31 de agosto de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Por que as outras crianças se afastam do meu filho ou de mim? Essa pergunta tão dolorosa e perturbadora é uma constante nas sessões com os pais, ou mesmo com os autistas.

A exclusão não se dá apenas na falta de acessibilidade escolar, na comunicação ou ainda nos atendimentos. A exclusão é social. Muitas vezes, começando em casa, seja com o abandono paterno após o diagnóstico, seja pelas festas de família, seja pelo abandono dos familiares em ‘não sei cuidar dele’.  Depois, é apenas uma continuidade da mesma exclusão: falta de empatia, de respeito e de informações. Condições perfeitas para o bullying.

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É fato que a comunicação social no autista é um enorme desafio para todos e, como tudo na vida, é uma via de mão dupla: Neurotípicos não são exímios comunicadores como querem acreditar. Dizem o que não sentem, fazem o que não acreditam, como disse recentemente Edinho de Kwant em post recém publicado por sua mãe Fatima de Kwant. Não é fácil decifrar as mensagens subliminares e, muitas vezes contraditórias vivenciadas na comunicação social.

Outro ponto relevante, trazido a tona recentemente pela deputada Andrea Werner é que ‘autista fala demais’: fala sobre seu hiperfoco sem prestar atenção no interesse do outro, fala demais a verdade, expressa seus gostos ou impressões sem se dar conta que possa estar invadindo ou depreciando alguém e, até mesmo se afasta das pessoas quando não vê interesse no que conversam. Lucas Pontes, também recentemente e em seu Instagram, traz a ‘grosseria’ como um dos rótulos do autista. Filtro social é a resposta.

Não podemos deixar de avaliar os dois lados da moeda. E não se trata aqui de ‘adequar’ o autista, mas sobre tornar transparente que sua parte da relação também é importante para o sucesso da relação social. E como isso é possível já que os desafios são tão intensos no dia a dia do autista? É trabalhar um pouco de tudo, todo dia ao mesmo tempo. É um exercício infinito de olhar para o outro e olhar para si.  É entender que olhamos para o mundo como aprendizes de nós mesmos e do outro.

E como fazemos isso com crianças pequenas? Que sofrem porque não foram convidadas para a festinha do amigo? Aqui perguntamos, quem, sofre mais: a mãe ou a criança? É importante saber para que possamos entender o que acontece com nosso filho e os coleguinhas. Conversar com as outras mães sobre como nos sentimos, perguntar como se sentem e como essa ‘aldeia’ poderá colaborar para uma comunicação social mais efetiva.

Autista não é vítima per se. Ele pode ser vítima da falta de acessibilidade, vítima de bullying, vítima da falta de atendimentos e, até mesmo vítima da invisibilidade; mas é tão responsável pelo sucesso de uma relação quanto a outra parte. Obviamente, essa responsabilidade não é de fato 50-50; seria se vivêssemos em um mundo ideal de equidade de oportunidades. Mas cabe aos adultos: professores, pais, cuidadores, profissionais, auxiliar no equilíbrio dessa responsabilidade cada vez mais.

Colocar o autista em um lugar de responsabilidade é coloca-lo em um lugar não capacitista e auxiliá-lo a enfrentar os desafios de um mundo neurotípico.

 

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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