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Quando uma pessoa no espectro do autismo experimenta dificuldade com a fala, famílias, educadores e profissionais geralmente procuram maneiras alternativas de apoiar a comunicação. O objetivo é sempre o mesmo: ajudar as pessoas a se expressarem e se envolverem de forma significativa com as pessoas ao seu redor. Mas encontrar um método de comunicação que seja eficaz e fácil de usar na vida cotidiana pode ser um desafio.
Duas opções comumente consideradas são a Libras (Língua Brasileira de Sinais) e o PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras). Cada um tem seu valor e desempenha um papel importante em diferentes contextos. Neste artigo, exploramos como cada método funciona, consideramos os pontos fortes e as limitações de ambos e compartilhamos por que o PECS pode ser uma opção mais acessível para muitos indivíduos autistas – especialmente aqueles que enfrentam limitações motoras ou cognitivas
O que é PECS?
O PECS é um sistema de comunicação visual que permite que os indivíduos se comuniquem trocando figuras. Os usuários começam aprendendo a solicitar os itens que desejam, mas com o tempo, eles desenvolvem habilidades mais complexas de comunicação, comentando, respondendo a perguntas e interagindo socialmente. Um dos principais benefícios do PECS é que ele não requer planejamento motor avançado ou fala, tornando-o uma opção prática para muitos indivíduos autistas.
O que é Libras?
A Libras é a língua de sinais oficial da comunidade surda brasileira. É uma linguagem rica e expressiva com sua própria gramática, transmitida por meio de movimentos das mãos, expressões faciais e gestos corporais. A Libras tem grande significado cultural e pode ser uma forma poderosa de comunicação para muitos surdos ou pessoas com deficiência auditiva.
Compreendendo as necessidades comunicativas
Ao escolher um sistema de comunicação para uma pessoa autista, é importante considerar não apenas a exposição à linguagem, mas também seus perfis motor, cognitivo e sensorial. Alguns indivíduos autistas apresentam dificuldades de planejamento motor – como apraxia ou dispraxia – o que pode dificultar a formação dos sinais com as mãos e expressões faciais necessárias para a língua de sinais.
Na prática, muitos profissionais e famílias descobrem que, embora algumas crianças autistas possam começar a aprender sinais, muitas vezes têm dificuldade em torná-los claros ou consistentes. Os sinais só são compreendidos por familiares próximos ou cuidadores, limitando uma comunicação mais ampla com outras pessoas da comunidade.
Além disso, como relativamente poucas pessoas fora da comunidade surda entendem a Libras, os indivíduos autistas que a usam podem encontrar menos parceiros de comunicação – especialmente em salas de aula inclusivas, ambientes comunitários ou espaços públicos. Isso pode dificultar os esforços para promover a independência e a comunicação espontânea.
“Não há dados suficientes para recomendar o uso da linguagem de sinais, sozinha ou em combinação com a fala, como um método para melhorar substancialmente a comunicação em crianças com autismo.” – Schwartz & Nye (2006)
Por que o PECS é o escolhido por muitos
Em contraste, o PECS foi projetado para ser acessível e funcionalmente simples, exigindo mínima coordenação motora fina. O sistema é amplamente utilizado em casas, escolas, instituições e clínicas, aumentando a probabilidade de que outras pessoas entendam e respondam às tentativas de comunicação do usuário.
A pesquisa apóia sua eficácia:
- Muitos indivíduos autistas aprendem a usar o PECS mais rapidamente do que a língua de sinais (Tincani, 2004).
- O PECS promove a comunicação funcional e pode ajudar a reduzir a frustração e comportamentos interferentes.
- Estudos também mostram ganhos na interação social e até mesmo no desenvolvimento da linguagem verbal ao longo do tempo (Nam & Hwang, 2016).
É importante ressaltar que o PECS pode ser usado de forma flexível em todos os ambientes e com vários parceiros, não apenas aqueles treinados em um idioma ou modalidade específica.
Uma perspectiva equilibrada
Isso não quer dizer que a Libras não tenha lugar na intervenção do autismo. Para alguns indivíduos autistas – particularmente aqueles com fortes habilidades visuais-motoras e acesso à comunidade surda – a linguagem de sinais pode ser uma ferramenta importante e empoderadora. Cada pessoa é única e os sistemas de comunicação devem ser adequados aos seus pontos fortes e necessidades.
No entanto, para muitos alunos autistas, especialmente aqueles com controle motor limitado ou dificuldades de processamento cognitivo, o PECS tende a ser mais prático, inclusivo e eficaz.
Conclusão: Apoiando a autonomia por meio da comunicação
O objetivo final de qualquer sistema de comunicação deve ser a funcionalidade: ajudar os indivíduos a expressarem seus desejos, necessidades, pensamentos e sentimentos de maneiras que os outros entendam. O PECS se destaca como uma ferramenta que apoia a independência, reduz a frustração e cria oportunidades reais de interação – tanto em casa quanto no mundo em geral.
Se você está considerando opções de comunicação para o seu filho ou aluno, observe como eles usam seus corpos, a que tipos de pistas eles respondem e com que facilidade os outros podem entendê-los. Pergunte: Eles podem usar esse método de forma independente? As pessoas saberão como respondê-los?
Em muitos casos, o PECS oferece um caminho para a comunicação acessível, baseada em evidências e alinhada às realidades diárias da vida com autismo. Com o suporte adequado, cada indivíduo deve encontrar sua voz – e é isso que realmente importa.
Referências
- BONDY, A.; FROST, L. Manual de Treinamento PECS: Sistema de Comunicação por Troca de Figuras. Newark, DE: Pyramid Educational Consultants, 2024.
- SCHWARTZ, J.; NYE, C. Improving communication for children with autism: Does sign language work? Evidence-Based Practice Briefs, 2006.
- TINCANI, M. Comparing the Picture Exchange Communication System and sign language training for children with autism. Focus on Autism and Other Developmental Disabilities, 2004.
- NAM, S.; HWANG, Y. Acquisition of Picture Exchange-Based vs. Signed Mands and Implications to Teach Functional Communication Skills to Children with Autism. Journal of Special Education Apprenticeship, 2016.