5 de setembro de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

O podcast Introvertendo, feito por autistas adultos e voltado a discutir vivências no espectro, publicou na sexta-feira (5) o episódio 272, intitulado Habilidades Sociais – parte 1. A conversa contou com participação de Brendaly Januário, Bruno Frederico Müller, Izabella Pavetits e Marx Osório, todos diagnosticados com autismo.

Os participantes refletiram sobre os desafios das interações com neurotípicos e sobre as estratégias usadas para lidar com diferentes contextos sociais. “Antes de ser diagnosticada, lembro do meu mestrado, quando precisei fazer pesquisa de campo. Eu ficava apavorada, porque tinha muita dificuldade de chegar nas pessoas. Então eu usava uma pessoa de apoio, quase como uma sombra, para conseguir interagir. Eu voltava para casa muito esgotada”, relatou Brendaly.

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Bruno comentou que festas eram especialmente difíceis: “Eu nunca sabia como me enturmar. Ficava aliviado quando tinha um cachorro ou um gato, porque eu preferia interagir com eles. Outra dificuldade era distinguir contextos: eu repetia piadas que meus amigos faziam mesmo na frente dos pais deles, porque não percebia que havia diferença de comportamento”.

Izabella descreveu como se sentia antes mesmo de qualquer interação: “Eu já sofria antecipadamente, pensando em como me portar, o que falar, o que fazer com o rosto. Muitas vezes ouvi que eu parecia brava, quando na verdade estava apenas com a minha expressão natural. Habilidade social também é sobre expressão facial, e isso sempre foi muito difícil para mim”.

Marx, que ficou responsável pela apresentação do episódio, argumentou a importância de observar padrões para conseguir acompanhar conversas: “Os neurotípicos não pensam sobre a interação, eles apenas interagem. Eu comecei a observar como cada grupo se comunica e isso me ajudou a entender o básico e a não parecer totalmente perdido. Mas de vez em quando as autistadas vêm, porque a gente nunca vai deixar de ser autista. Mas não é mais uma constante, é uma coisa pontual. E claro, se eu estiver desregulado, sai de perto (risos)”.

Bruno acrescentou que, após o diagnóstico, ficou apenas mais consciente das dificuldades. “Percebi que olhar nos olhos é interpretado como sinal de sinceridade, respeito e atenção. Mas isso não significa que seja fácil. Eu me treino para não desviar o tempo todo, mas não consigo sustentar o contato visual por muito tempo”. Já Brendaly contou que passou a lidar de outra forma após receber o diagnóstico: “Eu parei de mascarar tanto. Isso me deixava muito cansada, e hoje me sinto mais à vontade ao dizer que sou autista. Assim, as pessoas compreendem melhor porque não olho nos olhos ou porque preciso de apoio em certas situações”. Os participantes também discutiram a frustração com o timing das conversas. “Às vezes encontro coragem para falar, mas o assunto já mudou, e eu fico frustrada. Isso vira um ciclo, porque continuo pensando na fala que perdi e me desconecto do que está acontecendo”, disse Izabella.

O episódio também trouxe reflexões sobre a importância do repertório social. Marx lembrou de uma experiência com uma pessoa autista que desconhecia sobre assuntos banais, como personalidades públicas, como a cantora Melody. “Muitos autistas ficam presos ao hiperfoco e não acompanham conversas sobre temas gerais, o que dificulta a interação. Buscar repertório ajuda a não ficar perdido em grupos”, disse ele. Brendaly comentou que esse aspecto se tornou até uma ferramenta em sua vida. “Eu gosto de ler muito e estar por dentro de vários assuntos. Isso me ajuda a entrar em conversas, até em momentos de flerte, porque consigo responder e me conectar de algum jeito”, contou.

O episódio está disponível para ser ouvido em diferentes plataformas de podcast e streaming de música, como Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Amazon Music e CastBox, ou no player abaixo, além de uma versão em vídeo no YouTube do NAIA Autismo. O Introvertendo também oferece transcrição de seus episódios e uma ferramenta em Libras, acessível para pessoas com deficiência auditiva.

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