13 de agosto de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

Antes de ensinar uma criança a se comunicar, é fundamental primeiramente perguntar: Por que as pessoas comunicam? A resposta pode parecer óbvia: para satisfazer necessidades, para socializar, para compartilhar informações, mas é mais complexa do que imaginamos — especialmente quando falamos sobre comunicação no contexto do Autismo.

Algumas crianças parecem naturalmente comunicativas, iniciando interações e buscando a atenção dos adultos ao seu redor o tempo todo. Outras só se comunicam quando realmente precisam de algo. Elas podem iniciar espontaneamente, responder quando alguém faz uma pergunta ou esperar alguém puxar uma conversa. Por isso, o primeiro passo antes de ensinar comunicação é entender: em quais situações a criança se comunica e com qual intenção?

Publicidade
Genioo

Pedir ou comentar: as duas grandes funções da comunicação

Imagine uma menina que quer assistir a um filme. Ela vai até sua mãe e diz claramente o que deseja. A mãe entende o pedido e coloca o filme para ela assistir. Nesse caso, a comunicação teve um resultado concreto: a criança pediu algo tangível e foi atendida. Chamamos isso de pedido, ou mando (do termo em inglês usado na Análise do Comportamento Verbal).

Agora pense em um menino pequeno sentado no sofá. Ele olha pela janela e diz animadamente: “Caminhão! Caminhão!” Ele não quer que alguém traga o caminhão — ele quer compartilhar a experiência, mostrar o que viu. Sua mãe responde: “Sim, é um caminhão!”, e ambos compartilham aquele momento. Aqui, a comunicação gerou um resultado social: atenção, validação ou envolvimento. Chamamos isso de comentário, ou tato (outro termo técnico da Análise do Comportamento).

Esses dois exemplos ilustram as principais funções da comunicação humana:

  • Pedir/Solicitar algo que se deseja ou necessita (pedido)
  • Compartilhar algo que se percebe ou sente (comentário)

Por onde começar a ensinar comunicação?

Quando planejamos o ensino de comunicação para uma criança com autismo, é importante considerar o que ela valoriza. Sabemos que para muitas crianças pequenas com autismo, recompensas sociais (como elogios ou atenção) ainda não são tão significativas quanto recompensas concretas (como brinquedos, comida ou objetos preferidos). Por isso, é mais eficaz começar ensinando como pedir — pois esse tipo de comunicação traz um reforço mais imediato e motivador.

Quando nos comunicamos? O papel do ambiente

A comunicação não acontece no vazio. O ambiente, as pessoas e os objetos ao redor da criança influenciam muito o comportamento comunicativo. Um exemplo comum em sala de aula pode ilustrar isso:

A professora, está comendo pipoca na sala. Três crianças entram e falaram pipoca.

  • Anna iniciou espontaneamente (A professora estava quieta)
  • Lucas respondeu a uma pergunta da professora? (O que você quer?)
  • Rodrigo imitou o modelo “pipoca” (Modelo falado pela professora “pipoca”)

Todas as crianças obtêm o mesmo resultado (ganham pipoca), mas seus comportamentos foram diferentes:

Essa variação mostra a importância de analisar quando a comunicação está ocorrendo: uma oportunidade espontânea, uma resposta a uma pergunta ou imitação de uma resposta

Conclusão: Ensinar comunicação é mais do que ensinar palavras

Ensinar uma criança a se comunicar não é apenas ensinar vocabulário. É compreender o porquê, o quando e o como a criança se comunica — e adaptar o ensino às suas necessidades individuais.

Para crianças com autismo, especialmente nos primeiros estágios, começar pelo ensino de pedidos pode ser o caminho mais natural e motivador. Com o tempo, à medida que a criança se desenvolve e ganha confiança, podemos avançar para funções mais sociais da linguagem, como comentários, respostas emocionais e até conversas.

Afinal, comunicar é conectar — e cada conexão é uma ponte em direção ao crescimento e à inclusão.

 

Agradecimentos

Agradecemos aos Criadores do PECS Andy Bondy, PhD, e Lori Frost, MS, CCC-SLP pela autorização para compartilhar conteúdo do curso de Habilidades de Comunicação Críticas. Isso foi essencial na elaboração deste artigo.

 

Referências:

  • BONDY, A.; FROST, L. Manual de Treinamento PECS: Sistema de Comunicação por Troca de Figuras. Newark, DE: Pyramid Educational Consultants, 2024.
COMPARTILHAR:

Fonoaudióloga, mestre em estudos linguísticos pela Universidade de Londres, tem curso avançado de autismo credenciado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Diretora geral da Pyramid Consultoria Educacional do Brasil, tem uma sólida experiência de trabalho com crianças e adultos com ampla gama de dificuldades de comunicação por razões variadas: físicas, mentais, sociais e emocionais. O primeiro curso PECS que frequentou foi em 2002 e desde então PECS tornou-se parte de sua prática diária.

Padres gêmeos recebem diagnóstico de autismo

Você sabe o que é neuroarquitetura?

Publicidade
Assine a Revista Autismo
Assine aqui a nossa Newsletter grátis
Clique aqui se você tem DISLEXIA (saiba mais aqui)