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A “Terapia ABA” está na boca do povo, especialmente como abordagem terapêutica de sucesso no desenvolvimento de habilidades e redução de comportamentos desafiadores com pessoas autistas. Mas essa é só a ponta do iceberg e quem não conhecer o iceberg inteiro vai ter dificuldade de entender (e trabalhar com) esse campo prático.
ABA é uma sigla do inglês Applied Behavior Analysis e é uma área aplicada de uma ciência maior, a Análise do Comportamento, que estuda como funciona o comportamento dos seres humanos, um estudo com princípios demonstrados em laboratório, desde comportamentos motores até emoções e pensamentos (que também são comportamentos).
Mas a vida real é diferente e por isso surgiu a ABA, o campo prático cujo objetivo é melhorar a qualidade da vida humana por meio da aplicação dos conhecimentos demonstrados experimentalmente. Há o uso da ABA para reduzir vício em jogos (função não aprovada pelo Tigrinho), melhoria de desempenho esportivo, desenvolvimento de criatividade e, claro, a famosa intervenção para indivíduos com transtornos do desenvolvimento, tais como o transtorno do espectro autista e a deficiência intelectual.
Essa ciência aplicada tem alguns princípios, as 7 dimensões da ABA (há uma oitava dimensão, mais atual, mas deixa para um próximo texto), que estabelecem o verdadeiro espírito dessa ciência: 1. Aplicada, 2. Comportamental, 3. Analítica, 4. Tecnológica, 5. Conceitualmente Sistemática, 6. Eficaz, e 7. Generalizável (Baer, Wolf & Risley, 1968).
Cada uma mereceria muitos textos, mas a mais importante (em minha visão) é a primeira, é a que compõe a identidade irredutível dessa ciência. A dimensão APLICADA indica que uma intervenção que se baseie em ABA sempre, sempre, sem nenhuma exceção, deve buscar um objetivo que seja SOCIALMENTE RELEVANTE para o indivíduo a quem estamos apoiando.
Isso quer dizer que um serviço baseado em ABA (seja clínico, educacional ou social) deve sempre compreender qual é o contexto social do aprendiz, pensar que comportamentos são socialmente relevantes para a melhoria de sua qualidade de vida e que estão alinhados com seus próprios valores (e de sua família) e apoiá-lo nesse desenvolvimento.
Muitos comportamentos podem ser socialmente relevantes para diferentes indivíduos, a depender das habilidades que possua e de seu contexto (idade, local em que vive, desejos pessoais, queixas…). Para alguns aprendizes pequeninos, é relevante desenvolver habilidades básicas, como brincar independente e social, imitação, atenção compartilhada, entre outros, enquanto para um adolescente com um quadro sutil, habilidades sociais de conversação, de realização de trabalhos em grupo e talvez até de um xaveco mais habilidoso seja o necessário. Em adultos, os apoios se deslocam desse eixo e podem variar para habilidades funcionais (como pegar ônibus, comprar coisas, organizar sua casa e rotina) e sociais complexas (como habilidades conjugais ou laborais), a depender do perfil.
Para além desses limitadíssimos exemplos, há muitos milhares de outros, mas quem decide o que é ou não é socialmente relevante para um indivíduo? Ele próprio e sua família. A ABA não é a capitã da vida de ninguém, é uma remadora, junto com os pais, a escola e outros serviços de apoio, todos em busca de uma qualidade de vida melhor para o atendido!
Referência
Baer, D. M., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1968). Some current dimensions of applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, 1(1), 91–97.