13 de outubro de 2025

Tempo de Leitura: 2 minutos

Pouco falada mas concreta, é a existência de um lado B do maternar típico ou atípico. Mesmo que pareça que há um contrato velado sobre a romantização do maternar. Fato é, que assim que nasce a mãe, nasce também a culpa. É como se a mulher tivesse todo o poder do mundo para ter um bebê, criar um ser humano e conseguir prever toda essa jornada para selecionar todas as ferramentas necessárias ao processo de um desempenho bem sucedido sempre e para sempre.

O maternar (típico e atípico)

A verdade é que nada disso existe. Entretanto, por muito tempo a mulher abaixou a cabeça para essa ideia de super poderes. Quer seja por anuência, certa subserviência ou por vaidade mesmo. Até quando as mulheres eram direcionadas a serem mães e tão somente mães, havia uma rede de apoio para seu amparo. A comunidade toda participava dessa ‘criação’ dos 9 ou 20 filhos. Padre, vizinhos, dono da mercearia do quarteirão, família e até a escola.

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Com o crescente acúmulo de atividades imposto pela contemporaneidade sem os respectivos suportes, a mulher passou a viver na culpa e, a cada geração pós ‘baby boom’, uma nova tentativa era colocada em prática. De pais durões, violentos até, passamos a pais permissivos, além da tentativa de terceirizar as mil e tantas atividades ainda impostas, na sua maioria, somente à mãe. Não houve, até hoje, outra metodologia que não envolvesse a ‘tentativa e erro’. Algumas vezes, acertamos e outras tantas erramos.

O lado B do maternar típico ou atípico

O que não faltam a esse lado B do maternar são os juízes dessa jornada. Assim, a mulher continua no foco do julgamento, embora os homens tenham dado um passo no sentido de se responsabilizarem, também, por essa educação dos filhos. As sentenças partem das premissas que:

  1. Existem mulheres que trocam os filhos pela carreira
  2. Algumas não estão preparadas para as mudanças que a maternidade traz
  3. Existem aquelas que, simplesmente, não nasceram para ser mães
  4. Os lares estão desfeitos pois o casal é muito egoísta e a mulher não faz as devidas concessões para o equilíbrio familiar.

O lado B é um caminho tortuoso

E por aí vai. A lista pode ser cruelmente longa, mas fato é que até as mulheres que optam por não serem mães, sofrem o rigor do olhar alheio. Os números apontam que a mulher moderna prioriza a carreira para depois ser mãe. Passa a ter seus rebentos, então, depois dos 30 anos. E quando esse rebento arrebenta para a adolescência ou vida adulta, a depender do caso, o filho questiona a mãe e assume a autoria da lista de ‘defeitos’ do maternar.

A cobrança vem, assim, travestida até mesmo de um trauma que o transformou ou o transformará para sempre. Geralmente, nesses casos, essa transformação é negativa e a culpada apontada. Sério? É como se o fator escolha não existisse para a pessoa adulta, ali depois dos vinte e pouco anos. Até parece que até aquele momento, o filho tenha ficado somente sob a influência da mãe.

E aquela mulher que, ao ser mãe tenta fazer o melhor que pode, dentro de determinado contexto, com as ferramentas que tem é apontada agora, também pelo filho. Há algum tempo, escrevi aqui em nosso espaço o artigo em que respondo os filhos, em especial a minha menina. O adeus da mãe é a confiança no filho“Filha, eu te amo muito. Porém, eu não posso ser a responsável por sua felicidade e, nem ao menos, por seus sofrimentos. Assumir essa responsabilidade é o que nos torna adultos. Lidar com ela, nos garante o amadurecimento.” Sem mas e nem mais.

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Jornalista e relações públicas, diagnosticada com autismo, autora dos livros "Minha Vida de Trás pra Frente", "Dez Anos Depois", "Camaleônicos" e "Autismo no Feminino", mantém o site "O Mundo Autista" no Portal UAI e o canal do YouTube "Mundo Autista".

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