Tempo de Leitura: 3 minutos
Quando pensamos no que é mais importante para o desenvolvimento de uma criança autista — principalmente aquelas que não falam ou falam muito pouco — a comunicação sempre aparece entre as prioridades. E com razão, de acordo com Holland, artigo de 2023, “quase 30% dos indivíduos autistas não desenvolverão a fala ou terão um vocabulário tão limitado que não será suficiente para atender às suas necessidades comunicativas”. Portanto, é imperativo ensinar Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) de forma planejada, acessível e baseada em evidências.
Para mães, pais, cuidadores e professores, uma das maiores ansiedades é: como posso ajudar meu filho ou aluno a se comunicar melhor? É importante lembrar que a comunicação está muito além das palavras – é a ponte que conecta o indivíduo ao mundo e permite que ele expresse desejos, sentimentos, necessidades e pensamentos. Ensinar comunicação, portanto, não é apenas ensinar a falar. É ensinar a viver com mais autonomia, segurança e conexão.
Um artigo recente de Maryanne Robertson, MS, CCC-SLP e Todd Harris, PhD, publicado em 2024 no Autism Spectrum News, fornece reflexões fundamentais sobre o que caracteriza um sistema de comunicação verdadeiramente eficaz para pessoas que não falam ou são minimamente verbais. De acordo com os autores, existem sete pilares que sustentam um sistema funcional: Independência, Iniciativa, Precisão, Clareza, Especificidade, Exatidão, Eficiência, Alcance e Generalização
- Independência e Iniciação: A criança deve ser capaz de iniciar a comunicação por conta própria, sem depender de adultos para iniciar a interação. Isso fortalece sua autoestima, promove a autonomia e a participação ativa no ambiente.
- Inteligibilidade e especificidade: A mensagem precisa ser clara e específica o suficiente para que qualquer pessoa – não apenas familiares ou profissionais – possa entendê-la.
- Precisão e Eficiência: Um sistema eficaz permite que a criança se expresse com rapidez e precisão (sabendo discriminar e selecionar as imagens necessárias), evitando frustrações e reduzindo comportamentos desafiadores muitas vezes associados à dificuldade de comunicação.
- Alcance e generalização: As habilidades comunicativas devem ser utilizáveis em diferentes lugares e situações – em casa, na escola, na comunidade, com pessoas diferentes.
Esses sete elementos também são a base do Sistema de Comunicação por Troca de Imagens (PECS) – um método de CAA cientificamente comprovado usado em todo o mundo. O PECS ensina a criança a se comunicar de forma funcional por meio da troca de figuras, respeitando seu ritmo e promovendo gradativamente a ampliação de seu repertório comunicativo.
Quando oferecemos as ferramentas certas – como o PECS ou outras abordagens de CAA bem estruturadas – a comunicação floresce.
É fundamental que mães, pais, cuidadores e professores entendam que esse processo não pode esperar. Não precisamos – e não devemos – esperar que uma criança fale antes de começar a ensiná-la a se comunicar. Cada momento é uma oportunidade de construir conexão e, quanto mais cedo começamos, mais portas abrimos para crescimento, inclusão e uma qualidade de vida mais rica.
Conclusão
Ensinar comunicação é uma urgência – e, acima de tudo, um direito. Crianças autistas, com ou sem fala, têm muito a expressar. Quando oferecemos as ferramentas certas, eles encontram sua voz, começam a fazer escolhas, demonstram sentimentos e constroem conexões significativas com o mundo ao seu redor.
É de extrema importância que mães, pais, cuidadores e professores entendam que ensinar a se comunicar é uma responsabilidade compartilhada. Nunca é cedo demais (ou tarde) para começar. Quanto mais cedo iniciarmos esse processo, melhor. Se você mora com uma criança autista com dificuldades de fala, será altamente benéfico educar-se sobre as possibilidades que a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) oferece. Procure profissionais qualificados, participe de treinamentos, troque experiências. Promover a comunicação é um ato de amor, respeito e compromisso com o potencial único de cada indivíduo.
Bibliografia
- BONDY, A.; FROST, L. (2024) PECS Manual de Treinamento: Sistema de Comunicação por Troca de Imagens. Newark, DE: Consultores Educacionais da Pirâmide
- Holanda, B. (2023). A AAC é essencial para indivíduos autistas que não falam.
- Robertson, M., & Harris, T. (2024). How to Best Determine If an Autistic Individual Is Using an Effective Communication System. Autism Spectrum News https://autismspectrumnews.org/how-to-best-determine-if-an-autistic-individual-is-using-an-effective-communication-system/