denunciar o capacitismo do humorista. O militante vai defender o direito de o humorista fazer piadas. O primeiro defende o humano, o segundo a verdade absoluta sem questionamento.

O ativista é mais reflexivo, questionador; o militante rebate segundo a crença daquele que defende, sem questionar. Por não refletir, acredita que o ativismo é ‘mimimi’.

Ainda, ligar o ativismo aos partidos de esquerda é típico da militância: Generalizadora e dogmática. O fato do ativismo ser mais ligado à esquerda implica no fato da esquerda ser mais humanitária, mais dedicada em assegurar os Direitos Humanos porque pensa contextualizadamente e não genericamente, como a direita pensa. Ligar isso a partidarismos é ser, no mínimo, um reducionista.

Autismo e militância não combinam, não fecham a conta. A militância enxerga o espectro de forma linear, autistas que vão desde a genialidade até os autistas que ‘precisam’ de classe especial. O ativismo vê o espectro de forma não linear, acreditando nas potencialidades de todos, independentemente do nível de suporte que necessite, NÃO precisando de classes ou escolas especiais: basta ter acessibilidade.

Associar o ativismo com frases do tipo: “faz o nove”, “faz o L” é tipicamente um exemplo da militância não reflexiva. Não se trata de ter um político ‘de estimação’, trata-se apenas de estar em concordância com um tipo de governo que permita o pensar nas singularidades.

Ficou claro? Dizer que a luta contra o capacitismo e que as formas de igualar o autismo é mimimi, é resposta da militância repetidora de frases dogmáticas. Autismo é plural e não combina com linearidade.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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