19 de setembro de 2021

Tempo de Leitura: 3 minutos

Quem acompanha mais de perto a história do autismo também acompanha uma crescente no número de casos de pessoas com TEA no mundo. Até mesmo quem não está tão a par do assunto consegue perceber o aumento nessa incidência o que pode até levar a um pensamento equivocado sobre uma possível epidemia de autismo, como já ouvi por aí.

Mas a realidade é que essa ascenção não se deve a uma epidemia ou a modismo, afinal definitivamente o diagnóstico de TEA não tem a ver com “estar na moda”.

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A verdade é que atualmente os critérios para diagnóstico estão mais bem definidos e quando somamos isso com o fato de que temos profissionais melhores preparados para identificar tal condição é que chegamos as estatísticas que vemos atualmente.

Apesar do Autismo ser uma condição que permanece por toda a vida do indivíduo, sendo possível e inclusive indicado que se faça esse diagnóstico ainda na primeira infância, atualmente, pelos mesmos motivos supra citados, muitos adultos estão sendo diagnosticados tardiamente com essa condição.

Importante ressaltar que mesmo sendo diagnosticados apenas na fase adulta, essas pessoas sempre foram autistas, apenas não tinham um laudo profissional e por consequência, muitas vezes, também não tinham o acompanhamento adequado.

E aqui chegamos ao ponto da nossa pauta de hoje. Como é possível que alguém cresça e fique adulto sem que se perceba a sua condição de Autista?

Algumas coisas podem explicar isso. Pensando no próprio motivo citado para o aumento de diagnósticos atualmente, fazendo uma reflexão da cronologia pregressa, chegamos a conclusão que se hoje temos mais e melhores profissionais, no que diz respeito ao entendimento do TEA, há algumas décadas esses eram escassos e o acesso a um profissional capacitado para reconhecer o Transtorno era muito mais difícil.

Os manuais diagnósticos anteriores também não traziam tão claramente os aspectos a serem observados e não era incomum que pessoas autistas fossem diagnosticadas com outras condições ou até mesmo doenças como esquizofrenia, depressão, etc…

Mas ainda tem outro fator que acaba por dificultar. As máscaras sociais ou o “masking” que é como o termo é conhecido em inglês.

Muitos autistas costumam fazer uso desse artifício para tentar se enquadrar no contexto social. Isso é feito quase que inconscientemente, o que faz com que muitas vezes não apenas as pessoas ao redor não reconheçam a condição de Autista do indivíduo como também pode confundir profissionais no processo diagnóstico.

Às vezes a pessoa Autista consegue executar esse masking tão bem que passa a vida toda sem uma resposta para as questões inerentes a sua existência como pessoa neurodivergente.

Vejam que mesmo após o diagnóstico, sabendo de sua condição, alguns tendem a mascarar suas características autísticas, seja com intuito de não se sentirem diferentes, medo de serem excluídos ou mesmo por falta de aceitação própria.

Para os que não têm um diagnóstico então, essa máscara social vem muito mais forte pois ao mesmo tempo que não entende porque não é como os outros, acha que pode se inserir se agir como os demais.

Porém, isso tem um preço para o bem estar do cidadão, não sai de graça esse mascaramento. “Fingir” ser o que não é traz uma estafa, física e mental, que muitas vezes apenas quem convive mais intimamente ou a própria pessoa vivencia no seu lar os resultados disso.

E esses resultados vêm em forma de crises, dores no corpo, cansaço, desânimo, depressão, agressividade, isolamento e por fim, mais dificuldade de socialização.

Daí a importância do diagnóstico, mesmo que tardio, porque o autoconhecimento traz aceitação. E aceitação traz paz de espírito e pode livrar de culpas que muitas vezes nem eram suas mas que você carregava.

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Presidente da ONDA-Autismo e membro do Conselho de Autistas; ativista; administrador da página @autiesincero no Instagram, servidor público federal, palestrante e escritor.

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