20 de abril de 2023

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As notícias dos ataques às escolas estão se tornando cada vez mais comuns e estão colocando nossas crianças em pânico pelos novos supostos ataques. Muitas pessoas até, acusam, irresponsavelmente, os autores dos ataques como sendo pessoas ‘doentes mentais’, ‘deficientes’ e até autistas. Segundo pesquisas, o autista comete suicídio pelo bullying; em outra, citada pela deputada estadual Andrea Werner em seu discurso no plenário: “de todos os ataques de violência apenas 3% pode ser atribuído a pessoas com algum transtorno ou deficiência”. Que fique claro que a violência mais atinge pessoas com deficiência e autistas do que eles a protagonizam.

Mas por que escolas, muitos se perguntam? Escolas são o local de oportunidades, de ensino, de possibilidade de um futuro diferente e de sucesso. Para quem? Com certeza não para quem está em um lugar minoritário em nossa sociedade; com certeza não para quem é uma PcD, por exemplo. As crianças autistas, por exemplo, vêm sofrendo bullying há décadas e o que se faz contra isso? Quando suas falas são ouvidas e legitimadas, o ‘conselho’ dado é “Não ligue”; “não dê bola que ele cansa”. Aqui queria colocar um emoji de cara de espanto. Não passa. Não melhora. E quando a fala não é legitimada, a criança se encolhe, se apaga e teme pelas ofensas e possibilidades de violência física.

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Não há uma política de enfrentamento ao bullying nas escolas; não há sequer um esforço em buscar ajuda nos lares das crianças que praticam o bullying. Muitas crianças são expulsas das instituições de ensino, porém, essa atitude só resolve a situação daquela escola em particular. O praticante continuará com a mesma atitude, talvez até mais enfurecido em outro local.

Sem querer defender nenhuma forma de violência, mas é necessário olhar para o praticante do bullying e buscar ouvi-lo. Ao meu ver, precisamos entender de onde vem essa raiva e ‘abandono’. Que dores são essas que gritam em forma de ofensa e humilhação? Na prática do bullying, ninguém é ganhador. Há dor em ambos os lados. Não se lava as mãos diante de tal cenário.

A cada semana recebo, no mínimo, duas ligações de colegas pedindo ajuda sobre o que fazer com crianças autistas sofrendo violência nas escolas onde ninguém faz nada; nenhuma providência é tomada em termos de proteção dessas crianças e/ou jovens adolescentes. Desenvolver um bom diálogo com as escolas é uma excelente ferramenta quando se trabalha com crianças e adolescentes com deficiência e autistas. Nossa presença amigável e com constante demonstrações de disponibilidade para ajudar favorece a construção de estratégias que possam auxiliar no ambiente escolar como um todo.

Palestras de conscientização sobre o bullying aos pais e campanha para a valorização da testemunha do bullying são estratégias que devem ser usadas constantemente pelas escolas. Tratar o bullying não é apenas uma ação anual. É trabalho exaustivo e constante, sem brechas e sem descanso.

Racismo é crime, discriminação é crime. Não podemos tratar atos criminosos como ‘coisa de criança’. Bullying mata. Que isso fique claro para pais e escolas. A responsabilidade pela educação de uma criança com empatia e solidariedade começa em casa. Novamente, trago um curta que considero atemporal e extremamente sensível ao tema:

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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