13 de setembro de 2021

Tempo de Leitura: 2 minutos

Por Eliane Pedroso

Membra do Conselho de Ética da Onda-Autismo, Pós-graduada pelo Instituto Albert Einstein em Fronteiras da Neurociência e Juíza do Trabalho.

O aumento expressivo do número de diagnósticos de TEA tem como uma de suas causas correspondência direta com o autismo feminino.

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Considerado como um transtorno que acometia, predominantemente, meninos e que já recebia pouca dedicação da comunidade científica em geral em comparação a outros transtornos, o TEA só recentemente tem sido estudado em meninas, de modo que a solidificação do conhecimento científico em autismo feminino está ainda em seu princípio.

Foi assim que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA concluiu, não sem provocar bastante incômodo em profissionais menos atualizados na área da saúde, que, em 2020, a prevalência de crianças com TEA, que era de 1 para 166 no ano de 2004, atingiu 1 para 54. Em relação ao gênero, a prevalência também aumentou para 1 menina a cada 4 meninos, já havendo estudos que reduzem essa proporção para 1 menina a cada 3 meninos.

O incômodo que os dados sobre TEA tem causado gira também em torno das dúvidas sobre a fidelidade dos diagnósticos, o que tem travado um verdadeiro embate entre profissionais que, por um lado, têm-se atualizado no tema e ampliado um horizonte que sempre foi polêmico em medicina, e outros que supõem estar havendo um “boom” indiscriminado de diagnósticos.

Em meio a tanta discussão, têm crescido as próprias mulheres. Antes habituadas a terem pouca voz, nós mulheres passávamos a vida sem diagnóstico, tantas vezes só suspeitando do próprio autismo após o nascimento ou a adolescência dos filhos.

Vítimas de menor estudo científico, de uma sociedade em que impera o patriarcado e do olhar pouco atento às suas demandas e aos seus problemas, as próprias mulheres tiveram de abrir espaço para que finalmente percebessem que mulheres também podem estar na tríade do TEA e, simultaneamente, partilhassem da dificuldade de comunicação e interação social associada a comportamentos repetitivos e restritos.

São essas as características do autismo que foram adotadas pelo DSM-V e que devem ser avaliadas, gostem delas ou não. Elas podem estar presentes em homens ou mulheres, e tanto em pessoas nas quais predominem comportamentos externalizantes como internalizantes. Felizmente, mulheres autistas com comportamentos predominantemente internalizantes começam a ser cada vem mais diagnosticadas graças ao avanço da ciência. Porém, ainda, infelizmente, mulheres autistas com predomínio de comportamentos externalizantes recebem pouco diagnóstico específico e acabam sendo inseridas em diagnósticos mais palatáveis para a feminilidade: timidez, transtornos de personalidade, depressão e ansiedade.

Por isso, insistimos tanto na importância do diagnóstico. Não se trata de capricho ou embuste, mas do direito à saúde, minimizando riscos e prejuízos que o autismo possa gerar e maximizando as potencialidades e a qualidade de vida. Não se trata de querer fazer parte, mas de ser parte e, nesse contexto, ser aceita e aceitar-se com dignidade.

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Artista autista, Lucas Ksenhuk é autor de capa de edição 14 da Revista Autismo

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