7 de julho de 2023

Tempo de Leitura: 24 minutos

Em entrevista, o idealizador do projeto, Tiago Abreu, faz uma análise e revive a jornada do ‘podcast onde autistas conversam’

Eles produziram mais de 200 horas de podcasts, com 155 convidados, em 260 episódios. O público fez meio milhão de downloads, fora os “plays” nas plataformas de streaming, como Spotify e outros. Depois dessa odisseia de produção de conteúdo em áudio, os integrantes do Introvertendo anunciaram que o podcast chegará a seu final. Serão mais 11 episódios até o encerramento, com o episódio derradeiro programado para daqui a algumas semanas, no dia 22.set.2023.

Em entrevista à Revista Autismo, o jornalista Tiago Abreu, idealizador do podcast, aborda a história do Introvertendo e os motivos do encerramento do projeto.

Publicidade
ExpoTEA

Entrevista

Revista Autismo: Lá em 2017, depois de uma reportagem e um radiodocumentário no curso de jornalismo, você teve aquele “clique” de começar alguma coisa que seria o Introvertendo, que você ainda não sabia, e que em maio de 2018 realmente tomou forma e você começou. Naquele momento, entre esse seu “clique” e você ter começado o Introvertendo, você tinha ideia pra onde iria esse projeto, da importância que ele iria tomar? Como é que você avalia hoje pensando naquele Tiago lá que começou talvez despretensiosamente e esse Tiago hoje que lidera um podcast que é um dos mais importantes hoje a respeito de autismo no país?

Tiago Abreu: Acho que tem dois caminhos: do ponto de vista do projeto em si e da sua longevidade. Eu acreditava que o Introvertendo poderia se consolidar como um podcast de autistas dentro da comunidade do autismo pelo fato de ter sido o primeiro de autistas, simplesmente por essa coisa dos pioneiros. Mas o fato de você ser pioneiro não significa que você vá ter longevidade, que você vai ter respaldo, que você vai ter uma certa relevância. E o que o Introvertendo alcançou com certeza foi muito acima das minhas expectativas.

Eu acho que o Tiago de 2017 não tinha grandes pretensões. Até porque eu sabia que podcast é um formato difícil, a audiência é baixa, tem vários outros desafios. Então tudo que a gente queria naquele momento, na verdade, era ter uma forma de expressão e de demonstração dos diálogos entre pessoas que compartilhavam um mesmo diagnóstico. A partir do momento em que a gente foi identificando o quanto o Introvertendo foi ganhando espaço, eu fui tendo a dimensão do que ele se tornou. Eu particularmente confesso que até hoje não consigo ainda entender com profundidade a importância do podcast na vida das pessoas ou pra comunidade do autismo, de uma forma geral.

RA: O que você acha que fez o sucesso do Introvertendo? O que você acha que foi a “fórmula mágica” do Introvertendo para atingir tanta gente, tanta audiência?

Tiago: É difícil creditar [o sucesso] a apenas uma coisa. Eu acho que foram uma série de elementos combinados com o fator do tempo. Mas se eu fosse destacar um, o principal seria a coletividade. Eu acreditava no Introvertendo como projeto por causa da interação entre autistas. Porque o que se tinha até aquele momento era um autista falando sobre suas vivências individualmente. Era blog, vídeo no YouTube, mas geralmente eram produções individuais. Eu acho que o segredo do Introvertendo é essa multiplicidade de visões, de perspectivas sobre o autismo, mesmo sendo todas pessoas no espectro. Isso acaba criando esse vínculo do público com o podcast.

Mas além disso, eu acho que nós surgimos no momento certo, num momento de transição da comunidade do autismo em que houveram mais autistas falando sobre autismo, que as próprias concepções sobre o autismo na sociedade começaram a mudar com as influências culturais. A gente surgiu também no boom dos podcasts. 2018 foi o ano que a gente surgiu e também foi o ano que o Spotify começou a integrar podcasts dentro da plataforma. A grande imprensa começou a falar mais de podcast. Então, foram uma série desses elementos, mas eu acho que tudo isso começou com a interação coletiva entre autistas. Acho que foi a cereja do bolo.

RA: Me fala um pouco dos números do Introvertendo. Qual a quantidade de episódios, horas gravadas, número de pessoas diferentes que participaram, números de episódios até o encerramento, quanto vai dar? Quantas horas de podcast, se a gente somar todos os episódios? E o total geral de downloads de todos os episódios.

Tiago: Em termos de horas, são mais de 200. De áudio bruto, não faço a menor ideia. São um total de 260 episódios principais, outros vinte episódios adicionais que são versões alternativas e episódios nunca lançados que vamos entregar aos fãs que nos patrocinam, sem falar nos trailers e especiais que não entram dentro dessa contagem. O Introvertendo teve mais de 500 mil downloads, e quase todo esse número foi de 2020 pra cá. Até o início daquele ano, só tínhamos 26 mil.

RA: Tiago, quando começou a ideia de transcrever os episódios e por quê? E quando surgiu a ideia também de fazer a versão em Libras? Como que foi pra você chegar nessa parceria com o Hand Talk e fazer tudo isso? Outra mudança que eu lembro que teve foi o lance de você colocar versões sem fundo musical ou com fundo musical bem baixinho pra quem se incomodava. Quando veio isso? E como foi esse processo?

Tiago: A questão dos episódios sem música de fundo veio primeiro, foi em 2019. A equipe do podcast recebia muita reclamação por email ou nas redes sociais sobre o volume das músicas nos episódios. Havia até comentários que deveria ser um podcast sem fundo musical. E eu interpretava isso como uma questão sensorial de muitos autistas, o que realmente era o caso. Mas também era um problema de edição. E aí pra compensar isso, mas não sair da experiência das músicas ali no início do podcast como recurso de humor, eu criei a versão do podcast sem músicas de fundo com essa função de atender esse público e ser uma forma de acessibilidade. Isso começou a ser desnecessário a partir do momento em que melhoramos a edição do podcast, começamos a cuidar mais do som e ter um áudio mais limpo. Foi um recurso que durou temporariamente ao longo de alguns meses de 2019. Em 2022, fizemos aquela campanha de limpeza dos áudios que acabou solucionando o problema das gravações e das edições dos episódios antigos.

Sobre a transcrição e o Hand Talk, foram todos na mesma época, em janeiro de 2020. Recebi a proposta de tornar o Introvertendo um podcast da Superplayer & Co em novembro de 2019. A empresa estava se preparando para lançar o seu braço de podcast, fazendo um infantil que é o Imagina Só. E a gente estava repensando algumas coisas do Introvertendo, como a qualidade da edição e produção. Mas a pauta da acessibilidade sempre foi um ponto muito relevante. E transcrever o podcast pra nós, na época, parecia um diferencial. No Brasil, podcasts de lançamento contínuo, como o Introvertendo, geralmente não investem em transcrição. Entramos nesse desafio de fazer as transcrições ainda em janeiro de 2020, focando nos episódios mais novos e fazendo os antigos retroativamente.

E aí, na mesma época, a Superplayer & Co já tinha uma relação com o pessoal da Hand Talk e fecharam uma parceria para poder integrar, dentro do site do Introvertendo, o plugin em Libras. Nós combinamos a transcrição com os efeitos da tradução em Libras, mas na prática, a transcrição e os recursos em Libras funcionam de forma independente. Tem muitos autistas que acompanham o Introvertendo lendo. Eles não gostam de áudio, não gostam de ouvir, mas eles acompanham as transcrições.

RA: Você falou agora da parceria com a Superplayer e eu queria que você contasse mais detalhes disso. Como é que isso aconteceu? Como que eles chegaram em vocês, como que eles se interessaram por ajudar e que ajuda exatamente que eles fazem?

Tiago: A Superplayer & Co é a empresa em que eu trabalho desde 2017. É uma startup de tecnologia que, nos seus primeiros anos, esteve muito focada no lançamento de aplicativos de streaming de música. E aí teve um momento ali em 2019 que a empresa começou a apontar em diferentes direções para diversificar os produtos e os projetos, e teve um período que foi decidido trabalhar com podcast. Dentro da empresa, a pessoa que tinha mais experiência com podcasts era eu. Eu já fazia o Introvertendo há um ano, mas nunca tinha sido um assunto dentro da empresa. Eu sou uma pessoa que, talvez pelo meu jeito, não sei, mas tem muitos aspectos da minha vida que pessoas do meu círculo social, seja amigos ou do âmbito do trabalho, não sabem. E esse universo do autismo não era assunto no meu trabalho. Mas aí quando eles falaram sobre estrear o setor de podcast, eu falei que eu tinha experiência e para explicar que eu tinha experiência com podcast eu falei do Introvertendo. E o pessoal achou o projeto bem interessante, mas ficou apenas nisso.

Quando o projeto dos podcasts começou a ser encaminhado, aí eles falaram: “o Introvertendo vai entrar”. Eles assumiram o processo da edição do Introvertendo. Eles não interferiram na parte editorial do programa. Apesar que, querendo ou não, no processo de profissionalização do projeto, a gente entrou nessa transição de falar apenas da experiência e também discutir o autismo do ponto de vista externo. Eles assumiram também a distribuição, porque todo podcast tem um custo de distribuição com o servidor. Eles investiram um pouco em marketing. Mas essa parceria full time durou mais ou menos um ano. No final de 2020, principalmente pensando em custos, foi alinhado que o Introvertendo ia ficar semi-independente. Eles iam continuar assumindo os custos da distribuição e eu comecei a ter de volta a edição do Introvertendo. Eu fui treinado pra isso, tive algumas aulas do Glauco Minossi, que é um engenheiro de som e produtor musical da cena gaúcha que editou o Introvertendo em 2020. Ele estava saindo para voltar a trabalhar no cenário da música e, antes de sair, me treinou para voltar a assumir a produção do Introvertendo e a qualidade da edição não cair como era em 2019. Depois disso, também continuei a aprender principalmente com o Adriano Quadros, que é músico, produtor e até hoje faz a parte de áudio da empresa.

RA: Quando o Introvertendo começou, eu lembro que você disse que ele era o único no mundo naquele momento. Como é o cenário hoje? Você tem noção hoje de autistas produzindo podcast no Brasil e no mundo?

Tiago: É uma ótima pergunta, porque eu falava isso no começo que o Introvertendo era o primeiro podcast de autistas do mundo e depois parei de falar porque parecia muito pretensioso. Mas a verdade é que em 2020, como proposta do meu mestrado, eu estudei o cenário dos podcasts sobre autismo no mundo e desenvolvi alguns relatórios sobre isso. E descobri que historicamente tivemos muitos podcasts sobre autismo feitos por profissionais. E todos os podcasts de autistas que existiram até 2018 eram por excelência individuais. Nesse formato de autista se reunindo, fazendo um “mesacast”, compartilhando diálogos, o Introvertendo de fato foi o primeiro do mundo, o que é uma coisa incrível. Porque a gente não tem o idioma mais falado, mas nós temos a cultura do “mesacast”. Por muito tempo, o podcast no Brasil foi caracterizado dessa forma. Isso também influenciou culturalmente como o podcast deve ser. E no caso, o Introvertendo acabou sendo pioneiro nesse sentido.

Também é uma coincidência muito grande porque logo um mês depois surgiram podcasts de autistas coletivamente em outros países falando em inglês, como o Them Aspergers. Mas mesmo assim, nos anos seguintes, a produção de autistas em relação a podcasts nunca foi muito prolífica, considerando os países de uma forma geral. A linguagem do podcast, por muito tempo, foi dominada mais pelos profissionais e os familiares não entravam muito nisso. Houve um crescimento expressivo de participação autista no mundo, mas a grande maioria são focadas em diários pessoais ou como se fosse um canal do YouTube de áudio.

No Brasil, por sua vez, o Introvertendo acabou apontando um formato que acabou influenciando produções posteriores. E isso também só se tornou possível a partir da pandemia, quando as pessoas começaram a identificar que poderiam gravar de forma on-line. A maioria dos podcasts de autismo que a gente tem hoje feito por autistas são em língua portuguesa. Nós temos claramente um cenário anormal em comparação a outros países neste formato do “mesacast”. Então eu lembro que em 2020 teve o Spectre, em 2021 o Lógica Autista, em 2022 o Atípicas (que tem um foco na questão de gênero que é bem interessante porque foge do padrão dos outros podcasts) e o Fractais e agora, em 2023, o Vixi… Autistei. Todos eles se baseiam na conversa, no compartilhamento das diferentes vivências.

RA: E você sabe dizer sobre a longevidade desses podcasts que surgiram logo depois de vocês?

Tiago: Eu vejo que houve uma “moda” do podcast. E ficou evidente quando brotou a pandemia. Todo mundo quis ter o seu próprio podcast. Não só no autismo, como também em outros âmbitos. São podcasts que se propõem a fazer algo e não conseguem dar conta do compromisso. E agora, este ano, as pessoas também começaram a fazer podcasts em vídeo, principalmente familiares de autistas. E há um contraste curioso. Enquanto os podcasts de autistas não trabalham tanto com a imagem, os podcasts de pais ou de pessoas externas a experiência em primeira pessoa do autismo, trabalham muito com a questão da imagem. E diferentemente dos podcasts de autistas, que tem essa tendência de trabalhar mais em primeira pessoa, eles também se apoiam muito numa figura de autoridade. Os episódios não são interessantes pelo tema em si, mas pelo convidado que está discutindo o tema. Há uma inversão, no meu entendimento. Se um programa por exemplo, como Introvertendo, pode soar atrativo pras pessoas por causa do vínculo que as pessoas têm com os membros fixos, com as discussões que são feitas, já nesses outros podcasts a audiência pode flutuar porque tem mais dificuldade de criar esse vínculo. Não estou criticando aqui a qualidade, estou fazendo uma constatação das diferenças entre esses dois projetos.

Tem algo que eu vejo como um problema. As pessoas identificaram que uma entrevista em vídeo é um podcast e isso é um erro. Podcast é um tipo de mídia que tem, como premissa básica, a distribuição por um feed RSS. Eu vejo que a galera tem falado muito de podcast, mas muitos ainda tem entrado nessa onda pela animação, por moda e não vê o quão desafiador pode ser manter.

Tiago Abreu: “Quando aquele episódio saiu, tinha certeza de que não tinha mais o que fazer para superar”.

RA: Você já pensou, em algum momento, em virar um videocast? Ou seja, fazer uma versão para YouTube como é a tendência de muitos podcasts?

Tiago: Olha, eu particularmente nunca cogitei diretamente fazer o Introvertendo como vídeo, porque o próprio Introvertendo já nasceu na linguagem do áudio. Alguns integrantes como Michael não se sentiriam confortáveis fazendo o material em vídeo. Ele nem usa foto nas redes sociais. Sempre acreditei muito nas possibilidades de recursos de edição que o áudio promove e a autonomia que ele te dá para fazer outras atividades enquanto ouve. O que eu queria era ter integrantes do Introvertendo fazendo vídeos individuais sobre autismo no YouTube. Era algo que a gente ia fazer a partir de 2019, mas cada um tem suas limitações de equipamento, de tempo, e essa ideia nunca vingou. Ao invés de fazer algo mais ou menos ou fazer muitas coisas com má qualidade, a gente preferiu focar e entregar apenas áudio. Claro que custa uma parte da popularidade. Muito do que o Introvertendo foi impedido de crescer ou de ser maior do que é tem a ver com isso, mas eu acho que é melhor ser fiel aos princípios e ao estilo que a gente começou.

RA: Quantas pessoas passaram pela formação do Introvertendo? Queria que você mencionasse a formação original, a formação atual e quem passou pelo programa que não esteja em nenhuma dessas duas formações.

Tiago: A formação original do Introvertendo foi muito influenciada pelo grupo terapêutico da universidade. E estabelecer essa lista é até um pouco difícil. Das pessoas que tinham uma maior participação dentro do grupo terapêutico, nós tivemos o Otávio [Crosara], eu, o Michael [Ulian] e o Marcos [Carnielo Neto]. Fora do grupo terapêutico, eu conheci o Luca [Nolasco], o via com frequência e quando ele teve o diagnóstico de autismo, eu levei pro grupo, isso já em 2017. Então, nós cinco tínhamos um trânsito entre nós, o Luca um pouco menos. Mas dentro do grupo terapêutico tinha várias outras pessoas que frequentavam o grupo com uma certa recorrência, entre eles o Abner [Mattheus] e o Guilherme [Pires], que já entrou dentro do grupo terapêutico muito perto da época que o Introvertendo surgiu. Eu costumo dizer que a primeira formação do Introvertendo tem cinco fundadores que sou eu, o Otávio, o Luca, Michael e Marcos com a adesão do Abner e do Guilherme. Como eles frequentavam o grupo terapêutico e era meio que “vamos gravar” e eles estavam lá presentes, acabavam gravando. O Abner só participou de dois episódios e depois não quis mais participar. E sobre o Guilherme, eu tive alguns atritos com ele, o que fez com que mais tarde eu chegasse à decisão, com o apoio do Otávio e do Luca, que era melhor ele não continuar no podcast. Na semana que o Introvertendo foi lançado, nós já tínhamos uma integrante adicional que tínhamos conhecido pouco tempo antes, a Letícia Lyns. Eu a conheci numa disciplina da UFG e ela topou gravar porque eu precisava também de participação de mulheres autistas. Dentro do nosso grupo terapêutico tinha só uma, a Any, mas ela não queria falar, e a Letícia topou e começou a frequentar o grupo a partir de mim. Apesar do primeiro episódio dela ter saído foi o episódio 8, ela já estava na formação quando a gente começou. Então essa é a formação original.

Na formação atual, os que sobraram foram três desses originais, eu, o Luca e o Michael. E tivemos a adesão da Thaís [Mösken] e do Paulo [Alarcón], que entraram em novembro de 2018. Depois, o Willian Chimura, que gravou desde 2019 e virou integrante oficial em 2020. E a Carol [Cardoso], que gravava desde o ano de 2020 e virou integrante oficial no início de 2021.

Quais são as principais diferenças entre as duas formações? A coisa no Introvertendo no início era mais incidental, até mesmo politicamente incorreta em alguns aspectos e não era tão voltada pros temas da comunidade do autismo. Quem tinha mais vivência com isso era eu. Perdemos pessoas como o Marcos, que era uma pessoa que o público gostava muito, que tinha opiniões ácidas, que às vezes era muito direto. E tivemos no lugar pessoas como a Carol e o Willian, por exemplo, que são mais voltadas para esses temas internos da comunidade. Eles deram essa linguagem. Entre essas duas formações, tivemos a Yara [Delgado], que passou por dois anos no podcast, de 2019 a 2021, e saiu por problemas de saúde, e a Mariana Sousa, que era namorada do Luca.

RA: Na sua opinião, quais os três episódios mais importantes do podcast? Queria saber também quais seriam os três episódios mais baixados ou mais tocados do Introvertendo.

Tiago: Com certeza isso é algo que tem uma variação na opinião de cada um. Grande parte dos integrantes não gostam de estabelecer o melhor ou pior, como a Thaís e o Willian. Os integrantes de uma forma geral tem uma dificuldade para mensurar isso, porque nós estamos falando sobre algo que é muito subjetivo. Mas eu, particularmente, vejo que nós temos alguns episódios que são marcadores de momentos diferentes que o podcast viveu e que definem a personalidade do programa. Um episódio que eu particularmente destacaria é o episódio 86 – O que é o autismo?, que foi praticamente a estreia do Introvertendo de 2020. Foi o momento em que saímos do patamar de podcast totalmente pautado pela experiência e começamos a tratar o autismo também tecnicamente.

E aí, já puxando um pouco mais recente, eu acho que o auge do Introvertendo, tecnicamente falando e em termos de linguagem, é o episódio 212 – Especial 4 Anos: Autistas Bêbados. Quando o episódio saiu, na minha concepção, ele era insuperável. Porque foi um episódio que trouxe a espontaneidade do início do podcast, trouxe a qualidade da edição, um esforço da minha parte, e é um episódio que provocou risos e lágrimas nas pessoas. É um episódio muito catártico, muito forte. Quando aquele episódio saiu, tinha certeza de que não tinha mais o que fazer para superar ele.

E o terceiro episódio é um pouco difícil, porque eu fico entre dois. Do ponto de vista pessoal, eu gosto muito do episódio 141 – Saudade (ou sobre não sentir saudade). Pelo tema, porque eu acho que é uma discussão original. Tinha uma relação muito grande com as coisas da minha vida pessoal naquele momento. E eu acho que é uma discussão atemporal sobre essa questão dos efeitos das dificuldades de interação social. Podemos ter mais políticas públicas, um avanço na discussão do autismo, mas tem coisas da forma como as pessoas sentem que não vai mudar ou que vão permanecer por mais tempo. E eu acho que a saudade reflete isso.

E a minha outra divisão é o episódio 216 – O enquadramento da experiência, que toca num assunto muito importante, que é exatamente essa coisa de você vir ser visto como uma pessoa que só pode falar sobre as suas experiências. Quando você realmente quer sair dessa redoma, você quer discutir política pública, você quer discutir temas mais complexos, as pessoas te descartam, esvaziam o que você diz meio como: “não, isso aqui não é pra você, deixa pra quem entende e realmente pode falar sobre o assunto”. Então, acho que esses episódios são muito, muito marcantes.

Sobre os episódios mais baixados, em primeiríssimo lugar disparado é o episódio 1 – Diagnóstico de Síndrome de Asperger, até porque grande parte do público que acaba conhecendo o podcast tem o primeiro contato com esse episódio. Em segundo lugar, nós temos o episódio 209 – TDAH e autismo, que saiu em 2022. Foi um episódio também bem popular. E em terceiro lugar, o episódio 194 – Autismo na infância sem diagnóstico.


RA: Sempre que você fala dos episódios no podcast respondendo as minhas perguntas, você sempre fala no número do episódio corretamente e sem demonstrar nenhuma dúvida. Você sabe todos os episódios, o número e o tema deles e muitos detalhes do que aconteceu no episódio? Se eu pergunto pra você agora qual o primeiro episódio com a participação de uma mulher, você vai saber o número e o tema ou se eu pergunto pra você quais são os episódios que tratam de temas relacionados à escola, você vai saber responder assim de bate pronto com o número do episódio e o nome do tema e se bobear quem participou, é isso mesmo? Pelo menos é a impressão que dá.

Tiago: Pior que sim (risos). É arriscado dizer “todos”, mas pelo menos a maioria eu sei. Parece uma grande habilidade, mas na verdade eu acho que isso também é consequência das várias etapas de produção de um episódio do Introvertendo. Nós temos a gravação, a edição e a transcrição. Depois que o episódio vai ao ar, eu gosto de ouvir em outro dispositivo para ver se a mixagem tá OK mesmo, se o negócio está legal. Então eu acabo tendo contato com um episódio do Introvertendo muitas e muitas vezes. Então acho que isso ajuda um pouco a lembrar de imediato o número, o título e quem participou. Você perguntou, por exemplo, qual é o primeiro episódio do Introvertendo que tem uma participação de uma mulher. Se o critério for qualquer mulher, é o episódio 6 – Um papo com Álvaro Oiano, que tem a participação da mãe dele e da professora Ana Flávia. Se for com uma mulher autista, é o episódio 8 da Letícia Lyns. Dos episódios de vida escolar, nós temos vários episódios como o 194, temos reportagens como o 82. Realmente, eu sou meio assim e o Luca até já brincou comigo dizendo que ele tem ódio dessa habilidade que eu tenho.

RA: Eu sei que o tempo que você dedica pra um episódio vai variar com muitos fatores, mas em média quanto tempo você acha que você investe da sua vida para um episódio do introvertendo?

Tiago: Da minha parte, um episódio do introvertendo me faz gastar cerca de 10 a 15 horas por semana. Isso fora do ambiente de trabalho, né.

RA: Outra curiosidade que eu tenho, Tiago, é em relação às mensagens de ouvintes que vocês recebem. Eu imagino que vocês possam ter recebido mensagens engraçadas, mensagens de pedidos de ajuda e até mensagens de sugestão de pauta, de elogio, né? Eu queria que você resgatasse as mensagens que mais chamaram atenção.

Tiago: A questão dos e-mails sempre foi muito importante pro podcast e isso influenciou a composição da equipe. Ao longo desses anos, nós recebemos muitos elogios, pedidos de ajuda e a maior parte desses pedidos de ajuda foram indicações de profissionais. Nós vimos pessoas que nem falaram qual era o lugar de onde elas moravam, onde elas viviam para nos dar alguma referência. Então muitos desses pedidos de ajuda que nós recebemos foram pouco efetivos. Mas nós vimos relatos de pessoas em situações muito delicadas dentro de casa, situações financeiramente difíceis ou que viviam em contexto em que as pessoas não eram acolhedoras e o podcast era uma forma de ter esse vínculo, nem que seja virtual. Também recebi relatos de pessoas dizendo que exatamente essa multiplicidade de conversas e perspectivas sobre o autismo era o que faziam elas se encantarem pelo projeto. Recebi também sugestões relacionadas a edição do conteúdo, como eu disse anteriormente, mas eu acho que os e-mails que mais me marcaram foram aqueles que de fato trouxeram uma mudança dentro do podcast. E aí quando eu falo sobre essas mudanças, eu me refiro principalmente a duas entradas. A Thaís foi a primeira ouvinte do podcast que realmente atribuiu vários feedbacks, ela mandava e-mails longos sobre os episódios. Eu achava os e-mails tão interessantes, mas tão interessantes, que eu queria trazer ela como convidada no episódio 26 – Mercado de trabalho, que foi a estreia dela no introvertendo. O mesmo caso foi com a Carol Cardoso. Ela enviou um e-mail em 2019 sugerindo um tema sobre autistas e manifestações. E eu achei muito original. Achei que ela foi uma pessoa muito gentil conversando diretamente com ela. E aí eu e o Willian chamamos ela como convidada no episódio 115 – Autistas em protestos e manifestações?. E daí o resto é história. Então, graças a esse contato com o público, nós conhecemos pessoas incríveis. De forma geral, com raríssimas exceções, a gente sempre recebe mensagens carinhosas e gentis das pessoas. Introvertendo nunca foi muito alvo de haters. Seria até injusto da minha parte reclamar.

RA: Qual foi a maior dificuldade de manter o podcast durante a pandemia?

Tiago: Eu acho que a pandemia foi um fator de peso muito grande relacionado ao próprio fim do Introvertendo. A pandemia reconfigurou completamente a comunidade do autismo. Isso permitiu, obviamente, que as pessoas dentro das suas casas observassem mais o conteúdo digital, mas também tirou muitas possibilidades. Naquela fase, entre 2019 e 2020, tínhamos eventos para participar, uma possibilidade de expandir fronteiras e divulgar o projeto, de fazer o podcast conhecido além da comunidade do autismo e tudo isso falhou. Por causa da pandemia, todas as pautas relacionadas eram sobre ela, os eventos foram cancelados e isso foi muito frustrante pra gente. Eu fui impactado pela pandemia de uma forma que eu só entendi de fato como reagi, depois que ela passou. Eu me aprofundei no trabalho de produção para fugir dos problemas do mundo. E isso me trouxe problemas de saúde que eu vou carregar pelo resto da vida, como uma Síndrome do túnel do carpo. Tudo isso veio em torno de um trabalho e dedicação em excesso pro Introvertendo. Não foi o contexto mais saudável.

RA: Eu queria entrar agora na despedida do podcast. Por que parar? Por que encerrar? Você acha que não tem mais tema? Qual foi o motivo, qual foi a reflexão e como foi a discussão interna disso? Eu imagino que vocês tenham bastante fãs, de pessoas que acompanham e que gostariam de mais temas, mais episódios e tudo mais.

Tiago: Da minha parte, o Introvertendo sempre funcionou com base em muito planejamento. Quando o podcast foi lançado, tinha previsto que a gente ia durar com certeza 2 anos porque eu queria que o episódio 100 coincidisse com o nosso aniversário de 2 anos. Desde aquele momento do aniversário em 2020, eu fui conversando com alguns integrantes. Tão importante lançar o projeto, ver que ele está dando certo, é saber a hora certa de parar. Eu vejo o Introvertendo como uma banda. Tem bandas que sabem o momento de parar e conseguem preservar o seu próprio legado. E tem bandas que se desgastam com o tempo, manchando a sua própria obra.

Em 2021, depois de tanto tempo da pandemia, eu estava muito desgastado, e já estava tendo conversas com alguns integrantes, principalmente o Luca e a Carol e comentando em reuniões com o pessoal, de que provavelmente o podcast não ia durar muito tempo. Também acho que é importante acrescentar que eu estive e estou bastante cansado. São 5 anos fazendo o Introvertendo intensamente, lançando semanalmente, vivendo o podcast e não podendo me dedicar a um ou outro grande projeto. A única exceção foi o meu livro de neurodiversidade que eu consegui fazer em tempo recorde. Porque eu sempre acreditei que o Introvertendo deveria ter a melhor qualidade. E pra fazer o Introvertendo eu abri mão e negligenciei muitas coisas na minha vida pessoal, como relacionamentos e vida social. Só para você ter uma ideia, eu passei este primeiro semestre de 2023 inteiro com a saúde mental em frangalhos e com problemas de saúde física, e não pude parar totalmente por causa do podcast. E agora já temos um retorno à vida presencial, o que muda muitas coisas. Querendo ou não, todos nós mudamos. Nós envelhecemos. São só cinco anos, mas são cinco anos que refletiram muitas coisas. Eu particularmente já não estou com o mesmo espírito e o mesmo ânimo pra fazer o podcast como eu tinha cinco anos atrás.

Recapitulando, em dezembro de 2021, eu cheguei para o pessoal em reunião e falei: “vamos fazer o podcast até 2023”. Essa foi a proposta. Não foi uma ordem, mas de certa forma foi a última palavra porque eu sou o editor do podcast. Eu apresento, edito, transcrevo, distribuo nas plataformas. Então tinha duas opções: ou a gente encerrava o podcast em 2023 ou eu saía do podcast e eles encontravam um novo integrante que ia suprir esse papel que eu tinha, o que era bem difícil de conseguir. Mas ao mesmo tempo, os integrantes foram compreensivos quanto a isso e concordam comigo. Porque está todo mundo muito ocupado. A Carol está em pleno mestrado, o Willian está finalizando o mestrado. O Paulo tem dado passos para o doutorado dele. A Thaís e o Michael estão muito imersos no trabalho. O Otávio infelizmente saiu do podcast este ano por problemas de saúde mental e pelos vários compromissos na vida dele. O Luca está fazendo cursinho de medicina e está com uma disponibilidade muito baixa. Em termos de vontade de fazer, eu percebo que tanto a Thaís, o Paulo e o Michael são pessoas que conseguiriam e gostariam de fazer o podcast por mais tempo. Mas eles também encararam isso tudo muito bem, com tranquilidade. Então há um consenso entre a gente de que mesmo talvez se pudéssemos lançar mais coisas, todos nós estamos em momentos da vida que nos permitem parar agora.

Mas mesmo que a gente estivesse com toda animação, com toda a empolgação do mundo, eu acho que o podcast está à beira de um desgaste em relação a temas. Eu sempre anotei as sugestões de temas do podcast dos fãs. E, considerando tudo, teríamos cerca de 350 episódios pelo menos. Mas quando a gente se reuniu em dezembro de 2021 para falar sobre o fim do podcast, foi para fazer uma progressão para esse final com nível de qualidade mais exigente ainda, para que a gente terminasse em alta. E isso fez com que os temas que nós consideramos realmente bons de gravar dessem menos de 300. Então, de qualquer forma, nós teríamos que parar. Além desses 260 que vão sair, a gente no máximo conseguiria só mais uns 10 a 20 bons temas.

E realmente acredito que não parar é tentador, mas a gente precisa pensar na consistência do projeto e também ver que muitas vezes é melhor parar e ver quão bonito isso foi do que prolongar, arriscar e depois não ser exatamente no mesmo nível do passado. E como o Introvertendo nunca deu dinheiro que cobrisse os nossos custos (e esse também é um dos motivos do nosso fim), não temos a tentação de continuar fazendo podcast só por causa de grana.

No final das contas, o fim do Introvertendo não é o cancelamento do projeto. Nós trabalhamos por um ano e meio nisso de forma que seja uma conclusão do Introvertendo. Não é uma ação precoce, foi uma decisão que nós tomamos há muito tempo e trabalhamos com tranquilidade, em silêncio, pra anunciar agora.

RA: E como esse final do podcast foi planejado? E quais são os temas que vocês escolheram para os episódios de despedida?

Tiago: Inicialmente, a minha ideia era encerrar o Introvertendo no episódio 256, para brincar com aquele negócio de 256 bits, e fazer o final do Introvertendo de surpresa. Só que em dezembro de 2022, eu fui assistir o show do Skank na turnê de despedida deles. E eu fiquei muito inspirado, não só pelo show, mas também como eles administraram o próprio fim da banda. Além do mais, eu acompanhei o Samuel Rosa falando sobre o fim do Skank em entrevistas, e percebi a sobriedade e o cuidado sobre o legado do próprio projeto. E eu pensei: era isso que eu queria de fato fazer pro Introvertendo. Por isso, cheguei a conclusão de que seria muito anticlimático e até um pouco desrespeitoso com o público pegar todo mundo de surpresa. E vendo com a equipe, acabamos por fazer esse anúncio com o lançamento de 11 episódios finais.

A nossa ideia foi de fazer uma despedida que contivesse um pouco de tudo que o Introvertendo fez. Episódios um pouco mais despretensiosos e livres (como vai ser um de procrastinação), episódios mais técnicos e teóricos (como um que eu quero fazer sobre as vertentes da neurodiversidade), episódios de temas polêmicos (discutir sobre a tal da romantização do autismo), também falar de questões do desenvolvimento do dia a dia de autistas que é uma coisa que interessa muito as pessoas (como a questão das habilidades sociais). Também vamos lançar um episódio para discutir a nossa história como autistas na escola. Os episódios dessa última fase foram pensados com base em temas fortes e relevantes. Seria errado o Introvertendo encerrar sem falar sobre eles, alguns inclusive sugeridos por pessoas que apoiam a gente.

E pra abrir essa fase, eu resolvi fazer uma versão sonora de um texto da Carol Cardoso, que ela me apresentou no início deste ano, sobre a história de vida dela. Achei o texto muito bonito, foi um texto que me emocionou. Era um texto que, se o Introvertendo durasse mais tempo, era pra ser o nosso especial de fim de ano de 2023. Por isso, a fase de despedida se inicia com um episódio narrativo. Enfim, é um passeio pelas diferentes faces do Introvertendo, dos diferentes estilos, tem participação de todos os integrantes atuais com a adição de pouquíssimos convidados. A ideia é ser um papo mais entre a gente mesmo. E a maioria das pessoas que aparecem nessa fase de despedida são pessoas chaves da história do podcast. O objetivo é entregar esses episódios como um presente pros fãs, concluindo o programa da forma como ele merece.

RA: Como é que foi a importância desse processo todo, desses anos fazendo podcast?

Tiago: Eu vejo que a principal importância foi uma melhor compreensão sobre o autismo por parte dos integrantes no que se refere àquilo que é do autismo e o que que é da sua própria vivência. Eu vejo que os autistas, de uma forma geral, tem uma tendência a generalizar a sua própria experiência como uma experiência de todo o espectro do autismo. E no podcast a gente sempre lidou com o contraponto e eu acho que isso faz com que você tenha uma visão mais sóbria das coisas. Acho que o podcast também foi uma ferramenta de interação social. Dos 5 anos do introvertendo, 3 foram em contexto de pandemia. E conseguimos ter um pouco um do outro durante esse período. Acho que o podcast também foi uma forma de estabelecer vínculos profissionais, porque a gente também não se viu somente como pessoas a compartilhar experiências sobre o autismo, mas de alguma forma promover conhecimento para outras pessoas. O que vai ficar um pouco é o registro desse amadurecimento que a gente teve. É um amadurecimento curto, ao longo de 5 anos, mas é tanto episódio, afinal mais de 250, que as pessoas vão conseguir perceber, acredito eu, progressivamente do primeiro até o último episódio.

RA: O que você classifica que seja o maior legado que o Introvertendo deixa, analisando assim toda a história, agora que a gente está nessa reta final finalizando?

Tiago: O Introvertendo representa, pelo menos nesse momento, o estado da arte de um momento muito importante da comunidade do autismo que começou na década passada mas continua em movimento, que é essa emergência da discussão do autismo pelos próprios autistas. Mas não de uma forma que esteja centrada nos clichês ou simplesmente nos assuntos pontuais. E nos permitiu fazer debates que vão ser duradouros. Eu não gosto da lógica das redes sociais. Eu não gosto da ideia de você compor um texto, publicar no Instagram e em cerca de dois dias aquele texto não ter mais função nenhuma, não ser lembrado, não repercutir. Isso não ocorre com o podcast. É um tipo de mídia que tem uma longevidade muito maior. Um episódio que nós lançamos em 2019 pode continuar a render comentários das pessoas até hoje. E eu realmente acho que o nosso empenho tecnicamente em termos de áudio é diferente. O nosso padrão de referência nunca foi o que era feito na comunidade do autismo. Queríamos um podcast que estivesse no mesmo nível de qualquer podcast brasileiro, independentemente do nosso nicho. E eu acho que isso permite com que a qualidade que o Introvertendo alcançou em termos de discussão, em termos de estética, em termos de técnica, faça com que ele vá durar muito mais tempo, que ele demore para envelhecer. Nós ficaremos datados, não podemos controlar o tempo. Mas eu realmente acho que o que fica do podcast são episódios que vão resistir muito mais ao tempo do que simplesmente publicações em redes sociais ou vídeos que, pouco tempo depois, são esquecidos.

RA: E quais são seus planos após o fim do Introvertendo?

Tiago: Ideias não faltam. Eu quero produzir mais artigos sobre autismo, que é uma coisa que eu não consegui fazer tanto com a questão do Introvertendo. Eu tenho um projeto de livro para o ano que vem sobre podcasts brasileiros. Ou seja, não tem nenhuma relação direta com autismo. E eu preciso de tempo pra me dedicar para ver se é viável. Eu quero fazer doutorado e pretendo fazer o processo seletivo ainda este ano. E, ao mesmo tempo, eu tenho sentido a necessidade de dar um tempo da comunidade do autismo. Uma coisa que eu acho muito adoecedora é essa exigência de estar sempre online, de estar sempre disponível, de estar todos os dias conectado. Tenho sentido muita necessidade de dedicar a aspectos da minha vida que eu não pude dedicar esses 5 anos de Introvertendo. Eu queria muito aproveitar agora esse fim da pandemia para retomar a minha vida social, pra estar de novo perto de amigos que eu não vejo há 3, 4 anos, me permitir não publicar nada por muito tempo e realmente ter um tempo sabático.

Eu confesso que eu não consigo ficar parado. Desaparecer, acho que não vou. Mas se eu pudesse fazer uma aposta, eu acho que meus principais planos são descansar, fazer doutorado e quem sabe produzir um livro. E fora isso, eu quero continuar fazendo o Espectros, que eu gosto bastante. Gosto do formato e gosto do fato dele ser mensal, que também me permite ter um ritmo muito mais saudável. Gostaria de fazer vídeos no YouTube e continuar o canal do YouTube do Introvertendo por mais de um tempo, mas também não pra sempre. E por fim, também gostaria bastante de continuar palestrando, que é uma coisa que eu gosto de fazer e já faço sempre que é possível.

 

CONTEÚDO EXTRA

COMPARTILHAR:

Editor-chefe da Revista Autismo, jornalista, empreendedor.

Beneficiários do BPC/Loas voltarão a contar com empréstimo consignado em agosto

Eu Digo X: Julho é o mês de dizer X!

Publicidade
Assine a Revista Autismo
Assine a nossa Newsletter grátis
Clique aqui se você tem DISLEXIA (saiba mais aqui)