6 de março de 2023

Tempo de Leitura: 3 minutos

“Autismo não é doença!”

Essa é uma afirmação correta que muitos de vocês já devem ter ouvido por aí. De fato, autismo não é uma doença, mas sim uma condição de existência na qual a pessoa tem um desenvolvimento neurofisiológico considerado atípico, ou seja, diferente do que se considera o padrão.

Publicidade
ExpoTEA

Por ser uma afirmação verdadeira, não significa que seja de fácil compreensão, então é normal que ocorram dúvidas e questionamentos.

Já ouvi que não é doença porque não tem cura. Obviamente essa informação não está correta, pois não é o fato de não ter cura que define uma enfermidade. Muitas doenças de fato não têm cura. O contrário também já ouvi: não tem cura porque não é doença! E essa também é uma afirmação vazia, porque poderíamos citar diversas doenças que não têm cura e continuam sendo classificadas como doença.

Outra colocação que é comum de encontrar por aí é a de que, se não é doença, então por que tem tratamento? E todas essas questões acabam confundindo ainda mais tudo que cerca o autismo, e, por isso, é pertinente abordar o tema com clareza e simplicidade para que mais pessoas entendam.

Primeiramente, precisamos entender que qualquer condição de existência pode abrigar alguém doente. Para isso, basta definirmos o que é doença. Se analisarmos o que diz a OMS, a definição de saúde seria a de um completo bem-estar físico, mental e social. Sendo assim, podemos definir doença, por sua vez, como um conjunto de sintomas e sinais que podem afetar o bem-estar, seja num nível físico, mental ou mesmo social.

Logo, se uma pessoa autista está em sofrimento por questões relacionadas ao autismo, ela pode estar doente. E aqui temos um ponto importantíssimo que é preciso ressaltar. Notem que, quando digo questões relacionadas ao autismo, não necessariamente eu estou me referindo a questões inerentes ao indivíduo.

É preciso entender que alguém que sofre com falta de inclusão, com discriminação, preconceito e falta de acessibilidade diante da condição em que existe no mundo pode estar doente por questões extrínsecas, ou seja, pelo fato de sua condição não ser parte de um padrão de normalidade em que se pauta a sociedade.

E aí começamos a pincelar um entendimento mais amplo do que significa ser autista e quais são os tratamentos para o autista. E tem tratamento sim para o autista, independentemente da pessoa estar doente ou não. Mas o que é esse tratamento também precisa de um olhar mais amplo. Não existe apenas tratamento para o autista como também existe tratamento para o autismo.

Tratar o autista é dar condições para que a pessoa desenvolva seu máximo potencial, que pode ser além ou aquém do que um dia fora idealizado por um padrão típico de pensamento dos genitores ou de todos que o cercam. Tratar o autista é possibilitar um diagnóstico e uma intervenção precoce que propicie sua maneira atípica de evoluir sem que para isso ele tenha que parecer alguém típico.

Tratar o autista não é perceber um comportamento e buscar eliminá-lo, mas sim entender o motivo de tal comportamento e auxiliá-lo com o que estiver causando-o, se aquilo for prejudicial. Aí sim, pode-se pensar em mudar, eliminar ou ressignificar caso aquilo seja prejudicial à própria pessoa ou a outros, e não apenas porque parece esquisito.

Tratar o autista é entender que não é apenas “o” autista, mas que existe “a” autista e também outras apresentações que não se enquadram no “típico” autismo do menino branco. E tudo isso não deveria ter que ser pedir demais, porque uma existência diferente não é o mesmo que uma existência inferior, e nada disso citado é pedir muito para qualquer pessoa, logo, não há de ser pedir muito para alguém legitimamente atípico que não é menos do que qualquer outra pessoa.

Já o tratamento para o autismo vai além. O autismo se trata na sociedade como um todo. Não ser intolerante com as diferenças, entender a diversidade humana, aceitar a neurodiversidade como constitutiva da humanidade, eliminar os atos de discriminação e preconceito, respeitar o próximo, acolher todos os seres humanos como iguais respeitando suas diferenças e entender que o normal é sermos diversos. Afinal, é por causa dessas diferenças que caminhamos para frente enquanto humanos socialmente dependentes que somos.

O mundo não se faz só, a humanidade depende do todo, e a sociedade não existe e nunca existiu como algo hegemônico. Sempre que o ser humano tentou colocar uma forma de existir em detrimento de outras, tivemos retrocessos na nossa história, e paradigmas tiveram que ser quebrados para que pudéssemos crescer. Maturidade para aceitar que as diferentes formas de existir são o novo padrão de normalidade traduz qual o tratamento para o autismo na atualidade.

Por Fábio Cordeiro
Presidente da ONDA-Autismo

COMPARTILHAR:

Organização Neurodiversa pelos Direitos dos Autistas

Novo estudo pode ajudar a explicar por que o autismo é mais comum em meninos do que em meninas

Aracaju recebe evento sobre autismo

Publicidade
Assine a Revista Autismo
Assine a nossa Newsletter grátis
Clique aqui se você tem DISLEXIA (saiba mais aqui)