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Hoje quero falar sobre IA, Autismo e Flerte. È que, há tempos, minha jornada em terapia tem focado em um ponto crucial da minha vida: o amor. Sempre foi meu “calcanhar de Aquiles”. Afinal, nunca soube demonstrar interesse genuíno. E para ser sincera, sempre tive dificuldade em ler as intenções dos outros. Pior ainda, tenho uma dificuldade que beira o patológico em dizer “não”. Por conta disso, por muito tempo, eu me contentei em ser escolhida, em vez de escolher. Isso me levou a experiências dolorosas. E, em alguns casos, abusivas. Mas a boa notícia é: essa página virou. Minha prioridade agora é me fortalecer, para só então me lançar novamente no mundo dos relacionamentos.
E foi nesse novo capítulo que algo interessante aconteceu na última sexta-feira.
Minha mãe e eu temos um ritual semanal: ir ao cinema para assistir ao filme que vamos comentar em nosso canal. Na penúltima vez, notei um rapaz bonito, com uma voz e um tipo físico que me agradam, recebendo os ingressos. Como minha mãe se incomoda com multidões, sempre chegamos cedo. O rapaz, muito educado, nos direcionou para uma “fila paralela”. Mais tarde, minha mãe me contou que, enquanto eu estava distraída com o celular, ele me deu uma boa olhada, de cima a baixo. Um bom sinal, certo?
Um passo fora da zona de conforto envolvendo IA, autismo e flerte
Na última sexta, lá estávamos nós de volta ao cinema, para o novo “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado”. E adivinha? O rapaz estava lá de novo! E como era a primeira sessão do dia, a sala estava vazia. Minha timidez é lendária, e minha natureza mais conservadora sempre me fez acreditar que a iniciativa deve vir do homem. Mas até eu sabia que, por estar trabalhando, ele jamais faria isso. Foi então que descrevi a situação ao Gemini e perguntei o que fazer.
A inteligência artificial sugeriu que era uma ótima oportunidade para me aproximar, com sutileza. No entanto, o roteiro de conversa que me foi dado parecia… um pouco invasivo. Dizer a um estranho que ele era charmoso e passar meu telefone? Não era para mim. Então, adaptei a sugestão para algo que me parecesse mais adequado, respirei fundo e fui em frente.
Primeiro, perguntei sobre o horário da sessão, para quebrar o gelo. Depois, com a voz um pouco trêmula, mas firme, disse que sempre o achei muito educado e que, por isso, gostaria de pegar o número dele, quem sabe para uma amizade. Ele gaguejou. Perguntei: “Não pode?”. E ele respondeu que por ele, super passava, mas “tem uma alguém que não deixa ele fazer isso”. Bingo! Entendi na hora: ele tinha namorada. Ele se desculpou, mas o tranquilizei, dizendo que essas coisas acontecem.
Minha experiência com IA, autismo e flerte trouxe mais leveza que frustração
Confesso que, depois desse “fora”, me senti mais alegre do que decepcionada. Afinal, eu havia desafiado meus próprios limites e obtido uma resposta tranquila. Algo que talvez eu nunca soubesse se não tivesse me arriscado. Achei fofo que ficou claro que ele também tinha interesse, mas estava realmente comprometido. E, portanto, impedido de seguir aquele flerte.
Além disso, essa situação me mostrou que posso ser atraente para alguém que, pelos padrões sociais, é considerado muito bonito. Digo isso porque, apesar de vários caras lindos já terem demonstrado interesse em mim, eles geralmente me objetificam. O que me incomodava profundamente! Por isso, as pessoas próximas sempre me diziam que meus namorados eram, proporcionalmente a mim, “muito feios”.
Essa experiência me mostrou que posso e devo me valorizar e me apropriar da minha feminilidade para buscar o amor em um perfil que faça sentido para mim. E, sim, tive a percepção de que, se mediada com consciência, a inteligência artificial pode ser uma aliada para nós, autistas, nesses processos.