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Interesse Especial x Hiperfoco. No contexto do autismo, esses são termos frequentemente usados. E, embora ambos estejam relacionados à forma como pessoas no espectro interagem com seus interesses, existem distinções importantes entre eles.
Interesse especial
Um interesse especial é característica central do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nada mais é que um fascínio profundo e duradouro por um ou mais temas, objetos ou atividades específicas. Para a pessoa autista, esses interesses podem ser uma fonte de grande prazer, conforto, segurança e até mesmo uma forma de autorregulação emocional.
Características do interesse especial:
- Duração prolongada: Geralmente, os interesses especiais duram por longos períodos. Aliás, podem se manifestar desde a infância e perdurar pela vida adulta. Além disso, eles podem ser recorrentes, com picos de interesse que voltam ao longo dos anos.
- Intensidade: A paixão pelo tema é muito mais intensa do que um hobby comum. Assim, a pessoa pode acumular uma vasta quantidade de conhecimento sobre o assunto. Certamente, ela dedica muito tempo à pesquisa, coleta de itens relacionados ou prática da atividade.
- Foco em detalhes: Há uma tendência a se aprofundar em detalhes e nuances do interesse. Resultado: a pessoa torna-se um verdadeiro especialista na área.
- Função: Muitas vezes, esses interesses servem como uma forma de lidar com a ansiedade, a sobrecarga sensorial ou a imprevisibilidade do mundo ao redor. Porém, o mais importante é que os interesses proporcionam uma sensação de ordem e controle.
Hiperfoco
O hiperfoco, por outro lado, é um estado de concentração intensa e absorvente em uma única tarefa ou atividade. Embora seja comum em pessoas no espectro autista, também pode ser observado em indivíduos com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e até mesmo em neurotípicos em certas situações.
Características do Hiperfoco:
- Estado mental: É mais um estado de alta atenção do que uma condição permanente. Então, a pessoa fica tão absorta na atividade que pode perder a noção do tempo e do ambiente ao redor. Logo, isso a leva a ignorar estímulos externos como barulhos, conversas ou até mesmo necessidades fisiológicas (fome, sede).
- Transitoriedade: Pode durar minutos, horas ou até dias, dependendo da atividade e do indivíduo. Não é necessariamente ligado a um “interesse especial” duradouro, embora possa ocorrer dentro de um.
- Dificuldade de transição: A pessoa em hiperfoco pode ter dificuldade em mudar de atividade, pois está totalmente imersa no que está fazendo.
- Produtividade (potencial): Quando direcionado de forma positiva, o hiperfoco pode levar a um aumento significativo no desempenho e na produtividade na tarefa em questão.
- Impacto na rotina: Se não for gerenciado, o hiperfoco pode interferir nas atividades diárias, como refeições, estudos, trabalho ou interações sociais.
Principais diferenças no interesse especial x hiperfoco
Característica | Interesse Especial | Hiperfoco |
Natureza | Característica central do autismo; fascínio duradouro. | Estado de concentração intensa; pode ser transitório. |
Duração | Longo prazo (meses a anos, recorrente). | Curto a médio prazo (minutos a dias). |
Vínculo com TEA | Fortemente associado ao TEA. | Comum no TEA, mas também presente no TDAH e neurotípicos. |
Impacto | Fonte de prazer, conforto, conhecimento e autorregulação. | Pode levar à produtividade, mas também a isolamento ou negligência de outras tarefas. |
Flexibilidade | Geralmente mais fixo em um ou poucos temas. | Pode ocorrer em diversas atividades, não necessariamente em um interesse profundo e único. |
Como lidar e aproveitar
Na relação Interesse Especial x Hiperfoco, observa-se que tanto o hiperfoco quanto os interesses especiais podem ser grandes aliados no desenvolvimento e aprendizado de pessoas autistas. A chave está em validá-los, compreendê-los e utilizá-los de forma construtiva.
- Para Interesses Especiais: Eles podem ser usados como ponto de partida para o aprendizado de outras habilidades (ex: usar o interesse em desenhos animados para ensinar leitura ou geografia), para estimular a comunicação e a interação social (compartilhando o conhecimento) e como estratégia de regulação emocional.
- Para o Hiperfoco: É importante estabelecer limites e estratégias de transição (alarmes, lembretes visuais) para evitar que ele prejudique a rotina e as outras responsabilidades. No entanto, quando bem direcionado, pode ser uma força poderosa para o aprendizado aprofundado e o desenvolvimento de talentos específicos.
Mas lembre-se:
Em ambos os casos, interesse especial x hiperfoco, a comunicação e a colaboração entre familiares, educadores e terapeutas são fundamentais para ajudar a pessoa autista a integrar esses aspectos de sua experiência de forma saudável e produtiva.