17 de maio de 2025

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Uma revolução no diagnóstico do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) está em curso. Em entrevista ao Instituto Buko Kaesemodel, o neuropediatra Dr. Carlos Gadia, referência internacional em autismo, revelou que a aprovação do primeiro biomarcador para TEA pode transformar profundamente o acesso ao diagnóstico precoce e, consequentemente, à intervenção terapêutica.

Segundo Dr. Gadia, o novo recurso aprovado pela FDA (Food and Drug Administration) nos Estados Unidos é um programa chamado LuminEd Point, que utiliza rastreamento visual e inteligência computacional para comparar o comportamento visual da criança com padrões típicos e com testes padronizados do autismo. O método foi aprovado para uso em crianças entre 16 e 30 meses de idade. “É a primeira vez na história que temos um biomarcador para o autismo reconhecido oficialmente. E mais: é a primeira vez que o FDA aprova uma ferramenta como essa para diagnóstico do TEA”, destaca o médico.

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O impacto da tecnologia vai muito além da inovação: ela promete reduzir drasticamente o tempo entre os primeiros sinais e o início das terapias. Hoje, segundo o neuropediatra, a espera por uma consulta especializada pode ultrapassar um ano e meio nos Estados Unidos, chegando a dois anos no Canadá — prazos semelhantes aos enfrentados por famílias brasileiras.

“Imagine uma criança que apresenta sinais aos 18 meses e só consegue uma avaliação com 3 anos. Depois, leva mais 6 meses ou até um ano para iniciar a terapia. Estamos falando de crianças diagnosticadas aos 5 anos quando poderiam ser tratadas desde os 18 meses”, alerta Dr. Gadia.

Apesar dos avanços, o especialista aponta três grandes desafios estruturais no enfrentamento do autismo: a falta de formação adequada dos profissionais de saúde, inclusive médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas; distribuição desigual dos profissionais, concentrados em grandes centros urbanos; e baixa oferta de terapias de qualidade, o que abre espaço para intervenções mal executadas e exploração comercial. “Ainda temos muitos profissionais saindo da universidade sem qualquer formação adequada sobre TEA. Isso exigiria mudanças nos currículos das faculdades, algo que depende de políticas públicas e do Conselho Nacional de Educação”, explica.

Com a demanda crescente, Dr. Gadia ressalta que o papel das famílias continua sendo essencial. “Se não forem as famílias a se mobilizarem, a lutarem por direitos e mais acesso, não vamos sair do lugar. A mudança começa com informação, mas se concretiza com pressão por políticas públicas”, pontua.

Para o especialista, os avanços das últimas décadas são significativos, mas o caminho ainda é longo. A aprovação do biomarcador é uma vitória científica, mas a inclusão e o cuidado com o autista dependem de uma estrutura de apoio que precisa ser fortalecida no Brasil e no mundo.

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