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O ano de 2025 ficou marcado por questões públicos, políticas e científicas relacionadas a questões do autismo em saúde e educação, além de novos dados sobre autistas no país. A equipe do Canal Autismo / Revista Autismo manteve-se ativa em todo o período, fazendo cobertura dos temas mais discutidos dentro e fora do país. Trazemos aqui, então, os fatos que marcaram o ano de 2025 e tiveram repercussão dentro do Brasil.
Autismo no Censo
Em 2025, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os primeiros dados oficiais sobre autismo no Brasil a partir da amostra do Censo Demográfico 2022. Segundo o levantamento, 2,4 milhões de pessoas declararam ter diagnóstico de transtorno do espectro do autismo (TEA), o que corresponde a 1,2% da população com dois anos ou mais. A prevalência foi maior entre homens do que entre mulheres, com destaque para a faixa etária de 5 a 9 anos, na qual 2,6% das crianças foram identificadas com TEA.
Os dados também indicaram que mais de 760 mil estudantes com autismo estão matriculados na educação básica, sendo a maioria no ensino fundamental regular. As informações passaram a ser consideradas referência para o planejamento de políticas públicas nas áreas de educação, saúde e assistência social, além de ampliarem o debate sobre diagnóstico, acesso a serviços e inclusão.
CDC e prevalência de autismo
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) divulgou, em abril, novo relatório apontando prevalência de autismo de 1 em cada 31 crianças de 8 anos no país. O estudo analisou dados de crianças nascidas em 2014 em 16 regiões norte-americanas e mostrou aumento em relação ao levantamento anterior, que indicava prevalência de 1 em 36. Um dos pontos ressaltados por pesquisadores é que o crescimento da prevalência não indica necessariamente aumento de casos novos, mas ampliação da identificação e do diagnóstico.
EUA e as vacinas
Também em 2025, o CDC reformulou conteúdos de sua página oficial sobre vacinas e autismo, deixando de afirmar de forma direta que não há relação entre imunização e TEA. A mudança ocorreu após declarações do secretário de Saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., que há anos sustenta publicamente a existência dessa relação, o que contraria consensos científicos anteriores. A atualização gerou reações de pesquisadores e profissionais de saúde, que apontaram riscos de aumento da hesitação vacinal.
Paracetamol e autismo
O uso de paracetamol durante a gestação entrou no debate público em setembro após declarações do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao lado do secretário de Saúde, ele afirmou que o medicamento poderia estar associado a maior risco de autismo em crianças, e citou estudos ainda em discussão na literatura científica.
Celebridades
Em 2025, mais artistas e figuras públicas brasileiras falaram publicamente sobre diagnósticos de autismo ou suspeitas relacionadas à condição. A cantora Raquel dos Teclados anunciou diagnóstico aos 42 anos, enquanto o humorista Tiago Santineli relatou ter recebido diagnóstico de autismo nível 1 em vídeo publicado em seu canal.
O cantor Lobão também declarou acreditar ser autista, embora sem diagnóstico formal. As manifestações ampliaram a visibilidade do tema, especialmente sobre diagnóstico em adultos, mas também geraram debates sobre autodeclaração, avaliação profissional e responsabilidade na comunicação pública.
Quatro subtipos de autismo
Um estudo publicado na revista Nature Genetics identificou quatro subtipos de autismo com base em dados clínicos e genéticos de milhares de crianças. A pesquisa propôs perfis distintos dentro do espectro, considerando atrasos no desenvolvimento, comorbidades e padrões genéticos específicos. Os autores sugeriram que essa abordagem pode complementar as classificações atuais do DSM-5 e contribuir para o planejamento de apoios e personalização de intervenções. O estudo também reacendeu discussões sobre medicina de precisão e heterogeneidade do espectro autista.
Conflito da cadeira de autismo no Conade
O Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade) enfrentou, em 2025, disputas em torno da representação específica do autismo. Ativistas criticaram uma minuta que previa a substituição da vaga do autismo por uma categoria mais ampla, o que gerou manifestações públicas e tensões institucionais. Uma decisão liminar da Justiça Federal suspendeu a eleição para a vaga destinada às entidades representativas de autistas, após questionamentos sobre critérios do edital.
Autismo na Câmara dos Deputados
Assim como em anos anterior, parlamentares passaram a falar publicamente sobre seus diagnósticos de autismo. O deputado Marcos Pollon (PL-MS) relatou dificuldades de comunicação na política e afirmou utilizar recursos de autorregulação em situações específicas. A deputada Duda Salabert (PDT-MG) também anunciou diagnóstico recente, e associou o processo a maior compreensão de sua saúde mental.
Política do MEC sobre educação especial
A Política Nacional de Educação Especial Inclusiva, publicada em setembro, gerou críticas de diferentes correntes da educação inclusiva. Parte dos especialistas apontou falta de clareza sobre adaptações como o Plano Educacional Individualizado (PEI) e sobre a atuação do Atendimento Educacional Especializado fora da escola comum. Após críticas, o Ministério da Educação publicou modificações no decreto, incluindo menções mais explícitas ao PEI.
Autismo no SUS
Historicamente, parte da comunidade do autismo defendeu a existência de centros de referência sobre autismo, inclusive a nível nacional, o que enfrentou resistências por partes de agentes governamentais. Este ano, o Governo Federal anunciou a elaboração de um novo plano para o atendimento de pessoas autistas no Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta busca unificar diretrizes anteriores que tratavam o autismo ora como deficiência, ora como condição vinculada à saúde mental, organizando o cuidado de forma integrada. O plano prevê fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial, qualificação de profissionais, padronização de fluxos de diagnóstico e ampliação de Centros de Convivência. O objetivo é reduzir desigualdades regionais e consolidar um modelo de atendimento contínuo no SUS.
Tiago Abreu




