1 de setembro de 2019

Tempo de Leitura: 2 minutos

Nós, autistas, geralmente tendemos a nos centrar num assunto ou objeto com tal dedicação que podemos esquecer de todo o resto – é o chamado hiperfoco.

Mais do que um hobby, muitas vezes esses interesses nos são uma forma de recarga; uma zona de conforto organizada e fluida onde podemos imergir e desfocar do caos sensorial que é o mundo. Estudar astronomia, pintar ou treinar no piano por horas a fio no meu caso, por exemplo, é o maior refúgio para as minhas sobrecargas.

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O problema é que algumas vezes tais hiperfocos podem nos consumir por completo, o que leva muitas pessoas a se ligar nos aspectos negativos dessa nossa característica: a dificuldade em mudar de assunto e de perceber até que ponto isso é aceito, fazer/falar sobre coisas cotidianas (o “small talk”) e a tendência ao isolamento, tudo isso a ponto de interferir ainda mais em nossa socialização.

Mas há muitos aspectos positivos em se ter um hiperfoco: é uma forma de diversão, aumenta nossa autoestima (saber que somos bons em algo é muito encorajador!) e, como já disse, um refúgio durante o stress. E, no caso de crianças e adolescentes, pode vir a ser a área de trabalho no futuro! Portanto, ver o hiperfoco como algo patológico, passível de cura, é dizer-nos que ninguém se importa com isso. Nossos interesses significam muito para nós – temos uma forte conexão emocional com eles. O ideal seria buscar um equilíbrio, ensinando o autista a decifrar se a outra pessoa está interessada ou não na conversa e alternando o conteúdo da conversa para trabalhar a reciprocidade.

Quem dera meus pais tivessem descoberto ainda na infância que eu tenho ouvido absoluto , e tivessem então investido em aulas de piano para mim! Talvez hoje eu estivesse trabalhando de forma profissional com aquilo que mais amo e me dedico: a música.

É por isso que encorajo pais e profissionais a não só nunca desistir do hiperfoco, como também a fomentar as áreas de habilidades das mais variadas formas, como através de livros e brinquedos, falando sobre o assunto eventualmente ou realizando atividades educativas direcionadas para a área.

E não se preocupem quanto à intensidade de nossos interesses: quando estamos imersos neles, sem dúvida nos sentimos felizes, confortáveis e motivados a dar o nosso melhor!

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Associação Rondonopolitana de Pessoas com Transtorno Autista

Autismo, adolescência e sexualidade

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