15 de junho de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Quando falamos de autismo, não falamos apenas sobre um aspecto. Falamos de pessoas que recebem o preconceito como parte de várias minorias. Falamos da cor da pele, da identidade de gênero ou sexualidade e da deficiência.

Numa edição da Revista Autismo de 2021, encontramos uma reportagem de Tiago Abreu que abre uma questão de extrema importância: a pressão social exagerada para experiências sexuais heterossexuais.

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Segundo um estudo australiano de 2018 apontou dentro de sua amostragem, comparado com um grupo controle que, 69,7% do grupo de autistas identificavam-se com a homossexualidade, bissexualidade e assexualidade contra 30,3% do grupo controle.

Taxas à parte, como tratamos a sexualidade dentro de casa e nos consultórios? Perguntamos aos meninos quando vão encontrar namoradas? Levamos os meninos para “casas suspeitas” para a primeira experiência sexual? Incentivamos nossas meninas a usarem maquiagem e vestidos sexys?

Não sei quanto a vocês, mas tenho aprendido que o respeito pelas pessoas não é parcial. Não se respeita apenas pela etnia, ou apenas pela deficiência, ou apenas pelo gênero. O respeito se dá pela pessoa como um todo, com todos os componentes que a formam tal qual ela é.

Esse bate papo não é sobre como, quando ou porque os autistas se identificam com esse ou aquele gênero, mas como você o recebe.

A questão sobre vivenciar a sexualidade, seja ela hetero ou homoafetiva, já é carga suficiente para um jovem adolescente. O desejo de beijar, ‘ficar’, transar. Quando o adolescente é autista, torna-se um pouco mais complexo pela questão do isolamento social, muitas vezes comum às suas vidas. Trabalhar com adolescentes é antes de tudo, trabalhar com seus próprios preconceitos; é entender que que estamos ali para ouvir, compreender e colaborar para que uma narrativa isenta de culpas seja construída.

“Paula, beijei.” Que legal, você queria tanto. Foi bom? “Foi, ele era bem bonitinho” Que ótimo. Como você se sentiu? “Feliz, agora, pelo menos não sou mais BV e posso investir nas meninas.”  Essa história é de um garoto. Esse pequeno trecho da sessão me fez pensar em quanto o beijar pode ser até mais importante do que a pessoa que se beija. E isso não define nada.

Nosso ouvir, sejamos pais, psicólogos, cuidadores, amigos, sociedade deve ser de respeito; um ouvir de aceitação pela pessoa como ela é e como se expressa.

No domingo, dia 11 de junho, tivemos em São Paulo a 27ª Parada do Orgulho LGBTQIAP+ sob o tema: Políticas sociais – Queremos por inteiro, não pela metade. Nossa conversa de hoje é sobre isso, nada pela metade; tudo por inteiro.

Ah, e como ninguém fica de fora: A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência auxiliou na preparação de um espaço mais elevado para descanso de pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida.

É isso pessoal. Meu recado de hoje: Ninguém fica de fora e tudo, sempre, por inteiro.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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