3 de maio de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

O neurocientista brasileiro Dr. Alysson Muotri, professor da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), tem se destacado por suas pesquisas inovadoras com organoides cerebrais, conhecidos como “minicérebros”. Esses modelos tridimensionais, desenvolvidos a partir de células-tronco, replicam aspectos fundamentais do cérebro humano e têm sido fundamentais para o estudo de transtornos neurológicos, como o autismo.

Desde 2019, Muotri e sua equipe têm enviado esses minicérebros à Estação Espacial Internacional (ISS) para investigar os efeitos da microgravidade no desenvolvimento neural. Esses experimentos visam compreender como o ambiente espacial influencia o envelhecimento celular e o funcionamento cerebral, fornecendo perspectivas valiosas para futuras missões espaciais e para o tratamento de condições neurológicas. Agora, o cientista se prepara para uma nova missão, prevista para acontecer até o final de 2026.

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CBI of Miami - 20250423

Em entrevista ao programa Eu Digo X, do Instituto Buko Kaesemodel, durante o Seminário Rio TEAma no Rio de Janeiro, Muotri enfatizou a importância de acelerar o amadurecimento dos minicérebros em laboratório como estratégia para antecipar diagnósticos e desenvolver tratamentos: “O modelo de minicérebro é muito bom pois segue o desenvolvimento humano. Com o tempo, o tecido cerebral vai amadurecendo como esperado no neurodesenvolvimento humano, o que é bom, mas não é prático. Acelerar esse desenvolvimento para entender como o tecido cerebral se comportara num estágio mais avançado é um desafio, que buscar uma forma de fazer isso em um período mais curto”, explicou.

Ele exemplificou com o caso de seu filho, Ivan, que é autista e começou a ter convulsões aos 7 ou 8 anos: “Como é que eu não consegui prever isso? Já tinha um minicérebro dele que não me mostrou que ele ia ter convulsão, pois era um minicérebro dos primeiros anos de vida. Se eu acelerasse, será que eu teria essa resposta?”, pontua

Muotri destacou a relevância de estudar minicérebros mais desenvolvidos para antecipar eventos futuros e testar tratamentos de forma eficaz. “Justamente olhar para o cérebro já mais desenvolvido, permitirá ser capaz de prever o que vai acontecer e ser capaz também de testar tratamentos de forma mais efetiva”, complementa.

A possibilidade de prever e prevenir comorbidades como a epilepsia, frequentemente associadas ao autismo, é uma das metas mais ambiciosas do trabalho. “Acho difícil falar em prevenção do autismo em si, porque não entendemos 100% da sua genética. Diferente da síndrome de Down, por exemplo, que pode ser diagnosticada ainda no útero, o autismo é mais complexo. Temos pessoas com mutações relacionadas ao autismo que vivem normalmente. Mas, se pudermos prever que uma criança vai ter epilepsia, será que conseguimos evitar que ela tenha? Essa é a pergunta”, refletiu Muotri.

Outra conexão importante apontada pelo cientista é entre o autismo e doenças como o Alzheimer. Ambas, em diferentes contextos, podem envolver a perda de sinapses — as conexões entre os neurônios. “Uma das primeiras características do Alzheimer é a perda de sinapses, que também aparece em alguns subgrupos do autismo. Então, encontrar mecanismos de estimulação sináptica que sirvam tanto para o tratamento do Alzheimer quanto para o autismo é algo que estamos explorando com muito potencial”, disse.

Muotri está particularmente empolgado com os resultados da terapia gênica, uma das frentes mais promissoras de sua pesquisa. Segundo ele, mesmo intervenções pontuais podem gerar efeitos notáveis. “Estamos conseguindo corrigir a genética em cerca de 10% dos neurônios do cérebro. Isso é suficiente para observar melhoras. Basta você ajudar de 5 a 10% dos neurônios e eles já começam a ter uma resposta positiva.”

Com os olhos voltados para o espaço, Muotri mantém os pés firmes na missão de trazer soluções para problemas muito terrenos — como a dor de famílias que buscam respostas para diagnósticos difíceis. O futuro da neurociência pode, literalmente, passar pelas estrelas. O Instituto Buko Kaesemodel tem muito orgulho de ter o Dr Muotri como parte de sua rede de conhecimento!

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