6 de junho de 2025

Tempo de Leitura: 2 minutos

No último dia 23, durante evento sediado na cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) finalmente divulgou os dados preliminares sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil, coletados durante o Censo 2022. O levantamento revela que, ao todo, o Brasil possui 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo.

Esse número corresponde a 1,2% da população brasileira, que é de mais de 212 milhões de habitantes. O estudo também mostrou que a maior incidência de diagnósticos ocorre entre homens (1,5%), contra 0,9% entre mulheres, com destaque para a faixa etária de 0 a 14 anos, que representa mais de 1,1 milhão de pessoas com diagnóstico.

Publicidade
Livro: Autismo — Não espere, aja logo!

Se, por um lado, a novidade foi bem recebida pela comunidade atípica, pois agora temos estatísticas nacionais sobre o autismo, e não apenas projeções superestimadas baseadas em dados norte-americanos, por outro lado os dados preliminares do Censo do IBGE revelam o tamanho dos desafios e das desigualdades no acesso ao diagnóstico que ainda existem no Brasil.

Ao se analisar o recorte por raça, a maioria da população diagnosticada se declara branca, somando mais de 1,1 milhão de pessoas. Por outro lado, 221,7 mil pessoas autistas se declaram negras. O mesmo tipo de disparidade aparece na taxa de escolarização: mais de 44% dos homens autistas estavam estudando, enquanto apenas 24% das mulheres autistas estavam na escola.

Uma crítica importante aos dados divulgados é a ausência de informações sobre o acesso da população autista aos serviços de saúde, bem como sobre seu perfil socioeconômico, incluindo renda e participação no mercado de trabalho. Essa ausência causa estranhamento, especialmente porque, em Goiânia, cidade onde moro, na segunda visita da recenseadora, foram feitas perguntas justamente sobre esses aspectos.

É compreensível que os atrasos no processo do Censo, realizado a cada dez anos, tenham prejudicado a elaboração de um questionário mais completo. No entanto, mesmo considerando os problemas estruturais e orçamentários enfrentados, a falta dessas estatísticas ainda surpreende. O autismo, embora muitas vezes diagnosticado na infância, também é uma realidade entre adultos.

Esses adultos crescem, consomem, trabalham e precisam ser acolhidos, mesmo quando apresentam menor necessidade de suporte, como é o meu caso. A impressão que fica é que o recorte divulgado atende, em parte, aos interesses da chamada “Indústria do Autismo”, ao fornecer dados que podem ser utilizados comercialmente para a venda de produtos e serviços, em vez de servir prioritariamente à melhoria da qualidade de vida da população autista.

Portanto, celebrar essa conquista é necessário. No entanto, a luta não pode parar. A partir de agora, nós, autistas, precisamos exercer nosso papel como cidadãos em um regime democrático. Devemos cobrar dos nossos representantes a criação de políticas públicas de inclusão que estejam alinhadas com a realidade brasileira.

COMPARTILHAR:

Jornalista, autista e ativista na luta antirracista.

A falta de acolhimento a autistas adultos

10 podcasts sobre autismo

Publicidade
Assine a Revista Autismo
Assine a nossa Newsletter grátis
Clique aqui se você tem DISLEXIA (saiba mais aqui)