8 de outubro de 2025

Tempo de Leitura: 4 minutos

Muitos estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) enfrentam desafios significativos na comunicação verbal. A Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) — como o uso de figuras — tem se mostrado eficaz para permitir que essas crianças expressem desejos, sentimentos e opiniões, promovendo maior autonomia, participação e qualidade de vida.

Para garantir resultados reais e duradouros, é essencial optar por métodos com validação científica e respaldo técnico. Nesse sentido, destaca-se o Sistema de Comunicação por Troca de Figuras (PECS), criado por Andy Bondy e Lori Frost.

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Embora o chamado “PECS Adaptado” proponha uma abordagem funcional inovadora, ele ainda carece de evidência científica robusta, autorização oficial e replicabilidade em outros contextos. Em contrapartida, o PECS de Bondy e Frost tem uma estrutura clara, formação certificada e embasamento em centenas de estudos publicados, o que o torna uma prática baseada em evidência real.

Escolha o caminho que está alinhado com as pesquisas — para garantir que a comunicação seja funcional, ética e duradoura. Vamos falar um pouco sobre isso neste artigo.

O que é PECS?

O PECS — sigla para Picture Exchange Communication System (em português Sistema de Comunicação por Troca de Figuras)  foi desenvolvido nos Estados Unidos, no início dos anos 1990, por Andy Bondy e Lori Frost. É composto por seis fases progressivas, iniciando com a troca simples de figuras e evoluindo para a construção de frases completas, comentários espontâneos e respostas funcionais.

Atualmente adotado em dezenas de países, o protocolo mantém a mesma estrutura original em todos os contextos, mesmo quando adaptado culturalmente. Essa padronização garante precisão técnica e metodológica em sua aplicação.

No Brasil, pessoas que querem aplicar o PECS participam de um treinamento chamado Curso PECS Nível 1. Esse curso possui carga horária de 13 horas, distribuídas em dois dias, e é ministrado com licença exclusiva pela Pyramid Consultoria Educacional do Brasil, fundada pelos criadores do protocolo. A formação confere certificação reconhecida internacionalmente por organizações como IBAO® e QABA®. Esse credenciamento assegura que a aplicação do protocolo seja realizada de forma ética, documentada e fiel à metodologia original.

Evidência científica robusta

Desde a publicação inicial em 1994, o PECS acumula mais de 240 estudos científicos, incluindo revisões sistemáticas e meta-análises que comprovam ganhos na comunicação funcional, expansão do vocabulário, melhoria da interação social e redução de comportamentos desafiadores. Essa produção científica, com replicações independentes em diversos contextos, permite classificar o PECS como uma prática comprovada e baseada em evidência.

Cobertura por planos de saúde e recomendações médicas

A Resolução Normativa nº 539/2022 da ANS, em vigor desde 1° de julho de 2022, determina que os planos de saúde devem cobrir intervenções baseadas em CAA, como o PECS, quando indicadas por profissional médico.

Conforme descrito no site oficial:

“Métodos e técnicas indicados pelo médico assistente passam a ter cobertura obrigatória pelos planos de saúde.”
“[…] Entre elas, estão: o Modelo Applied Behavior Analysis (ABA), o Modelo Denver de Intervenção Precoce (DENVER ou ESDM), a Integração Sensorial, a Comunicação Alternativa e Suplementar ou Picture Exchange Communication System (PECS), dentre outros. A escolha do método mais adequado deve ser feita pela equipe de profissionais de saúde assistente com a família do paciente.”

Essa diretriz reforça que, quando acompanhado por prescrição médica e utilização responsável do protocolo oficial, o PECS original tem cobertura garantida.

Além disso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda o uso de instrumentos visuais, como o PECS, como parte das estratégias de intervenção precoce.A ISAAC Brasil, capítulo nacional da International Society for Augmentative and Alternative Communication, também reconhece o PECS como parte das intervenções oficiais de CAA, conforme publicado em sua cartilha sobre Comunicação Aumentativa e Alternativa, demonstrando o reconhecimento institucional do método.

E o “PECS Adaptado” (“Pessoas Engajadas Comunicando Socialmente”)?

Desenvolvido por Cátia Walter, o “PECS Adaptado” propõe a troca de figuras integrada a um currículo funcional em cinco fases. No entanto, essa versão não é autorizada pelos criadores do PECS original, difere na estrutura, e os valores divulgados baseiam-se em estudos com cerca de quatro participantes, geralmente acompanhados pela própria pesquisadora, sem grupo controle ou replicação independente.

Essa limitação inviabiliza que os resultados sejam considerados evidência científica comparável ao protocolo oficial. Até o momento, não há reconhecimento nacional ou internacional desse método.

Por que isso importa para pais, mães, donos de clínicas/instituições e profissionais?

  • A semelhança no nome PECS e PECS Adaptado tem causado muita confusão: muitas famílias acreditam estar usando o PECS original, mas aplicam uma versão sem comprovação científica.
  • A cobertura por planos de saúde só é assegurada para o PECS original, mediante prescrição médica e seguindo o protocolo de Bondy & Frost — versões não autorizadas não oferecem as mesmas garantias legais.
  • Para o uso do protocolo validado, os participantes devem fazer o curso para se certificarem legalmente e aprenderem a implementar o método conforme o protocolo.
  • A formação PECS oficial  garante fidelidade ao protocolo, aplicação correta e documentação profissional.

 

Recomendações práticas para garantir uma escolha segura

  1. Exija o curso PECS oficial ministrado por instrutores credenciados.
  2. Verifique se o Manual de Treinamento PECS está sendo utilizado: ele deve conter todas as seis fases originais do protocolo de Bondy e Frost, sem alterações.
  3. Informe ao plano de saúde que será utilizado o PECS oficial do  Bondy e Frost, conforme a RN 539/2022, com prescrição médica detalhada.
  4. Exija aplicação com rigor técnico, registros de progresso e supervisão contínua — o que é garantido no protocolo PECS oficial, mas não no adaptado.

Conclusão

O PECS do Andy Bondy e Lori Frost possui estrutura clara, evidência científica sólida e certificação reconhecida mundialmente. Hoje, é a opção mais segura para quem busca promover a comunicação funcional em pessoas com TEA com respaldo ético, jurídico e científico.

Já o modelo chamado “PECS Adaptado”, usado apenas no Brasil, ainda não apresenta evidência robusta, amostras significativas ou licenciamento, sendo recomendável cautela ao considerá-lo para uso clínico ou escolar.

A comunicação é um direito — e para que seja eficaz, deve estar respaldada por escolhas informadas, certificações oficiais e práticas reconhecidas internacionalmente.

Referências

  • BONDY, A.; FROST, L. PECS Training Manual: Picture Exchange Communication System. Newark, DE: Pyramid Educational Consultants, 2024
  • ISAAC Brasil. Cartilha sobre Comunicação Aumentativa e Alternativa. 2021. Disponível em: https://www.isaacbrasil.org.br
  • AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS). Resolução Normativa nº 539/2022. 2022.
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Fonoaudióloga, mestre em estudos linguísticos pela Universidade de Londres, tem curso avançado de autismo credenciado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Diretora geral da Pyramid Consultoria Educacional do Brasil, tem uma sólida experiência de trabalho com crianças e adultos com ampla gama de dificuldades de comunicação por razões variadas: físicas, mentais, sociais e emocionais. O primeiro curso PECS que frequentou foi em 2002 e desde então PECS tornou-se parte de sua prática diária.

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