22 de outubro de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

Quando pensamos no que é mais importante para o desenvolvimento de uma criança autista — principalmente aquelas que não falam ou falam muito pouco — a comunicação sempre aparece entre as prioridades. E com razão, de acordo com Holland, artigo de 2023, “quase 30% dos indivíduos autistas não desenvolverão a fala ou terão um vocabulário tão limitado que não será suficiente para atender às suas necessidades comunicativas”. Portanto, é imperativo ensinar Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) de forma planejada, acessível e baseada em evidências.

Para mães, pais, cuidadores e professores, uma das maiores ansiedades é: como posso ajudar meu filho ou aluno a se comunicar melhor? É importante lembrar que a comunicação está muito além das palavras – é a ponte que conecta o indivíduo ao mundo e permite que ele expresse desejos, sentimentos, necessidades e pensamentos. Ensinar comunicação, portanto, não é apenas ensinar a falar. É ensinar a viver com mais autonomia, segurança e conexão.

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Um artigo recente de Maryanne Robertson, MS, CCC-SLP e Todd Harris, PhD, publicado em 2024 no Autism Spectrum News, fornece reflexões fundamentais sobre o que caracteriza um sistema de comunicação verdadeiramente eficaz para pessoas que não falam ou são minimamente verbais. De acordo com os autores, existem sete pilares que sustentam um sistema funcional:  Independência, Iniciativa, Precisão, Clareza, Especificidade, Exatidão, Eficiência, Alcance e Generalização

  • Independência e Iniciação: A criança deve ser capaz de iniciar a comunicação por conta própria, sem depender de adultos para iniciar a interação. Isso fortalece sua autoestima, promove a autonomia e a participação ativa no ambiente.
  • Inteligibilidade e especificidade: A mensagem precisa ser clara e específica o suficiente para que qualquer pessoa – não apenas familiares ou profissionais – possa entendê-la.
  • Precisão e Eficiência: Um sistema eficaz permite que a criança se expresse com rapidez e precisão (sabendo discriminar e selecionar as imagens necessárias), evitando frustrações e reduzindo comportamentos desafiadores muitas vezes associados à dificuldade de comunicação.
  • Alcance e generalização: As habilidades comunicativas devem ser utilizáveis em diferentes lugares e situações – em casa, na escola, na comunidade, com pessoas diferentes.

Esses sete elementos também são a base do Sistema de Comunicação por Troca de Imagens (PECS) – um método de CAA cientificamente comprovado usado em todo o mundo. O PECS ensina a criança a se comunicar de forma funcional por meio da troca de figuras, respeitando seu ritmo e promovendo gradativamente a ampliação de seu repertório comunicativo.

Quando oferecemos as ferramentas certas – como o PECS ou outras abordagens de CAA bem estruturadas – a comunicação floresce.

É fundamental que mães, pais, cuidadores e professores entendam que esse processo não pode esperar. Não precisamos – e não devemos – esperar que uma criança fale antes de começar a ensiná-la a se comunicar. Cada momento é uma oportunidade de construir conexão e, quanto mais cedo começamos, mais portas abrimos para crescimento, inclusão e uma qualidade de vida mais rica.

Conclusão

Ensinar comunicação é uma urgência – e, acima de tudo, um direito. Crianças autistas, com ou sem fala, têm muito a expressar. Quando oferecemos as ferramentas certas, eles encontram sua voz, começam a fazer escolhas, demonstram sentimentos e constroem conexões significativas com o mundo ao seu redor.

É de extrema importância que mães, pais, cuidadores e professores entendam que ensinar a se comunicar é uma responsabilidade compartilhada. Nunca é cedo demais (ou tarde) para começar. Quanto mais cedo iniciarmos esse processo, melhor. Se você mora com uma criança autista com dificuldades de fala, será altamente benéfico educar-se sobre as possibilidades que a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) oferece. Procure profissionais qualificados, participe de treinamentos, troque experiências. Promover a comunicação é um ato de amor, respeito e compromisso com o potencial único de cada indivíduo.

Bibliografia

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Fonoaudióloga, mestre em estudos linguísticos pela Universidade de Londres, tem curso avançado de autismo credenciado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Diretora geral da Pyramid Consultoria Educacional do Brasil, tem uma sólida experiência de trabalho com crianças e adultos com ampla gama de dificuldades de comunicação por razões variadas: físicas, mentais, sociais e emocionais. O primeiro curso PECS que frequentou foi em 2002 e desde então PECS tornou-se parte de sua prática diária.

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